Praça de SP recebe nome do jornalista Vladimir Herzog

Torturado e morto durante a ditadura militar, Herzog é um símbolo de resistência contra o autoritarismo

24/08/2012 15h35 - última modificação 24/08/2012 17h35

Vladimir Herzog na TV Cultura Foto:Instituto Vladimir Herzog

Por Rita Moura

Para homenagear o jornalista Vladimir Herzog, a Câmara dos Vereadores de São Paulo aprovou o projeto de autoria do vereador do Partido dos Trabalhadores (PT) Ítalo Cardoso que propõe a mudança de nome da Praça Divina Providência para o nome do jornalista. A praça localiza-se na Rua Santo Antônio, atrás do Palácio Anchieta, no centro da cidade de São Paulo, e será inaugurada com o novo nome em outubro próximo, em dia e horário ainda a ser confirmado.

O local será presenteado com uma estátua de bronze com cerca de 2 m de altura, uma réplica do troféu entregue aos vencedores do Prêmio de Jornalismo Vladimir Herzog (evento criado pelo Comitê Brasileiro de Anistia (CBA) de Minas Gerais para denunciar a repressão dos tempos militares) e uma reprodução em mosaico do quadro ‘Guernica Brasileira’, obras assinadas pelo artista plástico Elifas Andreato.

A inauguração oficial da praça com o novo nome e as obras de Andreato está prevista para outubro deste ano. No mesmo evento haverá o anúncio dos vencedores do Prêmio Herzog, organizado pelo Instituto que leva o nome do jornalista.

A escolha do mês de outubro para realizar a inauguração da Praça está relacionada à data em que Herzog foi encontrado morto. Em 25 de outubro de 1975, o jornalista foi convocado à sede do DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações e Centro de Defesa) comparecendo pela manhã no local. Na tarde deste mesmo dia, ‘Vlado’ foi encontrado morto. Segundo a versão oficial, ele teria se enforcado com o próprio cinto que estava no seu macacão de presidiário. Mas, de acordo com os relatos de amigos jornalistas também presos, Herzog foi assassinado sob tortura. O secretário geral do Sindicato dos Jornalistas, André Freire, destacou que Vladimir Herzog importante para a época da ditadura militar: “O jornalista Vladimir Herzog foi uma entre as centenas de vítimas da ditadura, tornando-se um dos seus símbolos.”

As obras

A estátua do jornalista será uma reprodução da imagem “Vlado Vitorioso”, como era chamado pelos amigos, criada por Andreato para a ONU em 2008, em comemoração aos 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Freire contou que essa homenagem é uma projeção dos avanços do movimento democrático.

A réplica do troféu entregue aos vencedores do ‘Prêmio de Jornalismo Vladimir Herzog’ homenageia o jornalista, com a missão de contribuir para a reflexão e produção de informações que garantam o direito à vida e à justiça.

O quadro 25 de Outubro, mais conhecido como “Guernica Brasileira”, protesta contra o assassinato do jornalista e foi inspirado na obra do pintor Pablo Picasso, exposta pela primeira vez em 1981. André Freire contou: “A ‘Guernica Brasileira’, representa o martírio e morte nas dependências do DOI-CODI do Segundo Exército, em São Paulo.”

Comissão da Verdade

A Câmara Municipal de São Paulo lançou no dia 11 de junho deste ano a Comissão Municipal da Verdade. A comissão terá o direito de convocar, sem caráter obrigatório, vítimas e acusados dos crimes cometidos entre os anos de 1946 e 1988, para depoimentos.

Com o objetivo de auxiliar as comissões estadual e federal nas investigações dos crimes cometidos na ditadura, a Câmara Municipal lançou a Comissão da verdade com o nome de Vladimir Herzog, em homenagem ao jornalista que foi morto na época da ditadura militar. Freire contou que a homenagem é decorrente do caráter simbólico do seu nome e que o jornalista é sempre lembrado quando falam sobre as vítimas e os crimes ocorridos na época da ditadura brasileira.

Quem foi Herzog?

Vladimir Herzog nasceu em 1937, na Iugoslávia e imigrou para o Brasil em 1942, fugido do nazismo na Europa. Estudou Filosofia na USP, mas foi no jornalismo que encontrou a sua verdadeira paixão. Em 1959 atuou pela primeira vez na área da comunicação, na Folha de S. Paulo, e desde então atuou em inúmeros veículos de informação, entre eles, O Estado de S. Paulo e na BBC de Londres (época em que morou na Inglaterra com a sua esposa Clarice).

Continuou na área da comunicação trabalhando como redator do telejornal diário “Show de Notícias", da antiga TV Excelsior, e depois editor de cultura na revista Visão e diretor do departamento de Telejornalismo na TV Cultura. Também trabalhou como teatrólogo e professor universitário, dando aulas na FAAP e na ECA-USP.

Além da sua paixão pelo jornalismo, Herzog tinha grande interesse pela área cinematográfica, inclusive dirigiu o curta metragem ‘Marimbás’ em 1963. O curta conta a história de um grupo que sobrevivia da pesca no Posto 6, em Copacabana (RJ). O jornalista mostra no filme a grande preocupação que tinha com a sociedade. ‘Marimbás’ foi um dos primeiros documentários nacionais feitos com som direto.

‘Vlado’ tinha 38 anos quando morreu, era casado e pai de dois filhos. Se estivesse vivo, atualmente teria 75 anos.

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