LARPS e séries originais da Netflix são discutidos no grupo de pesquisa ‘Da compreensão como método’

30/05/2019 16h21

Foto: Igor Neves

Igor Neves

A última reunião do grupo de pesquisa ‘Da compreensão como método’ – que aconteceu no último dia 8 de maio na Universidade Metodista de São Paulo – discutiu as mudanças narrativas nas series originais da Netflix e o jogo LARP como contraponto à gamefication.

Tadeu Rodrigues foi o primeiro a se apresentar na reunião, discutindo seu projeto de doutorado “Ludocomunicação: um contraponto crítico-propositivo à gamefication, observado a partir da participação em LARPS”. LARP significa Live Action Role-Playing e pode ser definido, segundo Rodrigues, como “brincar de casinha”. Não possui um objetivo determinado, é uma experiência autocentrada, em que é dado apenas um cenário que inicia a dinâmica.

O LARP vai na contramão daquilo que Rodrigues chama de gamefication, que é a busca de superação para conquista de objetivos, que se intensificou após a explosão do mercado de jogos, que representa 52% da produção de entretenimento nos Estados Unidos.

A proposta do doutorando é que, a experiência do jogo pode mudar a visão do indivíduo a respeito da realidade, por exemplo, um LARP que tenha como cenário um campo de refugiados muda a perspectiva do jogador sobre a crise migratória.

A segunda apresentação foi conduzida por Angela Miguel que apresentou o resultado da sua pesquisa de mestrado, intitulada “Séries originais da Netflix: alterações na estrutura narrativa no contexto do binge-publishing”. No trabalho Angela analisou três obras: 3% (2016-), do Brasil; Dark (2017-), da Alemanha e Sense8 (2015-2018), dos Estados Unidos.

A pesquisadora realizou um levantamento histórico das narrativas seriadas, desde o seu começo nas cineséries, exibidas no cinema, até os serviços de streamming, depois focou no modelo de negócios da Netflix, que, segundo ela, inaugurou um novo modelo de publicação de séries, o binge-publishing, que é quando todos os episódios de uma temporada são disponibilizados de uma vez, fazendo assim com o que o consumidor não tenha que esperar uma semana para acompanhar os desfechos de uma trama. Na dissertação, Angela tentou entender se essa nova forma de distribuição afetou a forma como as narrativas são construídas, baseadas nas séries citadas acima.

Ao analisar os episódios a pesquisadora encontrou duas mudanças fundamentais: não existem mais recapitulações entre episódios – como o “anteriormente em...” – nem dentro da narrativa, quando um flashback era usado para mostrar alguma cena que o espectador possa ter esquecido, agora o flashback é usado como recurso para apresentar novas informações à narrativa. A outra mudança está na ausência da divisão dos episódios em bloco, o que faz com que ganchos que eram usados para conectá-los para instigar o telespectador a continuar assistindo a série depois do intervalo deixam de existir.

Angela, porém, diz não poder concluir se essa mudança é um padrão para todas as séries da Netflix, já que analisou apenas três séries e que não há relatos de roteiristas que possam confirmar a hipótese.

A próxima reunião do grupo acontecerá dia 1 de junho, em São Bernardo do Campo.

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