O método é o caminho da pesquisa, diz Dimas Künsch
07/12/2018 14h16
Igor Neves
A metodologia é uma das partes mais importantes do trabalho científico. É por meio dela que se define o caminho pelo qual o pesquisador percorrerá para encontrar as respostas propostas no projeto. Para o professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Universidade Metodista de São Paulo (PósCom/UMESP), Dimas Künsh, uma boa pesquisa é aquela que aceita e conversa com diversos métodos a fim de chegar a um resultado consistente.
Na segunda parte das entrevistas que a Cátedra Unesco realiza para discutir a Iniciação Científica(IC), além do professor Dimas, conversamos também com Edmara Galvão, graduanda de Jornalismo e Arthur Marchetto, mestrando do PósCom.
P: O que é metodologia e para que ela serve?
R: A pergunta o que é metodologia tem uma pergunta que é anterior, que é o que você está pesquisando, e qual é o objeto da sua pesquisa. Eu falo isso porque tem gente que discute metodologia e coloca a metodologia na frente. Está errado. O que deve estar na frente é a sua pesquisa, é o problema que você quer investigar, porque a palavra metodologia, que lembra método, no grego, que é de onde ela vem, quer dizer caminho. É o caminho percorrido para chegar onde você quer com a pesquisa. Então, se não tem um para onde ir, não precisa ter caminho.
Quando você vai para um lugar, o caminho é muito importante, mas tem várias coisas. Às vezes tem vários caminhos e várias maneiras de ir a um lugar. Por isso, quando você está falando de método, o ideal é que você perceba diferentes possibilidades, diferentes caminhos e também diferentes veículos. Em alguns momentos é você quem constrói o caminho, e ninguém pode falar que está errado, porque a pergunta não é se o caminho é certo, errado, bom ou ruim, a pergunta é: você chegou a quais resultados com a sua pesquisa? Duas coisas: o primeiro é a pesquisa que é importante, o objeto da pesquisa que é a questão. Segunda coisa, o ideal é você trabalhar com diferentes metodologias. Ter metodologias plurais, não para você chegar em uma certeza, você não está buscando certezas, mas para você chegar lá na frente há um discurso. É um modo de contar a história de uma maneira interessante. Por isso, quanto mais metodologias você tiver, melhor. Vamos supor que você esteja investigando a crise do jornalismo, um tema em moda. Tem mil maneiras de você observar isso. De repente, pode desejar analisar quais são as melhores publicações que existem, os melhores livros, os melhores artigos científicos em revistas, o que está sendo dito nos eventos científico. Tudo bem, isso é uma metodologia, é uma forma de você tentar entender essa famosa crise. Esse é o charme da metodologia, de você dar a ela a importância que ela merece com liberdade, com diferentes escolhas, para chegar não a uma verdade e sim a uma conclusão, ainda que provisória, a uma história que seja pertinente, bem trabalhada, uma narrativa bacana sobre aquele tema. Claro que eu estou falando dentro de uma perspectiva compreensiva, que favorece a conversa, o diálogo, inclusive entre as metodologias e que renuncia a uma ideia de verdade, para privilegiar a importância de diálogos sobre diferentes posturas, atitudes, posições.
P: Como se constrói uma boa metodologia?
R: A pesquisa, entre os diferentes modos de aprendizagem, é o que está em primeiro lugar. Falo isso a partir da experiência. Os melhores alunos sempre, em todos os níveis, foram aqueles que deram valor à pesquisa. Então, se a pessoa quer entrar no mundo da pesquisa, ela vai conhecer pessoas que já estão nesse universo. E eu acho que é muito bom conversar com essas pessoas. Você encontra pessoas, encontra livros. Precisa entrar nesse mundo. No campo da pesquisa, quando você entra, se empolga. A partir daí vai fazendo descobertas. Não existe a ideia de definir um caminho. Inclusive, porque existe uma sabedoria na área de metodologia que diz o seguinte: “é o objeto que pede o método”, então é do confronto com o objeto, é você se enfreando nesse objeto, vendo o que ali é importante. Desse modo, descobre qual é o método. Por exemplo, a crise do jornalismo. De repente, você pensa: “tá enrolado, eu preciso entender melhor tudo o que está acontecendo”. Pode fazer uma entrevista com um pesquisador que possui anos de experiência nessa área, porque entrevista também é método.
