Grupo de pesquisa do PósCom debate fotojornalismo humanitário

16/10/2019 15h30 - última modificação 17/10/2019 17h01

Foto: Victor Fermino

Amanda Zanco

A fotógrafa Karine Garcêz foi a convidada do grupo de pesquisa Jornalismo Humanitário e Media Interventions, do Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Metodista de São Paulo (UMESP), para discutir e trocar impressões com os pesquisadores do grupo sobre as práticas, os limites, os desafios e as potencialidades sociais e políticas do fotojornalismo humanitário. 

Resultado da pareceria entre o grupo de pesquisa, coordenado pelos professores Cilene Victor e Roberto Chiachiri, e a Cátedra UNESCO/UMESP de Comunicação para o Desenvolvimento Regional, a palestra Infância Refugiada, título homônimo do livro da fotógrafa cearense, convertida ao islã, foi realizada no campus da Metodista, no dia 30 de setembro, e contou com a moderação do fotojornalista Wagner Ribeiro, mestrando do PósCom. 

Wagner Ribeiro abriu o evento com apresentação de alguns conceitos-chave do fotojornalismo humanitário, sugerindo maior aproximação entre as experiências práticas e os estudos na área. O objetivo central da fala do pesquisador foi chamar a atenção para o senso comum que, histórica e culturalmente, passou a entender o ‘impactante’ como uma qualidade determinante da fotografia jornalística. Para orientar o debate, o fotojornalista comentou sobre a ‘fotochoque’, que tem contribuído para conduzir a sociedade à era da fadiga da compaixão, na concepção da pesquisadora Susan Moller, do International Center for Media and the Public Agenda, da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, e uma das referências no campo do jornalismo humanitário. O pesquisador, antes de passar a palavra à Karine Garcêz, ressaltou que a essência do fotojornalismo humanitário é o respeito à dignidade humana. 

Estudante de Relação Internacionais, Karine Garcêz é fotógrafa documental e ativista independente ligada à luta internacional por direito social. Sua fala, durante a reunião do grupo, evidenciou seu envolvimento e profissionalismo em retratar crises humanitárias internacionais de maneira ética e amparada nos preceitos do humanitarismo. A fotógrafa trabalhou em campos de refugiados no Oriente Médio, levando ajuda humanitária e fotografando a realidade das crianças locais. Essa experiência resultou no livro Infância Refugiada: retratos de um conflito, que também é a base de um projeto destinado a levantar fundos para a educação de crianças expatriadas. A poética visual militante de Karine, nas fotos presentes no livro, mostra sua preocupação em não retratar a vulnerabilidade, mas sim a humanização das crianças em áreas de conflito. 

Voluntária em duas organizações não-governamentais de ajuda humanitária, Al-Wafaa Campaign (Holanda) e Humanitarian Relief for Development, a fotógrafa é também palestrante no Projeto Muslimah, no qual explica nas escolas brasileiras os fundamentos do islã, a fim de promover o respeito à diversidade religiosa. 

O encontro teve a presença de estudantes de graduação do curso de Jornalismo, mestrandos e doutorandos da UMESP, professores e ex-alunos. O público participou com perguntas e comentários sobre temas como ética jornalística, postura do profissional na cobertura de crises, a “dor do outro”, a importância da ajuda humanitária, o papel da comunicação e a violação dos direitos humanos. 

O grupo de pesquisa Jornalismo Humanitário e Media Interventions tem realizado encontros mensais com a participação de convidados externos, visando discutir as práticas do jornalismo humanitário e a potencialidade das mídias para interferir e reverter cenários de violação de direitos e de sofrimento prolongado de milhões de pessoas, como os de guerras, conflitos, instabilidade política e econômica, desastres e mudanças climáticas.  Os integrantes do grupo entendem a importância de discutir as teorias e as práticas do jornalismo de base humanitária, contribuindo para a busca de ações de resistência e posturas fundamentadas no respeito à dor do outro e capazes de inibir o uso da mídia para espetacularizar e perpetuar a violação de direitos civis e humanos.

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