A Guerra Secreta nos veículos midiáticos

Sobre The Post — Guerra Secreta, de Steven Spielberg, 2017

27/04/2018 13h22

Foto: divulgação do filme The Post

Pedro Zuccolotto

Dramatização de fatos históricos é uma maneira interessante de contar uma história que poderia ser considerada tediosa se fosse feita de outra maneira. Com a popularização do filme Spotlight (vencedor do Oscar de melhor filme em 2016), o mundo parece ter dado um pouco mais de atenção aos dramas históricos jornalísticos.

The Post — Guerra Secreta, dirigido e produzido por Steven Spielberg, se passa no início dos anos 70. O famoso jornal The New York Times consegue acesso a documentos vazados do pentágono (que ficaram conhecidos como Pentagon Papers). Esses papéis continham informações cruciais sobre o envolvimento dos Estados Unidos na guerra, como manipulação das eleições, ou seja, provas de que o Estado mentiu para sua população. O jornal publica uma matéria sobre o caso, mas o governo norte-americano (comandado na época por Richard Nixon) cria um embargo para que nenhum outro jornal publique mais informações a respeito do caso.

Nesta situação, o The Washington Post também consegue acesso aos documentos vazados. O editor executivo, Ben Bradlee (interpretado por Tom Hanks), anseia em publicar essa história como apoio aos seus companheiros de trabalho do The Times por terem sido vítimas de censura por parte do governo. É uma questão de liberdade de imprensa e do direito de contar a verdade. No entanto, a proprietária do jornal, Katharine Graham (interpretada por Maryl Streep), é amiga próxima de algumas pessoas diretamente envolvidas, como o Secretário de Defesa Robert McNamara. Logo, ela se encontra em uma saia justa: defender o espírito jornalístico e publicar a matéria ou manter o bom relacionamento com os envolvidos no caso?

Nas cenas finais, também foi abordado, de forma rápida, o famoso Caso de Watergate. Na manhã do dia 18 de junho de 1972, o jornal The Washington Post noticiava, nas capas, uma pequena nota sobre o assalto à sede do Comitê Nacional Democrata, no complexo Watergate. Apenas dois anos após o ocorrido, com muita investigação, que dois repórteres do mesmo jornal descobriram que os assaltantes, na verdade, estavam envolvidos com o presidente Nixon. O ocorrido se tornou o mais conhecido caso de espionagem dos EUA e culminou na renúncia do presidente.

 

“A única maneira de defender o direito de publicar é publicando.” — Ben Bradlee

 

Este filme mostra, acima de tudo, a importância da imprensa no papel de fiscal das relações de poder entre a sociedade e o governo. É comum encontrarmos situações hoje nas quais nossos governantes acham que têm poder sobre a imprensa, como Donald Trump caluniando os diversos veículos norte-americanos que vão contra seus ideais. Traçando um paralelo com o Brasil, temos, por exemplo, o ex-prefeito de São Paulo João Doria, que chegou a atacar jornalistas em coletivas de imprensa.

O longa é um aviso: um sinal de atenção sobre a necessidade da imprensa em tempos tão difíceis para a nossa sociedade. Os veículos não devem se curvar às vontades de empresas e dos poderosos. Como dizia um professor meu, “jornalismo que não critica se torna publicidade”. Emplacando com SpotlightThe Post consegue se tornar extremamente importante ao contar uma história que reafirma o papel dos jornalistas como mediadores das relações de poder e defensores dos direitos dos cidadãos.

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