Aula Magna do PPGCOM/UMESP discute mídia e imaginário
04/09/2019 13h55 - última modificação 06/09/2019 19h11
Igor Neves
A Aula Magna do segundo semestre do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Universidade Metodista de São Paulo foi ministrada pelo professor Mauricio Ribeiro da Silva, docente e coordenador do Programa de Pós-graduação em Comunicação da Universidade Paulista (UNIP), e teve como tema “Intolerância e Estudos do Imaginário no Brasil”.
O professor começou a sua aula destacando que há uma repetição histórica no imaginário da separação entre “nós” e “eles”. Entre o civilizado e o selvagem. Como pode ser observado nas descrições de Pero de Magalhães Gandavo em seu “Tratado da Terra do Brasil”, o autor português demoniza os indígenas pelas morais cristãs e vê a salvação do povo unicamente pela catequização, ou seja, pela imposição da “nossa” cultura sobre a cultura do “outro”, que seria inferior.
Essa visão de inferioridade se estende aos africanos quando são trazidos ao Brasil e se repete com a chegada do fluxo de imigração europeia e japonesa no começo do século XX. Ela também pode ser observada na nova onda de migrações ao redor do mundo, seja a haitiana, a venezuelana ou de países africanos e do Oriente Médio. Silva observa, inclusive, uma repetição nas imagens que essas migrações suscitam ao mostrar como a imagem de um barco de imigrantes africanos chegando à Europa se assemelha às representações dos navios negreiros da era colonial.
O pesquisador atenta a palavras que fazem parte do nosso cotidiano e que normalmente são reproduzidas pelo imaginário sem que se sabia suas reais origens, como “denegrir” e “judiar”. A primeira palavra que tem como significado “tornar negro” era usada no início da colonização portuguesa como forma de indicar a falta de liberdade das populações africanas e indígenas. A segunda está relacionada à expulsão dos judeus dos territórios da península ibérica após a reconquista cristã da região.
Em seguida, o professor começou a expor parte de sua pesquisa: “Entre Deus e o Diabo: a construção do imaginário midiático da Umbanda, uma religião brasileira”, que pretende traçar uma linha na representação da Umbanda na mídia – desde o seu surgimento até os dias atuais.
Silva sustenta a tese de que a Umbanda é uma religião de origem branca – e não africana como está presente no imaginário social. Para isso, o pesquisador comenta os dados do censo de 2010, feitos pelo IBGE, que mostram a Umbanda como uma das religiões em que a maior porcentagem de adeptos é branca, ficando atrás apenas do Espiritismo. Segundo o professor, a Umbanda descende do Espiritismo.
A doutrina espírita, quando chega ao Brasil, é rechaçada e demonizada. Com o passar do tempo, porém, a religião foi ganhando mais adeptos e passou a ser mais aceita na mídia e na sociedade. A partir da década de 30, a Umbanda, que nas primeiras aparições na imprensa era chamada de Espiritismo de Umbanda, começou a crescer exponencialmente, chegando a crescer mais do que o Espiritismo. O que desencadeia, então, um ataque dos espíritas aos umbandistas, fazendo com que essas doutrinas se distanciassem.
A violência policial contra as religiões não cristãs nos anos subsequentes fez com que, segundo Silva, umbandistas migrassem para o Espiritismo e os candomblecistas migrassem para a Umbanda. Tal ideia seguia a lógica do gradiente de “quanto mais preto pior”, ou seja, quanto mais associada aos negros, mais violência essa religião sofreria. É por causa desse movimento que a Umbanda começa a ter mais influências das matrizes africanas presentes no Candomblé, além de ser vista como uma religião de negros.
É a partir desse momento, também, que as representações da religião na mídia passam a ser cada vez mais estereotipadas e depreciativas. O pesquisador destaca o caso da Dona Catifunda, personagem da “Escolinha do Professor Raimundo”, que é representada como rude, estúpida. Ou como ainda, muitas vezes, pais de santo são representados como homossexuais na tentativa de ridicularizar e de satirizar.
Para o professor, ao ser mais associada ao negro, a Umbanda perde o espaço de “prestígio” que tinha em suas primeiras aparições na imprensa, tornando-se objeto de dossiê, como é o caso do texto “As religiões do Rio”, escrito pelo jornalista carioca João do Rio, passando a receber representações humorísticas ou associadas à violência.