A situação do refugiado sírio no mundo é tema de palestra do Comuni

27/06/2017 08h15 - última modificação 27/06/2017 10h08

Cicilia Peruzzo e Sheikh Jihad Hammadeh. Foto: Vittória Cataldo

Vittória Cataldo

O Núcleo de Estudos de Comunicação Comunitária e Local (COMUNI) promoveu na terça feira, dia 13 de junho, a palestra “A Situação do refugiado sírio no mundo”, ministrada pelo Sheikh Jihad Hammadeh, formado em Teologia e Jurisprudência pela Islamic University de Medina (Arábia Saudita), em Ciências Sociais pelo Centro Universitário de Anhanguera (Uni A) de Santo André e em história pela Uniban (São Bernardo do Campo). Atualmente é mestrando no Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social na Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Além de ser o representante da comunidade Islâmica no Brasil, Jihad é também diretor da Assembleia Mundial da Juventude Islâmica da América Latina (WAMY) e presidente do Conselho de Ética da União Nacional das Entidades Islâmicas (UNI).

Refugiado é toda a pessoa que, em razão de fundados temores de perseguição devido a sua raça, religião, nacionalidade, associação a determinado grupo social ou opinião pública, encontra-se fora do seu país de origem, e que, por causa dos ditos temores, não pode ou não quer regressar ao local. Em situações de refúgio, milhares de famílias são separadas. Jihad deu como exemplo a esposa que vai para a Alemanha, o pai para a Turquia e os filhos que vão ao Brasil para morar com os avós. “As saídas de pessoas dos seus lares continuam”, afirma. Em visita aos campos de refugiados na síria e na Missão Turquia, Sheikh Jihad Hammadeh deixa claro que fazer a cobertura das consequências das Guerras é tão importante quanto cobrir as próprias Guerras.

Não existe nenhuma base religiosa para o conflito na Síria, pelo contrário, a ONU considera esta a pior crise humanitária do século. Eles fogem por conta de conflitos internos, guerras, perseguições políticas, ações de grupos terroristas e violência aos direitos humanos. Metade do fluxo anual de refugiados é de sírios, devido à fuga da guerra civil que o país vivencia desde 2011. “O problema não é o conflito religioso, o problema é a questão da terra”, comenta Jihad.

“O que saí na mídia sobre isso é muito pequeno em relação a uma grande realidade” afirma o Sheikh. Na Turquia existem 4,5 milhões de refugiados, que em sua maioria precisaram vender seus bens para conseguir sair do seu país de origem. Os campos de refugiado, geralmente, são formado por tendas precárias, o que prejudica a qualidade de vida das pessoas, pois no verão faz muito calor e no inferno chega a nevar. Há um grande número de mortes devido às essas condições climáticas. Desnutrição também é algo muito presente na realidade dos refugiados, devido à falta de alimento.

Conforme o acordo do Brasil com a ONU, o visto é concedido ao refugiado, caso ele solicite. Porém, ele só tem direito ao visto de turismo e permanece no país por conta própria, diferente da Europa, em que é fornecido visto e o país acolhedor fica responsável pelo refugiado. Importante ressaltar que o refugiado só consegue o visto europeu caso consiga entrar no continente.

Na teoria, a lei brasileira de refúgio criou o Comitê Nacional para os refugiados (CONARE), um órgão interministerial presidido pelo Ministério da Justiça e que lida principalmente com a formulação de políticas públicas para refugiados no país. A legislação garante documentos básicos, incluindo documento de identificação e de trabalho, além da liberdade de movimento no território nacional e de outros direitos civis.

O visto que demoraria 90 dias para ficar pronto, na realidade demora 3 anos, pois a responsabilidade é transferida de mão em mão, do Ministério da Justiça para a Polícia Federal, e os refugiados encontram cada vez mais problemas, pois não estão familiarizados com a língua, com a comida e nem com a cultura. “Estão em um país muito distante da sua terra natal. Muitos saem com um pensamento de que um dia irão retornar para seu país de origem, mas vindo para o Brasil, veem que fica cada vez mais difícil esse retorno”, comenta Jihad.

As condições do tratamento dos refugiados na Europa são muitos melhores do que no Brasil, pois é realizada uma triagem muito grande, admitem muitas pessoas formadas, jovens e pessoas com filhos pequenos. Tudo muito planejado e com um objetivo. “Ninguém faz nada de graça, infelizmente”, observa Jihad, explicando que a Europa está velha e precisa manter sua cultura, ou seja, acontece uma assimilação da cultura por parte dos refugiados, que perdem sua cultura natal para assumir a cultura europeia.

A I know my rights (IKMR), (Eu sei meus direitos) na Turquia, cuidam de crianças refugiadas órfãs. “Essas crianças, muitas vezes como não tem ninguém que busque por elas, são as vítimas de tráfico internacional de órgãos”, comenta o Sheikh. Ele relata uma experiência com um garoto refugiado de 7 anos. Na ocasião, perguntou ao menino qual era a sua visão de futuro e se surpreendeu com a resposta. “Ele me disse que não tinha futuro e que só queria ir para casa e morrer lá. Chega um momento que você não aguenta. Você chora também”, conta Jihad.

Por fim, o Sheikh mostrou vídeos e fotografias de suas experiências com os campos de refugiados e iniciou um debate sobre a temática. “As pessoas não têm ideia do que é um refugiado, de como eles vivem”, declara, dizendo que os refugiados têm resquícios de guerras e de muitos bombardeiros. “Infelizmente a vida de um refugiado é lamentável”, afirma. Essas pessoas estavam tranquilas nas suas casas, e da noite para o dia precisaram comprar passaportes para fugir dos seus países. Ultimamente a população tende a pensar que se existe terrorismo no Oriente Médio todas as pessoas que vem de lá também o são. “Nós desqualificamos o Oriente Médio”, conclui Jihad.

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