Aula Magna do PPGCom: “Temos o dever de sermos ativistas”, diz Norval Baitello

22/03/2019 13h50 - última modificação 22/03/2019 15h52

Professor Doutor Norval Baitello. Foto: Wagner Ribeiro

Nila Maria

Na última segunda-feira (18), o Prof. Dr. Norval Baitello Júnior – docente da Pós-Graduação em Comunicação da Pontifícia Universidade Católica (PUC) – realizou a Aula Magna do PPGCom-UMESP. Com o Tema “Comunicação, Mídia e Ativismo: Tempos Venenosos”, o objetivo do evento foi discutir o papel e os impactos sociais destes três elementos no cenário atual de polarizações ideológicas no Brasil. Estiveram presentes alunos, pesquisadores e professores de graduação e pós-graduação  

Para introduzir o tema, Baitello contou a história do pensador alemão Abraham Moritz Warburg – também conhecido como Aby Warburg –, filho do proprietário de um dos maiores bancos da Alemanha no início do século XX. Apaixonado pelo conhecimento, aos 13 anos, trocou sua herança pela possibilidade de comprar livros “que seriam úteis por toda a vida”. Até sua morte, o intelectual reuniu cerca de 60 mil obras raras e fundamentais sobre a ciência da cultura.

A conexão dessa história com o tema da aula se deve ao fato de que na biblioteca de Warburg havia um “guarda-venenos”, ou Giftschrank, em alemão. Tratava-se de um armário com obras que deveriam ficar reservadas porque “envenenavam a alma”. Ele acreditava que certas produções eram venenosas por terem conteúdos exclusivamente estetizantes, ou seja, apelavam para paixões e as radicalizava, prejudicando, assim, a construção do conhecimento racional e equilibrado.

O conceito do guarda-venenos serviu como ponto de partida para começar a pensar os tempos atuais de polarização ideológica. “Estamos vivendo tempos muito venenosos”, afirmou Baitello. A partir deste daí, foram desenvolvidos os três temas centrais da palestra: mídia, comunicação e ativismo. Os profissionais de comunicação, de acordo com o professor, precisam superar o paradigma estetizante do trabalho na mídia e tratar do sentido real das situações, sendo cuidadosos com os impactos que as mensagens provocarão na sociedade.

Da esquerda para a direita, Prof. Luiz Alberto de Farias e Prof. Dr. Norval Baitello
Na mesa, da esquerda para a direita, Prof. Luiz Alberto de Farias e Prof. Dr. Norval Baitello. Foto: Wagner Ribeiro

Nesta linha de raciocínio, o professor esclareceu ainda que, muito além da troca de informação, a comunicação é o mecanismo de criação de ambientes comuns. Ela permite o estreitamento de vínculos e estabelecem ambientes nos diversos níveis de relações humanas. Baitello considera que a comunicação hoje, não só da imprensa, mas também no ato comunicativo interpessoal e nas redes sociais, pode ser altamente envenenadora dos ambientes. “O propósito é o impacto e não o diálogo”.

Ao distorcer a realidade, ou até mesmo inventar fatos criando, assim, as fake news, desenvolve-se ambientes venenosos, cujos efeitos negativos contaminam o processo cognitivo e alimentam o ódio. “Para nos livrarmos dessas atmosferas contaminadas, vamos ter que criar um aparato de escaneamento e um guarda-venenos nos ambientes onde circulamos”.

Entretanto, se preservar dos venenos, enfatizou o professor, não significa se acomodar e fingir que eles não existem. Ao contrário. É preciso combatê-los. E é neste ponto que o ativismo entra em cena. Todos, segundo Baitello, devem ser ativistas e as ações podem ter um, dois participantes, ou um grupo reunido em torno de um tema. Não importa. O fundamental, garantiu, é agir.

“Podemos ser ativistas pelos direitos humanos, pela defesa do meio ambiente, pelo cumprimento e preservação do estado democrático de direito. Cada um pode escolher a causa com a qual melhor se identifica. O importante é que sejamos ativos e desenvolvamos contra-narrativas para combater os venenos que circulam livre e impunemente nos mais diversos ambientes”, explica.   

É justamente no ativismo que o professor Baitello encontra a esperança e o impulso combativo. Para ele, se as ações ativistas ganharem força e forem eficazes, existe chance de termos um país e um mundo melhor. “De modo contrário, nós e as gerações seguintes seremos envenenados. Por isso, não temos mais o direito de não sermos ativistas”, conclui.

 

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