Você percebe que, confrontado com o objeto, com as questões, pensa “ah, eu vou fazer uma entrevista”. Você pode fazer entrevista, mas também pode estudar o que está acontecendo na imprensa, pode ler tal livro, você vai descobrindo. O ideal seria que os métodos fossem nascendo do confronto, não de uma definição anterior. É esse caminho por aproximação, por namoro, por descoberta, aí você vai descobrindo as coisas. Um pesquisador pode usar um método qualitativo, conversar com pessoas, fazer grupos focais. Um outro pode ir atrás de dados estatísticos, procurar, por exemplo, quanto do que era a receita do jornalismo era devido à publicidade em certos anos. Você vai reunir todos esses dados, isso é o método quantitativo. E aí você vai fazer interpretações e entra no método da interpretação, já é qualitativo.
P: Quais os erros mais comuns na hora de montar a metodologia?
R: Além de colocar o método na frente do objeto e ficar investindo mais tempo no estudo do método do que na pesquisa. Um outro erro frequente é ficar dedicando muito espaço no trabalho para a metodologia. A metodologia tem que ser mostrada na prática, eu não preciso ficar falando das vantagens da entrevista em profundidade, eu preciso dizer que estou usando a pesquisa em profundidade e mostrar que você fez a entrevista e como a coisa funciona. É este o lance de você apresentar a aplicação das metodologias, evitando de colocá-las na frente do objeto, mas também evitando de ter que demonstrá-las teoricamente. A metodologia se mostra na prática. Se você faz uma belíssima entrevista em profundidade e mostra isso no trabalho, não precisa gastar tempo falando das vantagens da entrevista em profundidade. Isso é um erro. Outro erro frequentes que eu vejo é que existem umas birras na pesquisa, que eu não vou dizer que estão certas ou erradas, mas que são curiosas, por exemplo, muitas pessoas xingam a ABNT e as aulas de metodologia científica. Bem, vamos supor que os professores sejam ruins, pode ser. Mas muitas vezes, essas críticas acabam tentando legitimar a nossa preguiça. O nosso olhar é enviesado para essas questões, porque a ABNT não é para escravizar ninguém, ela tem que servir como auxílio, as aulas de metodologia também. O que a preguiça faz? Ela cria um monstro e se safa, tira o próprio corpo da reta. É impressionante o número de pesquisadores, da iniciação científica até o pós-doutorado, que pagam as pessoas para revisar trabalhos. Grande parte do que as pessoas precisam saber sobre ABNT, elas aprendem em meia hora. É possível ser livre, alegre, dinâmico apesar das normas.
P: Para você, quais são as metodologias mais interessante para serem trabalhadas?
R: Dizer qual a metodologia é mais interessante é complicado, porque se você coloca o objeto na frente, às vezes, você percebe que para a questão que você está levantando precisa de dados quantitativos e não tem como dizer que isso é bom ou ruim. Dito isso, é bom não trabalhar com hierarquias. Eu tenho algumas preferências. Eu penso que na nossa área de conhecimento, sendo que nós mexemos com comunicação, pessoas, processos, produtos, não estamos na área das ciências naturais, então, o método empírico, aqui, tem um outro significado. Eu penso que na nossa área as metodologias qualitativas são mais aderentes. Então, nós temos muito dessa coisa de observar, de conversar, de ouvir, de apurar, de refletir de interpretar. Mas entenda isso como adequação e não como melhor ou pior. Eu acho que é uma necessidade que nós temos que observar quais são as características do campo científico em que estamos nos movendo.
As inscrições de projetos de iniciação científica na Universidade Metodista começam no dia 1 de março de 2019 e vão até o dia 20 de abril e podem ser feitas no escritório de apoio à pesquisa localizado no terceiro andar do edifico Capa.