eBook gratuito sobre ensino da comunicação discute diretrizes curriculares e sistema de avaliação de cursos

29/04/2016 15h30 - última modificação 02/05/2016 08h38

Arthur Marchetto

Em 2001, a academia era apresentada ao primeiro Seminário sobre o Ensino de Graduação em Comunicação Social (ENSICOM), preocupado em discutir as “A Elaboração de Projetos Pedagógicos a partir das Diretrizes Curriculares”, quando o encontro nacional foi em Campo Grande (MS) e organizado pelo professor Robson Bastos da Silva, com a participação dos professores Fernando Ferreira de Almeida, Claudia Moura, Nanci Ramadan, Paulo Rogério Tarsitano, José Salvador Faro e Ademar Possebom.

Seguindo a linha discussão sobre o ensino de comunicação e as Diretrizes Curriculares, a INTERCOM publicou, neste mês, um eBook sobre as reflexões realizadas nos últimos anos de INTERCOM. Organizada por Fernando Ferreira Almeida, Robson Bastos da Silva e Marcelo Briseno Marques de Melo, a publicação é gratuita e se encontra disponível aqui. Em entrevista, o organizador da publicação, Fernando Ferreira Almeida, comentou sobre a organização, os objetivos e as preocupações do ENSICOM.

DIRETRIZES

O ENSICOM procura trabalhar e discutir a qualidade do ensino de comunicação em suas diversas profissões: Jornalismo, Publicidade, Rádio e TV, Cinema e Relações Públicas. Sendo assim, é um seminário aberto e seu público envolve gestores, diretores e coordenadores de curso, professores e até estudantes. O evento procura discutir a formação do profissional de comunicação, tendo como ponto de partida os projetos pedagógicos, as avaliações de curso e o ENADE.

Atualmente, o seminário tem discutido se as Diretrizes Curriculares atendem as questões postas hoje, “principalmente por conta da tecnologia”, comentou Fernando Almeida. Para ele, “o ENSICOM não é um espaço de apresentar trabalhos, para mostrar o que evoluiu. É um espaço de discussão da formação comunicacional, da comunicação enquanto ensino”, por isso refletir sobre “como o perfil do profissional que vai trabalhar e cada disciplina ministrada no curso”, disse Almeida.

ACADEMIA X MERCADO

Para as discussões, o evento procura trazer profissionais atuantes no campo comunicacional, tanto do mercado quanto da academia, que estejam preocupados não só com a questão tecnológica, mas também com a formação cidadã do profissional. “Dizem que a academia reproduz o mercado, enquanto ele diz que está à frente da academia”, comenta Fernando, “mas quando se analisa, os dois estão buscando a mesma coisa”. O organizador do evento explica que “os acadêmicos falam como se o mercado não estivesse preocupado com a formação cidadã e ética, mas quando o profissional diz o que sente falta percebe-se que a preocupação é a mesma”.

AVALIAÇÃO DE CURSOS

O Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes) utiliza, para ranquear uma graduação, a avaliação da instituição, do curso e do desempenho dos alunos. Para a última, o método é o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade). A avaliação do Enade é única e, para Fernando Almeida, “não dá para ranquear um curso usando o Enade como base”.               

Para ele, a prova “tenta respeitar a questão da regionalidade, mas não dá conta”. Além disso, “70% da nota do curso vem da prova dos alunos. Se a turma vai mal por falta de interesse dos alunos, já que o resultado não vai para o histórico, a nota cai”, comenta Fernando, e “é só 30% que conta para a estrutura da escola”.

No entanto, a segunda etapa também contém problemas, como o das questões regionais. “Elas precisam ser respeitadas, e aí temos dificuldade para algumas coisas”, diz Fernando Almeida. “Por exemplo, no Norte, pela extensão e estrutura, a Internet não funciona como aqui no Sudeste”, comenta o organizador, “o ensino é um processo, não dá para intervir em uma situação e exigir coisas que não podem ser contempladas”, conclui.

AMBIENTE DIGITAL

A questão da tecnologia digital tem modificado o mercado de comunicação e influenciado as reflexões sobre seu estudo, principalmente por conta da velocidade com que as coisas estão mudando. Por isso, os cursos devem repensar e preparar sua infraestrutura e a grade de suas disciplinas. “Com o conhecimento técnico que o aluno já chega na universidade, é preciso ter mais equipamento para lidar com as demandas”, comenta Fernando Almeida, “e como serão discutidos alguns assuntos, se o aluno já lida com isso na internet?”

O perfil do professor que dará aulas na área comunicacional deve ser repensado. “Quais os textos a serem trabalhados na questão da internet? Como ser um profissional isento de qualquer influência dentro do ambiente digital?”, diz Fernando. Ele cita o documento que está sendo produzido por agências digitais de conteúdo, realizado “para garantir ética, responsabilidade e informação”. Tal registro é importante, principalmente pela rapidez na propagação de um conteúdo na internet.  “Quando alguém posta alguma mentira, isso pega e então eles estão discutindo o Crime de Responsabilidade do profissional de Comunicação”

FLEXIBILIDADE CURRICULAR

Para Fernando Almeida, a universidade é o espaço onde se deveria discutir o futuro do mercado e da atuação profissional e, além disso, com a precarização do profissional dos profissionais da comunicação, é preciso que eles tenham conteúdo. Para atingir uma formação que contemple as necessidades, Fernando acredita que a universidade precisa ter um perfil de profissional que quer formar.

O contexto global e o regional entram no momento de esquematizar um perfil. A grade deve ter uma formação básica na área de humanidades e na área instrumental para, depois, se aprofundar na questão do perfil. “É interessante que cada curso, quando discute o perfil do profissional, tenha representações do mercado, dos acadêmicos, da comunidade, no seu mais amplo sentido e de uma pesquisa para saber como funciona a comunicação na região: assim se consegue traçar um perfil globalizado e focado na sua região”, comenta Fernando Almeida. “Um exemplo que mostra a importância do regional é que os profissionais que hoje têm mais destaque vieram do interior, onde eles aprendem a ter uma noção do regional e do global”, conclui.

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