Você está aqui: Página Inicial / Reportagens / 2014 / Povo Paulista

Povo Paulista

Povo Paulista

Influência da fé

Deus no Poder

Como os evangélicos conquistaram tanto espaço na política brasileira e no Congresso Nacional

Por Diógenes Dileu, Guilherme Batista e Régis Soares

A presença de evangélicos na política não é mais novidade. O grupo vem conquistando números expressivos nas urnas e já é uma bancada relevante na Câmara. Existem candidatos de outras religiões, mas a dúvida que fica é a seguinte: por qual motivo os evangélicos estão tanto em evidência?

Para se ter uma ideia do tamanho da bancada evangélica, tomemos como exemplo as eleições deste ano. De acordo com a Frente Parlamentar Evangélica e o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), 80 deputados federais foram eleitos e irão compor a bancada a partir de 2015, correspondendo a um total de 15% das cadeiras na Câmara. 

O número expressivo de deputados evangélicos na Câmara só representa uma parcela visível do avanço maciço da religião no país nos últimos anos. Foi o que mostrou o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) no Censo de 2010, que apontou que uma em cada cinco pessoas no Brasil se diz evangélica. E esse cenário se mostra ainda mais otimista. Segundo estudo da Escola Nacional de Ciências Estatísticas, do IBGE, em 2040, os pentecostais serão maioria no Brasil a partir de 2040.

O crescimento da população evangélica no Brasil também vem sendo recebido com uma dose de rejeição por grupos que desaprovam a presença dos evangélicos na política. Para Fátima Farias, pastora da igreja Renascer em Cristo, é um direito dos evangélicos estarem inseridos nos três poderes. "Muitas pessoas se colocam contra e dizem que religião não pode ter ligação com política. Porém, assim como grupos de minorias, nós também temos o direito de ter uma representatividade legal. É mais uma maneira de levar o nosso evangelho para frente", disse.

“Os candidatos evangélicos representam a voz de milhares de pessoas no Brasil. Poder contar com alguém da igreja no setor político abre muitas portas para os evangélicos", acrescentou a pastora.

Evangélicos e política não é algo novo

Para quem acha que os evangélicos chegaram agora na política está, no mínimo, enganado. Este cenário parte da década de 80, quando igrejas pentecostais como Igreja Universal, Assembleia de Deus, Congregação Cristã e Igreja Renascer em Cristo, começam a pregar a religião no país. A partir desta nova relação dos evangélicos com a população, passa-se a organizar, em 1986, a criação de um grupo político que represente a religião. Nasce assim, a tão famosa bancada evangélica, representada por 32 deputados ligados às igrejas. “Penso que chegar ao poder é uma forma de realizarmos tais mudanças e quebrar todos os paradigmas que existem em torno dessas principais questões”, disse Silvana Silva, evangélica e candidata a deputada federal pelo PT - Santo André. Ela é convicta de que essa denominação religiosa possui seu peso e seu valor na política nacional, pois os fieis estão em busca de opções e querem ver seus representantes lutando por aquilo que acreditam.

“Temos nosso peso e não é pouco. Um irmão da igreja que vai às urnas e se depara com candidatos que não condizem com aquilo que deseja, pensa como seria bom se houvesse um candidato com ideais parecidos com o seu. Creio que isso é o que passa pela cabeça de milhões de evangélicos no país”, afirmou.

