Palestra do Encontro de Jornalismo promove debate sobre cobertura jornalística da periferia

04/10/2019 13h10 - última modificação 04/10/2019 15h12

Debate sobre jornalismo periférico no V Encontro de Jornalismo. Foto: Luiza Lemos

Igor Neves

O debate promovido pelo Centro Acadêmico de Jornalismo Inês Etienne Romeu, da Universidade Metodista de São Paulo, contou com a participação dos jornalistas Vagner Alencar, codiretor da Agência Mural, e Keyty Medeiros, redatora do portal Margens, para discutir como fazer uma cobertura jornalística da periferia que não reforce estereótipos de violência. 

A Agência Mural surgiu em 2010 como um blog hospedado no site da Folha de S. Paulo, com a participação de 20 colaboradores, a partir de 2015 se transformou em um site independente e em 2018 expandiu suas atividades para acolher mais colaboradores. Segundo Alencar, a agência surgiu como forma de cobrir os acontecimentos da periferia que eram ignorados pela grande mídia, mas que espera que um dia o trabalho deles não seja mais necessário. “A gente existe para tapar buraco e a gente não quer existir”, declarou. 

Visando essa proposta de cobrir o que não é noticiado pela imprensa, o jornalista explicou que a Agência Mural decide não cobrir casos de violência ou assistencialismo, casos que estereotipam as comunidades pobres e seus habitantes. A intenção do site, então, é humanizar as histórias dos moradores da periferia e contar as iniciativas que começam lá dentro e não as que vem de fora. 

O portal Margens foi originado a partir da dissertação de mestrado da jornalista Jéssica Balbio que discutiu as vozes femininas na literatura marginal. O site faz uma cobertura dessas produções, sejam Slams (poesia cantada), romances ou outras formas de criação cultural que, segundo Medeiros, estão ainda mais nas margens por serem produzidas por mulheres. 

Para a jornalista, ainda que seja irritante ter que se definir enquanto, mulher, periférica, marginal, para justificar o seu trabalho, é necessário que isso ocorra para que não se reproduza a estrutura que exclui esses elementos. “Quando não nos definimos enquanto periféricos estamos também reproduzindo um discurso que não me inclui”. 

Os palestrantes também criticaram a cobertura que a imprensa tradicional faz das notícias sobre corpos periféricos. Isso porque os jornais, além de focarem exclusivamente nos casos de violência, omitem informações que seriam necessárias para entendermos as características dessa violência e a quem ela está destinada, como na ocasião da violência contra um jovem pelo supermercado Ricoy, em que não foi citado no noticiário que o rapaz era negro.

E para os jovens jornalistas que têm interesse em começar algum tipo de projeto para cobrir as periferias onde vivem, os palestrantes aconselharam a entender que tipos de meio de comunicação melhor chegam nos habitantes desses lugares, podendo ser por meio de blogs ou WhatsApp, ou até mesmo por conteúdo impresso, como zines. Além de tentar somar forças com aquelas iniciativas que já existem e que possuem as mesmas preocupações. 

 

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