Maio de 68: a história cinquenta anos depois

Os protestos estudantis para uma melhor educação marcaram, não só o Brasil, como o mundo

25/05/2018 12h47

Imagem: Internet

Vittória Cataldo 

A década de 60 foi um período marcado por transições significativas para o Brasil e para o Mundo. Nos Estados Unidos, por exemplo, o ex-procurador geral Robert Kennedy e o pastor Martin Luther King foram assassinados pelas obras de forças conservadoras. Na França, onde tudo começou inicialmente, houve uma onda de protestos estudantis que colocava fábricas em greve e questionava o conservadorismo daqueles tempos.

Na mesma época o Brasil passou por uma transição política envolvendo a crise do populismo e a instalação de um regime ditatorial. Na época, os militares estavam no poder e alegavam que o país estava sendo seriamente ameaçado por uma revolução que envolveria a ação de estudantes, movimentos sociais e sindicalistas influenciados pelo comunismo.

No mês de março uma grande agitação estudantil tomou as ruas do Rio de Janeiro para protestar contra a qualidade de serviços prestados aos estudantes universitários. Durante a manifestação, o estudante Edson Luís, de apenas dezoito anos, foi morto pelos militares. O evento chamou atenção dos veículos de comunicação e logo serviu para que as críticas ao regime se intensificassem. No velório do estudante, uma aglomeração com cinquenta mil pessoas expôs a desaprovação popular ao acontecido.

De acordo com o professor da Pós-Graduação da Universidade Metodista de São Paulo (UMESP), Herom Vargas, foi um período de confronto ao establishment, ou seja, uma tentativa de ruptura de um regime já estabelecido, por parte de uma juventude descontente e com proposta novas e criativas para a sociedade ocidental. Não apenas um confronto do regime, mas sim manifestações contra as regras e leis estabelecidas.

Os protestos que aconteceram em maio de 68 no Brasil, na verdade, já tinham se iniciado em março, onde os estudantes protestavam e lutavam contra o regime militar e por uma melhoria na educação. Um dos slogans de maio de 68 foi eternizado por Caetano Veloso e Gilberto Gil em “É proibido proibir”. Apresentada no Festival Internacional da Canção da Rede Globo naquele ano, a canção foi vaiada pelo público provocando a famosa reação irritada de Caetano: “Mas é isso que é a juventude que diz que quer tomar o poder? (...) vocês não estão entendendo nada!”.

O professor explica que uma das principais produções culturais do Brasil na época foi o Tropicalismo. “O mais radical e criativo movimento e que envolveu várias áreas artísticas, como música, cinema e teatro”, declara. No mundo ocidental em geral, houve a arte pop, o rock, as produções marginais e independentes.

Um filme brasileiro que retrata o clima contracultural dos anos 60 é o“Cinema Novo”, dirigido por Eryk Rocha, mostra a revolução estética, de linguagem e conceitual da época. Na literatura brasileira, Zunir Ventura é autor de “1968, o ano que não terminou", obra que retrata os acometimentos de Maio de 68.

O ano de 1968 foi retratado de várias formas pelas mídias na época, e de acordo com o professor, a grande imprensa brasileira tratava os acontecimentos com distanciamento, por conta da censura e da ditadura. “Já a imprensa alternativa era o grande veículo. Jornais como Pasquim e Bondinho, para citar apenas dois dentre vários, davam espaço para debates, informações e divulgação das novidades criadas pelos movimentos da contracultura. Um exemplo era a coluna de Luiz Carlos Maciel, no Pasquim”, diz.

Cinquenta anos depois, no entanto, as consequências diretas ou indiretas daquelas revoltas juvenis ainda são debatidas e aquele ano deixou muitas heranças para a história e para o campo da cultura e da comunicação. “A ideia de luta por meio da arte, da criatividade e da invenção. Sobretudo a liberdade de criar e experimentar”, conclui Herom.

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