Um número grande de fieis representa votos, e pensando desta maneira, candidatos que não possuem ligações com a religião vêm se aproximando das igrejas para demostrar maior relação com os evangélicos. Joanildo Burity, professor de Ciências Sociais, na Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), nos traz uma reflexão que sintetiza tudo o que aqui é colocado. “O que é religioso não é o lado de fora do poder, mas a maneira como o poder se constitui e se reproduz.” Aquilo que vem das religiões (candidatos, partidos, apoios e etc.) contribui para que o poder seja formado por aqueles que o almejam. Mais do que isso, se reproduz no sentido de trazer outras pessoas para encorpar e tornar mais forte essa legião que cresce cada vez mais no âmbito político, explica Burity. Tudo isso nos traz uma ampla noção de como podemos pensar a relação política e religião de várias formas. “Quem não tem esse pecado, atire a primeira pedra”, disse o professor, em relação às divisões que os partidos fazem uns dos outros. Isso também se refere a nós, quando achamos que pessoas de determinada religião devem ficar separadas da nossa vida por algum motivo, seja religioso ou não.

Religião e política lado à lado:

foto da matéria especial

Estado Laico x Democracia

Muitas pessoas contestam os evangélicos quando o assunto é política. E o principal argumento usado é que o Estado é laico, por isso é preciso separar a Igreja do Estado. No entanto, será que realmente deve ser assim? Por representar uma grande parcela da sociedade e como vivemos em uma democracia, os evangélicos devem ser representados por algum governante. Primeiro vamos à definição de estado laico. O termo vem sendo utilizado no Brasil como fundamento contra a instituição de feriados nacionais para comemorações de datas, monumentos em lugares públicos e contra o uso de símbolos religiosos em repartições públicas. Até mesmo a expressão “Deus é Fiel”, constante nas cédulas de real, vem sendo alvo de questionamentos.

imagem de campanha da presidete Dilma

É importante ressaltar que o conceito de Estado laico não deve se confundir com Estado ateu. No entanto, o ateísmo também se inclui no direito à liberdade religiosa. É o direito de não ter uma religião. Assim sendo, confundir Estado laico com Estado ateu é privilegiar esta crença (ou não crença) em relação das demais. Além da forte bancada evangélica no Congresso, outro exemplo claro do poder religioso nas decisões políticas, acontece quando no fim de agosto a então candidata evangélica à Presidência pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB), Marina Silva apresentou seu plano de governo e no dia seguinte o pastor Silas Malafaia criticou algumas questões abordadas no projeto. O líder evangélico criticou o ponto que dizia respeito à união civil homossexual. Marina até então era a favor – e reafirmou isso em vários programas de televisão ao longo da semana.

Mas será que evangélico vota em candidato evangélico? A presidenta reeleita Dilma Rousseff foi a único candidata que buscou usar as redes sociais para publicações voltadas para esse público. No texto, ela afirma: “Lideranças evangélicas se reuniram em São Paulo para oficializar o apoio à reeleição da presidenta Dilma Rousseff e à candidatura de Alexandre Padilha (PT) ao governo do estado. O anfitrião do evento, pastor Luciano Luna, afirmou que o PT se destaca por sua preocupação com a área social e representa a melhor opção de governo, para o País e para São Paulo. O estado está saturado de 20 anos da mesma coisa. Existe um sentimento de mudança na governabilidade.”A candidata do PSB não queria que a união civil constasse, em seu programa de governo, com o nome de “casamento”, porque remetia a um ato religioso. Outra questão abordada por Malafaia falava da lei que torna a homofobia um crime, defendida na primeira versão de seu programa. Essa lei já foi rejeitada no Senado. Religiosos alegaram na ocasião que ela não dizia com clareza se dogmas pregados nos templos, sem intenção ofensiva, poderiam ser classificados como “homofobia”.

No entanto, o líder religioso e diretor da editora Reino que publica a revista Ideal Cristão, Jonatas Nicolau, acredita que grande parte dos evangélicos procura candidatos que são evangélicos, e normalmente líderes religiosos acabam se elegendo apenas por levantar a bandeira de Deus. Mas na realidade a própria Igreja cobra do político evangélico projetos voltados à sociedade. “Durante muito tempo a igreja não participava da política, primeiro porque achava que a política não vinha de Deus. Então não nos envolviamos”, explicou Jonatas. Segundo o diretor, conforme foi evoluindo o acesso à informação e outras questões, a igreja passou a entender como funciona o processo e que a participação política se faz necessária para combater algumas questões que vão contra os princípios cristãos:

“Querem institucionalizar o pecado na nação”.

