O islamismo e a austeridade nas redes

Sheikh Jihad debate sobre intolerância nas redes

25/05/2018 08h20 - última modificação 25/05/2018 12h37

Vittória Cataldo 

Intolerância é algo fortemente presente nas relações sociais e, segundo o sociólogo Manuel Castells, sempre pôde ser aferido na sociedade. Com o advento e a evolução da internet, o problema migrou para as redes e consequentemente ganhou força. Isso devido ao fato de que no ambiente virtual a população pode se expressar de uma maneira mais livre e ainda possui a vantagem do pseudoanonimato.

É natural as pessoas se aproximarem de outras que pensam iguais a ela. A internet possibilitou a propagação da opinião e o senso comum de determinados grupos. Uma consequência disso é que quanto mais próximos estamos dos que compartilham os mesmos ideais, mais nos afastamos de outros grupos que divergem a opinião e até mesmo outras realidades, próximas ou distantes da nossa.

A falta de tolerância nas redes ocorre com muita frequência no âmbito religioso, principalmente em relação ao Islamismo. Isso se explica pelo imaginário construído pelas mídias em torno dessa religião, sempre associando os muçulmanos a grupos terroristas. Porém, de acordo com o Sheikh Jihad Hassan Hammadeh, a paz é um dos atributos referente ao Islã e a palavra tem por definição a entrega a Deus.

O Sheikh Jihad Hassan Hammadeh nasceu na Síria e é naturalizado brasileiro. É formado em Teologia e Jurisprudência pela Islamic University de Medina (Arábia Saudita), em Ciências Sociais pelo Centro Universitário de Anhanguera (Uni A) de Santo André e em história pela Uniban (São Bernardo do Campo). Além de ser o representante da comunidade Islâmica no Brasil, Jihad é também diretor da Assembleia Mundial da Juventude Islâmica da América Latina (WAMY) e presidente do Conselho de Ética da União Nacional das Entidades Islâmicas (UNI) e conta como as redes propagam a intolerância referente a sua religião.

De acordo com Jihad, “as redes sociais têm benefícios e malefícios e é uma ferramenta social, como a faca, como o carro, é como qualquer outro instrumento. Você pode fazer o bom uso dele ou mal uso dele”. Ele explica que em geral percebe-se um mau uso das redes sociais hoje para atacar e discriminar as pessoas. “E o estrago que isso causa é dificilmente reparado”, afirma.

O Sheikh conta que muitas pessoas da comunidade islâmica sofrem e são discriminadas nas redes e alega que “a própria religião em si existe muita discriminação, principalmente quando existe alguma notícia nas mídias e redes sociais, que falam sobre questões polêmicas, como por exemplo, um atentado na França”. Além disso, elucida que há muitas pessoas nas redes que propagam o ódio com comentários que generalizam e atacam todos os muçulmanos.  “Esses grupos, eles aproveitam. É uma terra fértil para eles. Dá para dissimular, mudar a imagem, mudar o nome, fazer perfis fakes. E as vítimas estão ali presentes”, acrescenta.

Segundo Manuel Castells, a intolerância e a violência sempre existiram e com a internet isso se intensificou. Nesse sentido, Jihad dá um exemplo que concorda com o pensamento de Castells, citando a traição de Caim por Abel que matou o irmão por ódio, vindo da inveja. Com isso, segundo ele, podemos perceber que desde o início da humanidade a violência já estava presente e forte no ser humano. “Isso faz parte do ser humano. A raiva, isso é do ser humano. Agora cabe a ele controlar esse sentimento ou desenvolver esse sentimento”, Sheikh argumenta.

O Sheikh compara as redes com uma caixa de som, podendo amplificar tanto uma voz boa quanto uma ruim. “Portanto, a internet faz esse trabalho. Ela amplia, sim. Quando as pessoas de ódio estão presentes nela e querem divulgar, vai ampliar esse sentimento de ódio e discriminação, então cabe às pessoas boas não permitirem isso”, afirma.

De acordo com Jihad, há uma difamação da religião islâmica e dos muçulmanos nas redes sociais. “Infelizmente por pessoas que desconhecem a religião. E existem também pessoas que fazem isso propositalmente”, diz. E explica sobre as pessoas que propagam o ódio nas redes de uma maneira proposital. Segundo ele, não muito diferente dos terroristas que usam as redes e o nome de Maomé para propagar o ódio referente à própria religião.

Com o uso intensivo das redes, elas acabam fazendo parte do ser humano, mas de acordo com Jihad, esquecemos muitas vezes que os seres também são formados de espírito. A fé também faz parte das almas, e precisamos buscar isso para que as relações nas redes possam ser voltadas para diálogos sem preconceitos e sem violência. ,

Confira a entrevista completa:

 

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