Editora lança livro de ensaios sobre a obra de Tim Burton
08/12/2016 14h34
Arthur Marchetto
Desde o fim do século XX, os produtos de entretenimento têm relevância na sociedade. Visto tanto nas pesquisas que se debruçam sob temática, como a Indústria Cultural, da Escola de Frankfurt, ou a Cultura de Convergência, de Henry Jenkins, quanto na importância financeira que o setor comporta, a indústria do entretenimento é um dos pontos de maior destaque da sociedade atual. Segundo um infográfico realizado pelo TecMundo, a indústria de games investiu U$ 25 milhões e, em três anos, rendeu U$ 60,4 bilhões. Enquanto isso, Hollywood investiu U$ 100 milhões e rendeu, em um ano e meio, U$ 31,8 bilhões.
Dentro do último, uma importante figura do audiovisual é Tim Burton. Diretor e produtor, Burton já participou de diversos filmes e teve, recentemente, uma exposição dedicada à sua trajetória no Museu de Imagem e Som (MIS) de São Paulo. Para discutir sua vida e obra, a Editora Estronho lançou o livro “Tim Burton! Tim Burton! Tim Burton!”, baseado no personagem Beetlejuice do filme Os Fantasmas de Divertem (1988), o primeiro personagem de Burton que teve destaque na cultura popular. O lançamento do livro em Curitiba aconteceu na abertura da XX Encontro da Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual (SOCINE), no dia 18 de outubro, e, em São Paulo, aconteceu neste sábado, dia 3 de dezembro, na sede da Intercom.
O livro traz estudos aprofundam o trabalho de Tim Burton em diversas frentes, como longas-metragens, curtas-metragens, programas de TV, telefilmes, videoclipes e exposição de artes, e também traz detalhes e curiosidades das obras realizadas pelo diretor desde 1982. Genio Nascimento, da Intercom, foi autor do ensaio que disseca a produção do filme de animação Frankenweenie (2012) e conversou com a Cátedra UNESCO/UMESP sobre o estudo. Confira:
Cátedra UNESCO/UMESP: Qual o lugar que o Tim Burton ocupa hoje na produção cultural, tanto como produtor audiovisual quanto como ícone da cultura pop?
Genio Nascimento: Tim Burton é um diretor de cinema fantástico que atravessou várias tendências desde os anos 80, quando iniciou sua produção e conseguiu manter uma personalidade em sua obra geral, e não somente nos filmes. Também se manteve relevante tanto no mercado quanto na crítica. Mesmo em seus trabalhos menos interessantes, ele consegue resolver essa difícil equação entre personalidade e relevância. Isso o faz ser um dos únicos diretores com essa característica, além de ser ele próprio uma figura popular, com uma espécie de aura única e facilmente reconhecível. Aliás, essas características viraram até um adjetivo: burtoniano.
Cátedra UNESCO/UMESP: Como foi seu relacionamento com os clássicos e as referências utilizadas ao longo do filme estudado, Frankenwennie?
GN: Sempre fui fã de filmes de horror, mas assistia somente o que passava na TV e as produções mais recentes no cinema. Depois, com a internet e principalmente com o Youtube, foi que cheguei em filmes raros, como o curta de 1984. Quando fiz uma disciplina sobre Cinema de Horror na ECA-USP, ministrada pela Laura Cánepa, foi que tomei contato com os clássicos, como os filmes da Universal e da Hammer. As histórias eu já conhecia, mas esses filmes foram de contatos mais recentes. Além disso, sobre o livro do Stephen King, eu sou fã do autor e já o havia lido.
Cátedra UNESCO/UMESP: Metodologicamente falando, como foi o processo de estudo sobre o filme?
GN: Eu faço mestrado em Comunicação Audiovisual na Anhembi Morumbi e meu objeto de estudo é justamente o horror no cinema de animação. Em um primeiro momento, parece existir um paradoxo entre a animação ser um produto que imaginamos para o público infantil e ter ao mesmo tempo características horríficas que remete ao público adulto. Mas logo percebemos que esse paradoxo é falso, porque tanto a animação não é exclusividade do infantil nem o horror é unicamente voltado para o adulto. Se olharmos teóricos como Sebastien Denis, vemos que a animação é apenas mais um conjunto de técnicas de se fazer cinema, assim como é o live action, e que pode ser utilizada para a produção de qualquer gênero, como o horror, a comédia, o drama, o documentário etc. O horror já está nos contos folclóricos, nos contos de fadas, nas histórias orais, voltadas principalmente para as crianças. Sendo um produto da indústria cultural, o filme Frankenweenie (2012) é cheio de referências desse universo e da cultura popular também. Eu procurei partir por esse caminho e fazer uma espécie de autópsia para encontrar essas referências e situá-las de modo a facilitar a leitura do filme.
Cátedra UNESCO/UMESP: Você acredita que o filme, suas críticas e sua recepção acrescentam no recente debate sobre autoria e originalidade das obras, devido à grande quantidade de referências em sua produção?
GN: A quantidade de informações que os meios de comunicação nos bombardeiam diariamente é imensa. Além disso, temos nossas próprias vivências, experiências, referências familiares etc. Se olharmos por esse ângulo, acredito que nenhuma produção pode ser considerada original. Todas elas trazem em maior ou menor quantidade essas referências, esses intertextos. No caso do Tim Burton, ele parece não ter nenhum problema em deixar visíveis essas referências em suas obras e avança ao dar a elas sua marca pessoal, suas características. Particularmente, acho que ele sabe usar esses "textos" de forma que eles funcionam em suas produções. Isso está bem marcado no caso do Frankenweenie (2012), que é quase uma "colcha de retalhos" de referências e, ao mesmo tempo, tem a marca pessoal do diretor. Além de remeter metalinguisticamente ao próprio "monstro" do filme, que é um animal (re)construído.