Em vez de salvar, reconfigurar o mundo

10/04/2013 12h01

Por Mônica Miliatti e Priscilla Sampaio

Neste ano, Clark Kent, mais conhecido como Superman, completa 75 anos de idade. O jornalista símbolo do heroísmo nos quadrinhos nos leva a uma questão, que talvez possa estar fora de moda: os profissionais de jornalismo ainda querem salvar o mundo?

Conhecida como “síndrome de Clark Kent”, essa vontade de lutar contra as mazelas sociais, achando que o jornalista possui super poderes, foi tema do livro “O complexo de Clark Kent”, escrito por Geraldinho Vieira em 1991. Mas parece que agora não faz mais parte do imaginário dos jornalistas do século 21. O JBCC conversou com as coordenadoras do curso de Jornalismo da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), e da Cásper Líbero, para saber como elas avaliam essa “característica” do profissional.

Para a coordenadora da ESPM, Maria Elisabete Antonioli, a síndrome ainda se manifesta nos estudantes, mas já foi mais intensa no passado. Hoje, os jovens com esse pensamento idealista e romântico da profissão são poucos, mas isso não é uma coisa ruim. “Eles veem no jornalismo a possibilidade de intervenção na sociedade, de mudança para um mundo melhor. Há uma utopia que é até saudável, no bom sentido. No sentido de acreditar que é possível”.

Já a coordenadora da Cásper Líbero, Daniela Osvald Ramos, acredita que os jovens em geral sentem a necessidade de mudar o mundo, e isso não é diferente para os estudantes de jornalismo. Para Daniela, “salvar o mundo” não seria a expressão correta, e sim “reconfigurar” o mundo. “Conforme os anos passados o jovem vai sendo forçado a desistir dos seus sonhos, muitas vezes pelos próprios professores que não conseguiram viver os seus próprios sonhos e assim não entendem que o mundo pode, sim, ser reconfigurado e novas realidades podem ser criadas - mas por aqueles que acreditam em si mesmos e no seu poder transformador”.

Porém, esse papel do jornalista muitas vezes é adormecido pela rotina do trabalho. De acordo com Maria Elisabete, hoje o mercado faz com que o profissional se sinta mais consciente de suas limitações. “Com tantas exigências sobra pouco tempo para pensar em ser “salvador” de algo ou do mundo.”

Como alternativa para superar a pressão das grandes redações, Daniela diz que o espaço para pensar em mudanças é maior em mídias independentes. “No jornalismo feito em empresas de comunicação pode-se ajudar a construir um mundo melhor, mas talvez de forma mais lenta. Onde isso pode acontecer são em iniciativas independentes.”

Além disso, com o advento das mídias digitais, a relação entre leitor e o jornalista está cada vez mais próxima, dando margem a uma troca de informações contínua. Desta forma, o jornalista ganha parceiros e pode, de forma mais efetiva, propor a reconfiguração do mundo. É a velha história, sozinho ninguém muda e, muito menos salva, o mundo.

Maria Elisabete e Daniela concordam que o jornalista tem um papel fundamental para a sociedade. Salvando ou não salvando o mundo, o profissional é um representante do público e pode expor aquilo que está em conflito social, político, econômico...

“Nosso papel é fazer jornalismo, fazer o bom jornalismo e isso é o que importa. O jornalismo, pautado na conduta ética e na prestação de serviço à sociedade, é o norte do jornalista, pois afinal, o jornalismo é um bem público.”

Clark Kent foi jornalista por acaso?

Não, a escolha não foi por acaso! De acordo com o professor da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul), Roberto Elisio, os criadores, Joe Shuster e Jerry Siegel escolheram a profissão porque ela era a mais glamourizada da época (década de 30). “O jornal era o meio de comunicação mais influente e a figura do repórter investigativo comparava-se ao herói aventureiro no imaginário midiático. Essa é uma ligação entre a profissão, idealizada pelos autores e pelo público, e o super-herói.”.

O Super Homem é o principal nome dos quadrinhos norte-americanos, até porque foi com o Superman que o padrão de “herói disfarçado de pessoa comum” foi estabelecido. Elisio ainda completa dizendo que o personagem fez com que o mercado editorial de HQs da época desse uma guinada, tornando-se um ícone da cultura midiática.

 

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