Workshop realizado pela Cátedra UNESCO/Metodista discute produção de Jornalismo Científico

20/06/2016 16h45 - última modificação 06/07/2016 12h16

Arthur Marchetto

Transgênicos são prejudiciais à saúde? De que maneira a sociedade se organiza para protestar? Como é selecionado o que aparece no feed do meu facebook? Essas são perguntas que, sem o auxílio das ciências - exatas, humanas ou biológicas –, não poderiam ser respondidas. São discussões sobre teorias e comprovações científicas como essas que auxiliam o desenvolvimento e o progresso das sociedades. Tais debates ocorrem em dois espectros – o da difusão científica e o da divulgação científica.

Os campos de debates são classificados conforme a natureza da fonte e do receptor. Quando a comunicação ocorre entre pares, de especialista para especialista, é enquadrado na difusão científica. Já no caso da divulgação científica, a comunicação tem como público-alvo os “leigos”, os que não estão envolvidos com a produção do conhecimento científico em questão. Nessa, os textos procuram vulgarizar algum novo dado e/ou disseminar um conhecimento cientifico para uma ampla parcela da população. O processo de democratização do conhecimento deve recodificar a mensagem, transformando a linguagem técnica em uma acessível, tornando o conteúdo acessível para os leitores. Esse processo é encontrado em diversas linguagens, como palestras, documentários e também no Jornalismo Científico. 

Foi para discutir o Jornalismo Científico que a Cátedra UNESCO/Metodista de Comunicação realizou o workshop “Jornalismo Científico”, ministrado por Romulo Gomes, doutorando em Comunicação e Semiótica, pela Pontífice Universidade Católica de São Paulo. Gomes realizou uma pesquisa sobre a produção de jornalismo científico na Universidade Federal do Maranhão (UFMA), no Instituto Federal do Maranhão (IFMA) e na Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) e constatou que nessas instituições de ensino superior a taxa de produção de conteúdo de jornalismo cientifico era baixa e, em alguns momentos, a produção jornalística servia às questões administrativas ou políticas. A pesquisa ressalta um dos pontos discutidos no curso: a oportunidade que as assessorias de imprensa, principalmente em universidades, perdem quando não utilizam o Jornalismo Científico ao seu favor. Apesar de parecer que o release e o Jornalismo Cientifico habitam pontos diferentes no ecossistema jornalístico, é possível uni-los no propósito de incentivar a educação científica e, consequentemente, promover uma imagem institucional positiva ao ser referência em produção científica. A junção também não tira de vista os padrões jornalísticos - uma linguagem que serve para um entendimento amplo e um papel pedagógico de complementação da educação formal.

No entanto, alguns setores industriais usam o jornalismo científico para mesclar a produção com seus interesses políticos, econômicos, militares e/ou empresariais e interferem na qualidade dos processos de produção e divulgação científica. Por exemplo, hoje, parte da pesquisa está a serviço de interesses militares, e alguns investimentos em determinadas áreas como saúde ou biotecnologia, favorecem corporações. No caso de centros produtores ou locais que recebem investimentos públicos, o Jornalismo Científico é uma das melhores saídas para que a comunidade científica preste contas à sociedade sobre os investimentos realizados e as questões de interesse público. Para isso, é necessário que o relacionamento jornalista-cientista seja saudável e que ambos trabalhem visando a alfabetização científica e a democratização do conhecimento.

Ao jornalista que quer atuar, ou atua, na área de Jornalismo Científico, Romulo Gomes deixou sete dicas que servem para melhorar a qualidade no texto produzido, seja para redação de releases, notícias ou reportagens:

  • Planejar e levantar informações antes da redação;
  • Focar no conteúdo dos eventos/ações/projetos, e não apenas no factual ou na efeméride;
  • Identificar se as informações são de interesse público ou do público;
  • Sempre às mãos informações prévias sobre a formação do pesquisador e sobre o assunto que vai tratar na entrevista;
  • A apuração é o momento de tirar todas as dúvidas (levantamento não só do resultado da pesquisa, mas, sim, detalhes que ajudem o público a perceber como se desenvolve a ciência, visando à formação de cultura científica): o que levou o pesquisador a fazer aquele estudo, quais os métodos utilizados, a relação com outras pesquisas já feitas e quais são os sujeitos nele envolvidos;
  • Na hora de redigir a matéria, a principal recomendação é atentar à recodificação do discurso científico, lembrando que ele é regido por regras de enunciação diferentes do discurso do jornalismo científico;
  • A recodificação do discurso exige que o autor do texto jornalístico utilize analogias, metáforas ou outros recursos estilísticos que facilitem o entendimento da notícia de Ciência, Tecnologia e Inovação.

Além do workshop sobre Jornalismo Científico, a Cátedra UNESCO/Metodista de Comunicação promoverá, no dia 01 de julho, das 13h às 17h, um workshop sobre Comunicação Organizacional. O convidado será Pablo Monteiro, Relações Públicas da Universidade Federal do Maranhão e mestrando em Desenvolvimento e Gestão social pela Universidade Federal da Bahia. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas no local. 

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