Analisando opiniões divergentes sobre a inserção dos evangélicos na política, fica claro que, a população de fiéis vem crescendo e tem perspectiva de crescer ainda mais. Dado este cenário, é um caminho natural que as igrejas neopentecostais levem ao poder seus representantes mais significativos. Até 2040, o Brasil ficará de joelhos diante da constituição e do evangelho.

Formas de atuação

A Cruz e o Congresso

Analisando o movimento evangélico

Por Cássio Ferrari e André Teixeira

O número de evangélicos no país e na política segue crescendo nos últimos dez anos. Porém, ano passado foi um momento de grande destaque deles na mídia e nas redes sociais pela atuação contra a PL 122 que visava criminalizar a homofobia, mas criminalizava também, tacitamente, a livre manifestação dos preceitos cristãos.Além desta, muitas outras posições e propostas da bancada evangélica se destacam na sociedade e no Congresso Nacional. Por isso, a Revista Povo Paulista entrevistou a doutora em Ciências da Comunicação pela USP (Universidade de São Paulo) e autora do livro “A explosão gospel. Um olhar das ciências humanas sobre o cenário evangélico no Brasil (Rio de Janeiro: Mauad, 2007)”, Magali do Nascimento Cunha que nos explicou mais sobre o atual cenário político dos evangélicos no país.Magali Cunha, professora doutora em  comunicação  social pela Universidade Metodista de São Paulo

1. O que explica o crescimento dos evangélicos na política?

R. Até os anos 1980, havia uma compreensão por parte dos crentes em não se envolver com política. Mas com o crescimento das igrejas pentecostais como Assembléia de Deus, Congregação Cristã, além de grupos novos, como Igreja Universal, Igreja da Graça e Igreja Renascer em Cristo, que surgem depois dos anos 1980, se percebe uma mudança de postura. São estes grupos que buscam um espaço público de atuação para além da igreja, com projetos de presença na mídia. Surgem rádios e canais de TV que não pertencem a igrejas tradicionais como a Igreja Metodista ou a Igreja Presbiteriana. Esse projeto de visibilidade é acompanhado pelo projeto político, uma vez que para conseguir concessões é necessário estar no Congresso fazendo lobby.Em 1986 surgiu a chamada bancada evangélica, com 32 deputados, ligados a essas igrejas citadas, pentecostais e neopentecostais. Hoje, a influência desta bancada é perceptível até nos presidenciáveis. Com o desenvolvimento da religião no Congresso, a postura desses grupos também se transformou. Atualmente, a postura ideológica se tornou importante, com bandeiras bastante definidas em questões como a moralidade sexual, e a salvação da família.

2. No quadro político esquerda e direita, onde se encaixam os evangélicos?

R. Quando falamos de evangélicos, é possível perceber uma tendência mais conservadora ao se tratar de assuntos progressistas, como por exemplo a sexualidade, o aborto e direitos homossexuais. Porém, há uma diversidade muito grande dentro do grupo, então não há uma homogeneidade de pensamento quando se tratam de questões mais complexas, como economia e distribuição de renda. Quando falamos de esquerda e direta, não é possível encaixá-los fixamente em nenhum dos “lados”, porque em alguns momentos eles se posicionarão favoráveis do ponto de vista da esquerda como temas trabalhistas, mas em questões como ordem da moral sexual eles penderão mais à direita.

3. Tanto Marina Silva quanto Pastor Everaldo adotaram para sua política econômica, um forte conceito liberal. Existe uma ligação dos evangélicos com o liberalismo?

