Lobby, ética e transparência no atual contexto brasileiro
27/11/2017 21h05 - última modificação 06/12/2017 16h56
Juliana Tavares Prates
Bruno Badari de Almeida
Foto: Arquivo Pessoal
O avanço de operações anticorrupção, como a Lava Jato, suas diversas fases e desmembramentos, demonstram a desintegração moral e a falta de responsabilidade dos políticos brasileiros. Estes fatos moldam as pautas da imprensa e, até certo ponto, influenciam na maior cobrança da população pela probidade e transparência, tanto dos atores estatais quanto dos privados.
Neste contexto, a regulamentação da atividade de relações e representações institucionais (lobby) é debatida com maior ênfase na sociedade, já que, em teoria, resultaria na diminuição do problema da corrupção no Brasil.
Segundo Paulo Nassar, diretor-presidente da Aberje e professor titular da ECA-USP, os projetos para regulamentar a atividade são benéficos, desde que não sejam realizados com o objetivo final de representar e beneficiar categorias profissionais e corporações específicas.
De acordo com o especialista, a Constituição Federal brasileira garante que o lobby possa ser realizado por qualquer cidadão, por isso, é incorreto afirmar que somente determinada profissão exerça esta atividade. Profissionais podem, portanto, aumentar a qualidade da argumentação, mas não se deve cercear o direito do indivíduo de também cobrar melhorias nas ações estatais.
Hoje, a visão que os públicos têm sobre a atividade de lobby é negativa, pois a imprensa divulga com maior destaque as práticas antiéticas, mas existem profissionais que exercem as relações institucionais de forma correta e dentro da legalidade. Para Nassar, “a educação dos públicos é importante para mudar a visão da sociedade sobre a atividade. Artigos, debates, matérias na imprensa sobre ações de lobby feitas de forma ética podem mudar, no futuro, a percepção das pessoas acerca do tema”.
Quando uma organização se relaciona com o Estado, ela tem de compreender que suas ações podem afetar toda a sociedade. Segundo Nassar, os profissionais de Relações Públicas são essenciais na atividade, pois eles dão os parâmetros éticos, técnicos e estéticos do lobby e, a partir da visão relacional, orientam as organizações para atuar dentro de princípios e valores que estejam alinhados com a sociedade em que estão inseridas.
Os especialistas da área de RP são responsáveis, em suma, pelo tom das ações relacionais e da reputação das organizações. Por isso, entendem que, se as ações não forem ancoradas na ética, não serão sustentáveis ao longo do tempo e poderão gerar crises de grandes proporções, com danos irreparáveis para a imagem das instituições.