Dilema Habitacional #03 Segurança

Professor discute a segurança e a manutenção de prédios ocupados

08/06/2018 11h55 - última modificação 05/07/2018 14h24

Igor Neves

No terceiro vídeo da série sobre os problemas habitacionais de São Paulo, discutimos a questão da segurança e da ocupação de prédios antigos. A entrevista com Ricardo Moretti aborda as formas de fazer com que edifícios abandonados cumpram seu papel social.

O professor do Programa de Planejamento e Gestão de Territórios da Universidade Federal do ABC (UFABC), alerta para o fato de que prédios altos têm sido construídos em São Paulo há mais de cem anos e que desde então os regulamentos de segurança mudaram e os edifícios erguidos no começo do século vinte já não cumprem as normas atuais. “Se você aplicar ao centro da cidade de São Paulo os parâmetros normativos das últimas normas da prevenção de incêndios, você vai chegar à conclusão que praticamente todos os prédios antigos têm uma situação que contraria essa legislação.”, explica.

Para Moretti prédios antigos desocupados só aumentam a sua periculosidade e, ao fazer com que eles sejam habitados, facilita-se a manutenção. “Dar uso para esses prédios mais antigos é um exercício de você, gradativamente, qualificar as condições de segurança”, afirma.

A postura adotada a partir de agora com esses edifícios, segundo o pesquisador, deve ser a mais cuidadosa e equilibrada possível, pois pode-se trocar uma situação de risco por outra, onde o perigo poderá ser, eventualmente, muito maior.

O professor vê como positivo o trabalho dos movimentos que ocupam os prédios abandonados, já que os moradores passam a cuidar da estrutura das construções fazendo as reformas que os próprios donos não realizam. “Essa modificação de melhorias dos prédios, que são quase um passivo da irresponsabilidade dos donos desses prédios, vai sendo transformada por um trabalho de movimentos que são extremamente organizados”, diz.

O tratamento que a mídia direciona às ocupações é desrespeitoso e não reflete a realidade do movimento, segundo Moretti. “Isso nos entristece demais porque no contato que a gente teve ao longo desses anos com esses movimentos, é simplesmente emocionante ver a estrutura a organização, o respeito com que esses movimentos tratam a causa que os une, que é a luta por moradia digna.”

O pesquisador comenta ainda sobre a experiência que os professores e alunos trocam ao entrar em contato com as ocupações. “É uma lição de humildade. Cada visita dessa a gente aprende com os ocupantes desses prédios, dos movimentos organizados várias lições. A gente tem recebido dos alunos, quando voltam das ocupações, depoimentos que são uma marca, uma transformação.”, conta.

Veja a entrevista completa no vídeo abaixo:

Comunicar erros