R. Marina Silva nunca teve essa identidade evangélica tão forte, já que ela atuava na política antes mesmo de se converter à religião. Mesmo que sua figura hoje esteja muito atrelada aos evangélicos, ela não defende a bandeira de sua religião da mesma forma que o Pastor Everaldo. Toda sua postura e projetos relativos à economia, é ligado à seu partido nessas eleições, o PSB. Ela não apresenta essas propostas por ser religiosa, mas por estar inserida num partido que acredita nisso. No caso do Pastor Everaldo, é uma postura nova e surpreendente, porque trazendo essas propostas do mundo neoliberal, como políticas de livre regulação e estado mínimo, ele faz uma conexão com sua forte bandeira religiosa, o que mostra uma tendência de afinamento das propostas dos grupos religiosos conservadores que o pastor representa, com políticas econômicas neo-liberais.

4. Você acredita que essa ligação de evangélicos com as alas conservadoras trouxe perseguição aos grupos evangélicos, por parte da esquerda?

R. Os grupos de movimentos sociais e grupos da política à esquerda, quando percebem a força dos grupos evangélicos, e seus projetos que defendem causas contrárias à ideologia esquerdista, iniciam um processo de oposição comum na arena política. Essa percepção se da em 2010, na campanha dos candidatos a presidência. Até então as pautas evangélicas não recebiam grande destaque no cenário político. Porém quando se começou a discutir a legalização do aborto, é que se começou a prestar atenção no grupo evangélico, sua influência na sociedade e seus projetos para a nação. Em 2013, com o Pastor Marco Feliciano sendo eleito presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias, as grandes mídias começaram a dar destaque para as questões defendidas pelos evangélicos, com grandes reportagens e análises sérias sobre a moralidade sexual e todos os assuntos e polêmicas que se seguiram. Então eu diria que não é uma perseguição, e sim uma reação dos grupos esquerdistas ao crescimento do poder e influência dos evangélicos.

5. Casos como o aborto de anencéfalos e a legalização do casamento homossexual, tem mostrado que a agenda progressista do país segue muito forte. Qual a perspectiva de atuação dos evangélicos nesses casos?

R. É um jogo de forças. Eles de fato não conseguiram nesses casos citados, mas tiveram vitória no caso da criminalização da homofobia, com a articulação com segmentos conservadores que arquivaram a proposta. E agora, com a composição mais conservadora do congresso desde1964, a tendência é de que pautas como essas terão e serão defendidas com mais força.

6. O Estadão publicou esse mês, uma notícia em seu site, afirmando que o recente Congresso eleito é o mais conservador desde 1964, de acordo com o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap). Isso reflete de alguma forma o crescimento dos evangélicos na política?

R. Há um contraponto interessante, eles [ os evangélicos ] eram numericamente 73 pessoas, e agora a lista está em 71 evangélicos, ou seja, a participação deles no congresso não aumentou. A previsão era de que eles chegassem a 100 membros este ano.Isso quer dizer que o crescimento dos evangélicos nos últimos anos como grupo, não se consolidou em números na política. Vai haver composições ideológicas, porque se o congresso tende a ser mais conservador e o grupo evangélico também - não necessariamente todos, mas uma maioria -. É preciso observar as composições que vão ser feitas, mas o fato é que este congresso será mais conservador, e, portanto pautas como moralidade sexual tende a ter resultados menos progressistas.

7. Você acha que a religião deve fazer parte da política?

R. Eu não diria que deve fazer parte da política, diria apenas que a religião pode participar por direito. Pois se nós usarmos o termo “deve”, a presença dos grupos religiosos na política se torna uma obrigação e não uma opção, isso porque existem até mesmo grupos religiosos que não querem se envolver, por lidar com a espiritualidade como um fator descolado ao mundo. Concluindo, eu diria que a religião pode fazer parte da política, assim como outros grupos sociais como, por exemplo, os professores.

