Responsabilidade Social X Assistencialismo
28/10/2016 20h10
Nathany Ferreira
Tainá Esteves
Foto: arquivo pessoal
Não só organizações econômicas prestam serviços a fim de promover o bem estar da população e do meio ambiente. As desigualdades socioeconômicas impulsionaram o surgimento do Terceiro Setor que vem suprir as necessidades que o Estado não consegue cumprir, atuando em diversas áreas, como cultura, saúde, educação, cidadania, meio ambiente, entre outras. É um desafio porque muitas vezes elas não recebem auxílio público e dependem de empresas, pessoas físicas e voluntárias para a sustentação de projetos em prol da sociedade em que se encontram.
Cada vez mais as organizações estão buscando formas de se diferenciarem a partir de sua imagem e investindo em responsabilidade social. No entanto, muitas empresas ainda não sabem direcionar seus projetos sociais sem partir de um caráter assistencialista.
Segundo Michelle Wolf, especialista em Responsabilidade Social Empresarial há quase 10 anos, as empresas ainda acreditam que o assistencialismo é a forma correta de trabalhar este assunto. “As grandes empresas tem se aprimorado no assunto RSE e muitas já possuem equipes especializadas. Porém, ainda existe uma minoria que prega o assistencialismo achando que é a forma certa de ajudar doando dinheiro e materiais, sem ao menos estudar a instituição, avaliar a sua real necessidade e promover um crescimento sustentável em conjunto”, explica Michelle.
Ela conta que em suas experiências, o viés assistencialista não é apenas das empresas, mas as ONGs também assumem esse caráter tortuoso: “trabalhei com muitas ONGs grandes, médias e pequenas. Muitas vezes uma pequena instituição acredita em um trabalho mais estratégico ao longo prazo, como por exemplo, a sua ampliação, investimento em tecnologia, capacitação de profissionais com o objetivo de atender mais pessoas e se fortalecer perante a comunidade, enquanto uma ONG mais estruturada, só quer receber prendas para uma festa junina".
De acordo com Michelle, existem diversas realidades em projetos sociais e ela acredita que com o incentivo das grandes empresas e as áreas de Responsabilidade Social atualmente, as ONGs também têm acompanhado e ampliado horizontes de não só arrecadar, mas também investir de fato em projetos estruturados para o seu crescimento.
Ela, que já coordenou um projeto de capacitação de ONGs de Santo André em que ensinava que eles tinham que ter habilidade em elaborar projetos robustos e articulados que valorizassem e fortalecessem suas potencialidades. Mas em alguns casos as próprias ONGs acabavam desistindo do curso porque não importava para elas um projeto em longo prazo, e sim doações.
Porém Michelle pontua que existem casos emergenciais, como arrecadação de alimentos ou produtos essenciais a determinadas ONGs, e que é valido ajudar de forma assistencialista nessas situações. “Em muitos momentos recebi pedidos desesperados de ONGs necessitadas por um pouco de leite, fraldas, comida. Apesar de incentivarmos e capacitarmos as instituições, se temos condições de promover campanhas de arrecadação e ajudar nestas emergências, não podemos dizer não. Temos que ajudar", exemplifica ela.
No entanto, para ela esse cenário está mudando, uma vez que as empresas querem investir em projetos estratégicos, que deem visibilidade à corporação. E conclui: “a Responsabilidade Social é a área que contribui mais estrategicamente com as comunidades e ONGs onde a empresa atua. Isso quer dizer, ensinar a pescar o peixe. Investir em projetos estratégicos em que a comunidade/ONG possa ser protagonista de seu próprio crescimento, fortalecendo e favorecendo seu desenvolvimento sustentável".