Morre Otávio Frias Filho, aos 61 anos

O jornalista deixa legado de inovação e compromisso com a verdade

29/08/2018 12h55 - última modificação 31/08/2018 10h48

Nila Maria

Morreu, no último dia 21, em São Paulo, aos 61 anos, um dos principais nomes do jornalismo no Brasil, Otávio Frias Filho. Filho do fundador da Folha de S. Paulo, Octávio Frias de Oliveira, Frias Filho atuou na direção da redação do jornal desde 1975, acompanhando e, também, promovendo os processos de modernização das práticas da profissão no país, desde então.

Na condição de diretor de redação, foi ele quem desenvolveu as experiências do periódico durante o processo de abertura política no Brasil nos anos finais da Ditadura. A este processo foi dado o nome de Projeto Folha, que tem como característica a busca por levar ao público um jornalismo crítico, independente, apartidário e plural.

Não só no jornalismo firmou-se a carreira de Frias Filho. Foi autor de peças de teatro encenadas em São Paulo, como “Típico Romântico” (1992), “Rancor” (1993), “Don Juan” (1995) e “Sonho de núpcias” (2002). Publicou, também, livros como “Tutankaton” (1991), homônimo de sua peça de teatro, que traz também ensaios sobre cultura, “De ponta-cabeça: Fim do Milênio em 99 artigos de jornal” (2000) e o infanto-juvenil “O Livro dos Medos” (1998).

Otávio Frias Filho viu o mundo mudar e participou da mudança. Viu o mundo do jornalismo ficar de ponta-cabeça, e esteve no meio disso. Soube se adaptar e adaptar os meios dos quais dispunha às novas técnicas que surgiam ao longo dos anos. Não se intimidou diante da internet. Pelo contrário: foi capaz de colocar o jornal dentro das telas dos computadores, smartphones e tablets.

Embora Frias Filho não tenha se formado em jornalismo, mas sim em direito, e, ainda que fosse contrário à obrigatoriedade do diploma, acreditou, sempre, na importância da formação acadêmica de novos jornalistas. Tanto que procurava manter um diálogo próximo entre a redação da Folha e diversas escolas de jornalismo. Além disso, criou, dentro do próprio jornal, um programa de treinamento para estudantes que quisessem fazer carreira na área, o que deu asas a vários dos mais importantes profissionais do país.

Frias Filho traçou uma jornada com os pés firmados no chão, porém sem perder o idealismo característico do jornalista que quer mudar o mundo. Sempre que um dos nossos, um dos grandes, se vai, fica para nós o questionamento do que faremos a seguir, de como faremos, levaremos seu trabalho adiante. Aos sucessores de Otavio Frias Filho, dentro e fora da Folha de S. Paulo, o desafio será grande. Mas ele deu as cartas e mostrou que é possível: com a busca incessante pela exatidão da informação apurada.

As edições impressas dos principais periódicos do país já estavam fechadas, na madrugada da última terça-feira, quando foi divulgada a notícia de sua morte. Mas os veículos online não deixaram de publicar a informação assim que ela foi recebida pelas redações. Ele também viu isso acontecer e fez parte da mudança que permitiu que o leitor não mais tivesse de esperar pelo jornal na banca, no dia seguinte.

Homenagem ao jornalista

Nesta segunda-feira (27) foi realizada, na Matriz Paroquial Nossa Senhora do Rosário de Fátima, em Sumaré, uma cerimônia inter-religiosa em homenagem ao jornalista. Na ocasião, o Coro da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp) apresentou alguns movimentos regidos pelo maestro William Coelho. Trechos de peças escritas por Frias Filho foram lidos pela atriz Bete Coelho e, em nome dos funcionários do jornal, falou Sérgio Dávila, diretor-executivo da Folha.

O evento ainda contou com a presença de figuras públicas, como os jornalistas Marcelo Tás e Boris Casoy, o ex-presidente da república, Fernando Henrique Cardoso, o candidato à presidência, Geraldo Alckmin, e vereador da cidade de São Paulo, Eduardo Suplicy.

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