Workshop UNESCOM aborda o uso dos memes de internet no contexto político

A aluna do PósCom, Tássia Aguiar, apresentou sua pesquisa do mestrado em evento realizado pela Cátedra UNESCO/UMESP

26/10/2018 15h01

Nesta quinta-feira, 20, a Cátedra UNESCO/UMESP de Comunicação realizou mais um evento em parceria com o Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Metodista (PósCom/UMESP). O workshop “Os Memes na Esfera Pública” foi ministrado pela mestranda, Tássia Aguiar, orientanda do professor Mateus Yuri Passos.

O conceito de meme foi cunhado pelo biólogo Richard Dawkins, em seu livro “O Gene Egoísta”, publicado em 1976. O autor parte de uma concepção de que ideias e comportamentos se proliferam e se repetem pelos grupos sociais e, segundo a pesquisadora, é exatamente o que ocorre com os memes de internet.

Tássia pesquisa esse fenômeno e o seu uso no contexto político, além do papel que estes exercem na formação da opinião pública. Assim, abre o evento apresentando um breve panorama da utilização do humor em tempos de crise, com charges do Ziraldo para O Pasquim, da década de 1970, cujos conteúdos se mostram muito atuais e os formatos muito semelhantes ao dos memes.

Sobre o contexto atual, ela apresenta situações em que políticos tentam, sem sucesso, coibir o movimento contra-hegemônico que os memes representam. Cita o exemplo do deputado Marco Feliciano, que entrou na Justiça contra o site Sensacionalista exigindo a proibição do uso de sua imagem, e do presidente Michel Temer, que também tentou impedir memes a seu respeito. Em ambos os casos, a tentativa de censura não somente falhou, como foi completamente ignorada, fazendo com que os usuários da internet produzissem ainda mais esse tipo de conteúdo.

Tássia explica que, no estudo da memética na comunicação, os memes são divididos em três categorias, de acordo com suas funções políticas. São eles: os memes de persuasão, de ação coletiva e de discussão pública.

Segundo ela, os memes de persuasão fogem do conceito que se vê com mais frequência na internet, das artes feitas de forma amadora e com humor. Explica que estes são cards, imagens produzidas, geralmente, por equipes de comunicação, de forma mais profissional, com o propósito de ser compartilhado nos grupos e nas redes sociais a fim de obter visualizações e chamar a atenção do público.

Os memes de ação coletiva também têm a característica da reprodução integral da peça, sem ser manipulado pelo usuário. Tássia cita o exemplo do “vomitaço”, quando usuários das redes sociais, fazendo oposição ao governo de Michel Temer, comentavam, em massa, stickers (adesivos usados em publicações e comentários do Facebook) de um personagem vomitando. Além deste, outro que se tornou viral, não somente no Brasil, mas em todo o mundo, foi o “desafio do balde de gelo”, em que pessoas comuns e figuras públicas, com o objetivo de conscientizar sobre esclerose lateral (ELA) amiotrófica, derramavam sobre suas cabeças baldes com gelo.

Os memes mais comuns são aqueles de discussão pública, que têm como característica obrigatória a crítica política e o humor. Geralmente são feitos pelos usuários comuns da internet, sem a interferência de instituições, e tornam-se virais dado o alto número de compartilhamentos.

O estudo de Tássia demonstra, justamente, que os memes de discussão pública têm uma eficácia, ao atingir os usuários, muito maior do que os memes de persuasão, que dispõem, por trás de sua produção, de agências de criação de conteúdo. Nas eleições Norte-Americanas de 2008, segundo sua análise, os memes de persuasão tiveram cerca de 140 mil visualizações, enquanto os de discussão pública chegaram a 807 mil.

A mestranda finalizou o workshop apresentando a forma como dois jornais de vieses distintos, o El País e o Estadão, abordaram a produção de memes na ocasião da prisão do ex-presidente Lula. O primeiro, segundo ela, apresenta memes que não, necessariamente, colocam o político como protagonista, desviando a crítica para outros personagens e situações que não especificamente ele. Enquanto o segundo o faz, inclusive, o apresentando de forma satírica.

Após a palestra, os participantes puderam fazer perguntas e discutiram, junto à pesquisadora, a importância dos memes na formação da opinião pública. O evento reuniu alunos da graduação e da pós-graduação e foi transmitido ao vivo na página da Cátedra no Facebook, onde continua disponível para assistir.

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