8. Como você acha que a parcela da população brasileira que não é evangélica vê a presença dos evangélicos na política?

R. Pelo o que observamos nas grandes mídias, as reações por parte dos políticos e alguns outros seguimentos sociais são negativas, com discursos sobre uma ameaça a democracia: Primeiramente, uma ameaça ao Estado Laico. Segundo, uma ameaça aos avanços que foram construídos desde o fim da ditadura militar, pelo conservadorismo.Eu discordo dessas posições, pois a presença dos evangélicos na política está dentro do processo democrático, assim como existe a bancada dos empresários, dos ruralistas, da segurança, da mídia se articulando dentro da política. É um direito destes grupos terem expressão, participação na política do país . Portanto, penso que quem se incomoda com a religiosidade influenciando a política, deve fazer oposição, colocando esses temas em pauta, assim também exercendo seu direito de participação no processo democrático.

9. Uma pesquisa publicada pelo Censo Demográfico do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em 2012 apontou o crescimento do número de evangélicos no país em 61%, no período de 10 anos. E esse número é ainda maior hoje, com tendência a se desenvolver cada vez mais. Você acha que este fato influenciou o discurso dos presidenciáveis durante a campanha pela eleição?

R. Com certeza. E podemos observar esse fenômeno há mais de 10 anos, mas no ano de 2010 este crescimento ficou mais evidente. O censo de 2000 foi o que chamou atenção para esse grupo, pois os evangélicos saíram de 9% da população para 15%, e já podíamos ver na campanha de 2002 do presidente Lula, essa relação forte com os evangélicos. Os evangélicos de esquerda criaram um movimento chamado MEP (Movimento Evangélico Progressista) para apoiar o Lula em 2002. O crescimento deste grupo já vinha de 1989, mas foi em 2002 que se tornou mais forte. Já em 2010, a ascensão dos evangélicos se tornou ainda maior em termos numéricos, saindo de 15% para 22% da população. Percebe-se então um grupo religioso até então pequeno e que agora é significativo nesse universo da população brasileira.

10. Você destacaria a atuação de algum evangélico na política? Como você julgaria essa atuação?

R. Na Câmara dos Deputados quem mais se destacou, principalmente durante o ano passado, foi Marco Feliciano. Ele dobrou o seu número de votos, recebendo 220.000 votos quando foi eleito pela primeira vez em 2010, e agora eleito com quase 400.000 votos. Ou seja, mesmo com todas as críticas e controvérsias, ele obteve essa excelente votação, sendo o terceiro deputado mais votado em São Paulo. Há também o deputado Eduardo Cunha, que é líder do PMDB na Câmara e vem do Rio de Janeiro, sendo um evangélico ligado a uma igreja do Sara Nossa Terra. Cunha foi um dos mais ardorosos deputados opositores ao Marco Civil da Internet, trabalhando contra para defender as empresas de telefonia, que não desejavam a aprovação do projeto.No Senado, nós temos como destaque o senador Magno Malta, cantor de pagode gospel, cujo destaque veio nos anos 2000, quando se tornou senador pela liderança da CPI da pedofilia, fazendo grandes investigações. Hoje ele segue com a bandeira da diminuição da maioridade penal.

Galeria

 

Vídeo

Pastor cita o governador Geraldo Alckmin e a presidenta eleita Dilma Rousseff durante pregação:


Iluminado

Entre o voto e a oração

A história de David e Golias se repete nas eleições

Por Paulo Malavolta e Fábio Mendes

“Acredito em milagres.”

