Agroecologia e comunicação comunitária: empoderamento da agricultura sustentável
22/07/2016 14h00 - última modificação 22/07/2016 14h02
Arthur Marchetto
A relação que estabelecemos com nosso ambiente não tem sido estável e gera problemas ecológicos. A degradação ambiental, como desmatamento, queimada, poluição e etc., a emissão dos gases-estufa, como dióxido de carbono, gás metano, óxido nitroso ou gases com flúor, são apenas algumas das ações que tem desequilibrado o ecossistema terrestre, extinto diversos animais, aumentado a temperatura média global e prejudicado as relações habituais entre as espécies e seus habitats. Para avaliar os impactos ambientais às populações dos seres vivos e ao planeta terra, os estudos ecológicos são importantes nesse cenário. Utilizando fatores químicos, físicos e biológicos para levantar como os seres se relacionam entre si e com seu espaço a ecologia não menospreza nenhuma possibilidade de troca entre ambiente e vida. Quando levou-se em conta o contato entre ser humano, sua alimentação e a terra, essa área de estudo gerou a vertente conhecida como Agroecologia.
A agroecologia estuda meios de produzir alimentos naturais mais limpos e mais saudáveis com uso racional de recursos naturais e de produtos orgânicos para a manutenção das plantações, amenizando os efeitos negativos que as práticas agrícolas baseadas na monocultura, na mecanização e na utilização de químicas agrícolas têm causado no meio ambiente. Para que tais práticas se modifiquem é preciso um processo de descolonização dos saberes instaurados nos campos e também uma mudança na relação entre os atores – famílias, produtores, agricultores, donos de terra e etc. - que convivem nas áreas rurais.
Nesse sentido, a comunicação popular, comunitária e alternativa se mostra um canal com muitas possibilidades para auxiliar esse processo de aprendizagem e adaptação a novas técnicas, saberes e práticas e, para refletir e explicar a importância dessa relação, a Revista Agriculturas tem sua edição sob a temática Comunicar para Transformar, disponível aqui. Conforme destacado no artigo de apresentação da edição, Comunicar para Transformar, escrito pela prof. Cicilia Peruzzo, a Agroecologia é uma ciência, já que é formada sob um conhecimento científico, uma prática social inovadora, pois trama o saber tradicional dos agricultores e especialistas à uma nova prática, e também um movimento social, uma vez que é formado por uma rede de colaboradores.
O tripé acima descrito é sustentado, e até mesmo otimizado, quando a agroecologia é trabalhada junto com um plano de comunicação comunitária. Formada pelos atores afetados no ambiente, a comunicação comunitária reflete as necessidades, anseios e visões de mundo que auxiliam suas metas para as práticas. Além disso, as estratégias são vinculadas às ações sociais e executadas numa dinâmica construtiva junto com organizações ou grupos que estejam em exercício em determinado local. Assim, as atividades comunicacionais participam das atividades de formação, organização e ação e, quando aliadas ao uso de tecnologias, como televisão ou whatsapp, facilitam o processo de reivindicações e conscientizações. Exemplos podem ser notados em mensagens que denunciam ações criminosas ou mobilizam as comunidades em prol de alguma ação. Tal canal dá voz aos atores comunitários e gera visibilidade para populações locais, universidades, centros de pesquisa, órgãos do poder e etc.
Por fim, apropriar-se dos meios de comunicação ajuda na promoção da cidadania, na troca de conhecimento e transformam as relações com a terra e a convivência com a natureza. Fora dos meios convencionais de comunicação, que são aliados à indústria química e ao agronegócio, os segmentos empobrecidos da população exercitam a comunicação como um direito humano e promovem o desenvolvimento para aqueles que são excluídos da lógica dos grandes conglomerados da mídia.