Alberto Dines deixa legado de intrepidez e busca por inovação no jornalismo

Jornalista, escritor, professor universitário e biógrafo, Dines trouxe para o jornalismo contemporâneo contribuições de importância imensurável

31/05/2018 16h09

Nila Maria

Alberto Dines fez história no jornalismo como poucos conseguiram. Iniciou sua trajetória em 1952, na revista Cena Muda, fazendo críticas cinematográficas. Posteriormente, na revista Visão, começou como repórter na editoria de arte e, mais tarde, migrou para a cobertura política.

Dines foi um caso raro: não passou por universidades para aprender a profissão de jornalista. Considera-se que sua bagagem é empírica – aprendeu na prática a vivência do ofício no que McLuhan (1968) chama de “escola sem paredes”. Sua passagem pela academia como aluno resume-se ao curso de extensão na Columbia University, a fim de aperfeiçoar o conhecimento adquirido na prática.

Neste período, foi editor-chefe do Jornal do Brasil, onde pode colocar em prática todo o conhecimento agregado ao longo de seu percurso. E foi justamente no JB que, de forma ousada, escreveu sua página na História. No dia seguinte à promulgação do AI-5, publicou, no canto da capa, uma precisão do tempo cheia de metáforas sarcásticas sobre o clima na capital do país.

Na ocasião da morte do presidente chileno Salvador Allende, os generais proibiram que os jornais publicassem qualquer manchete sobre o fato. Dines acatou. Sem manchete, imprimiu a capa noticiando o suicídio de Allende.

Em 1974, publicou O Papel do Jornal, livro em que aplica diversas características do jornalismo comparado, disciplina que ajudou a introduzir ao currículo do curso em 1965, quando atuava como professor colaborador na PUC do Rio de Janeiro.

O livro ganhou uma nova edição uma década mais tarde. Atualizada, a obra recebeu a contribuição do professor José Marques de Melo, que teve o privilégio de escrever seu prefácio. “Sempre recomendei aos meus alunos a leitura de O papel da imprensa por se tratar de um contraponto de natureza qualitativa à metodologia que adotei na USP, ao conduzir as atividades de ensino e pesquisa do jornalismo comparado, pois acompanhava  a orientação quantitativa de Jacques Kayser”, relata.

A premissa da teoria jornalística de Dines é a de que “jornalismo é a busca da circunstância”. E isto era característica natural sua: tinha grande sensibilidade para notícia, para encontrá-la nas circunstâncias.

Em abril de 1996, Dines participou da criação do que é considerado o ápice de seu “magistério jornalístico”, o Observatório da Imprensa. Trata-se de uma entidade civil sem vínculos com partidos, empresas ou governos, que existe para acompanhar a mídia brasileira, seu desempenho e a forma como se desenvolve ao longo dos anos. Marques de Melo considera o OI como “a universidade aberta na era digital”.

Alberto Dines partiu no último dia 22, aos 86 anos, em virtude de uma insuficiência respiratória causada por uma pneumonia.

 

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