Foram essas as primeiras palavras do pastor Everaldo ao ser escolhido como o candidato do PSC para a Presidência da República. Mesmo sendo um homem de fé, ele já parecia saber que suas chances de vencer eram quase nulas. Filho e neto de pastores, Everaldo afirma que nasceu e foi criado dentro da Assembleia de Deus. Na igreja, aprendeu que era por meio do trabalho e esforço que Deus o agraciaria. De família pobre, teve de ganhar dinheiro desde cedo. “Com 8 ou 9 anos, já trabalhava como camelô na Feira de Acari. Dos 12 aos 14 anos, fui servente de pedreiro. Depois passei num concurso para contínuo do Instituto de Resseguros do Brasil”, lembra, com orgulho. imagem de campanha do candidato a presidencia Pr. Everaldo

Na política, Everaldo sempre ostentou seu título religioso. Como pastor, ele ajudou na campanha do ex-governador Leonel Brizola, nas campanhas da ala evangélica do PDT, e em 1989 nas eleições presidências, a pedido de Brizola, apoiou Lula. “Eu estou, graças a Deus, num país democrático, num país laico, que tenho a liberdade de defender aquilo que acredito”, afirmou em entrevista para o jornal O Globo. Para ele, não há contradição na atuação de um pastor em um estado laico.

O pastor da Assembleia de Deus de São Caetano Luis Carlos diz não querer se envolver em política, e não se sente representado pelo pastor de sua mesma congregação. “Não gosto muito de tocar no assunto, cada coisa é uma coisa e compartilho a opinião daqueles que dizem que política e religião não se misturam.” A falta de apoio até entre seus irmãos fez.Everaldo ter, nas eleições de 2014, menos votos evangélicos do que a candidata pelo PSB e também evangélica, Marina Silva. É curioso notar que Everaldo, durante quase toda sua carreira política, sempre se mostrou mais favorável a políticas progressistas.

Nunca demonstrou nenhum descontentamento dos governos Lula ou Dilma, e já disse ser um “brizolista sangue puro”. Mas em 2010 o PSC surpreendeu o PT, ameaçando formar aliança com o tucano José Serra. Acabou apoiando Dilma Rousseff, após receber cerca de R$ 4,7 milhões, uma das maiores quantias distribuídas aos aliados, segundo o jornal Folha de S.Paulo. O pastor nega as acusações de venda de apoio, afirmando que seu partido só atuou na coligação devido ao pedido de seu amigo, e vice na chapa de Dilma, Michel Temer. Em 2013, Everaldo saiu candidato próprio pelo partido.

Durante a campanha, Everaldo chegou a pontuar além do traço nas pesquisas. Nas primeiras pesquisas realizadas pelo Ibope, ele tinha 4% das intenções de voto, atrás de Eduardo Campos, Aécio Neves e a atual presidenta Dilma Rousseff. Àquela altura, seus votos poderiam fazer diferença entre haver ou não um segundo turno. Depois da trágica morte de Campos, o pastor Everaldo desidratou. Marina Silva passou a sugar grande porcentagem dos votos evangélicos.

O plano de governo do presidenciável se baseava em temas caros ao pensamento conservador: a qualidade de vida, poder nacional e governança. A luta contra o aborto, o resgate de valores familiares e a redução da maioridade penal foram algumas das bandeiras do partido. O PSC defende também a economia livre com uma intervenção mínima do estado e a modernização da infraestrutura.

Foi comum ver no discurso do pastor acusações à corrupção e ineficácia do governo petista. Mas nos debates outros candidatos nanicos, como Eduardo Jorge e Luciana Genro, receberam mais destaque que Everaldo. Na apuração, o PSC registrou apenas 0,75% dos votos. Se serve de consolo, a queda dele só não foi maior que a de Marina, que ficou fora do segundo turno.

O futuro político de Everaldo ainda é uma incógnita. A luta que travou nestas eleições fez dele um opositor dos governos petistas. “Tenho pouco mais do que uma atiradeira e uma pedrinha, mas acredito em milagres”, disse em entrevista à revista Carta Capital, referindo-se à passagem bíblica em que Davi batalha com Golias. Ele representava Davi, e Golias, claro, o PT. As proclamações religiosas e as visões conservadoras de Everaldo nem chegaram a perturbar o gigante PT. Se a Bíblia fosse reescrita, a história sagrada teria outro final.

Comunicar erros