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Politics

PERFIL

O político e o palhaço


CAMILA MIRANDA
MAITÊ LEAL
ARIANE MOREIRA
GABRIELA BARCELOS 

Marco Antônio Ricciardelli, mais conhecido como “Marquito”, vive uma rotina bastante confusa como político e comediante e mostra que as duas profissões podem ser bastante divergentes.  Durante o dia, ele discute como vereador, à noite, ele apanha dos participantes no programa do Ratinho, pelo SBT. 

Foto: Divulgação

O assistente de palco do apresentador Ratinho e sobrinho do apresentador Raul Gil, iniciou sua carreira como humorista e em 2012 ingressou na carreira política como vereador de São Paulo com 22.198 votos pelo PTB. Empolgado com a votação e imaginando que repetiria a dose nestas eleições, o PTB lançou sua candidatura a deputado estadual. Foi um fracasso de público. Recebeu apenas 15.703 dos votos – e, nem de longe, chegou aos pés do fenômeno Tiririca, outro “político palhaço” que em 2010 foi o deputado federal mais votado pelo PR e neste ano ficou na segunda posição.

Nas eleições, o político Marquito fazia quadros de humor durante o horário eleitoral, seguindo o mesmo modelo do Tiririca. As propostas do vereador não eram conhecidas pelos eleitores, pois sua campanha foi baseada no slogan, "esquisito por esquisito, vote no Marquito", que não fez menção a projetos que desenvolveu na Câmara Municipal. Entre os projetos apresentados pelo vereador, três foram aprovados, entre eles estão a inclusão do dia da feira livre, a ser comemorado, anualmente, no dia 25 de agosto, e a criação da Frente Parlamentar em Defesa da Melhoria das Condições do Transporte Público.

Para Marquito, o slogan utilizado em sua campanha é uma forma de criticar a atual política. “Já que a população tem que escolher uma pessoa “esquisita” para votar, que escolha alguém que trabalhe como eu trabalho”, afirma. Apesar da fama de engraçado, Marquito quis distanciar o humorista do possível parlamentar e reforça, com frequência, que o assistente de palco é alguém completamente diferente do candidato a vereador.

Marquito ainda acredita que muitas pessoas não votaram nele, não por causa de preconceito, mas sim “para que continuasse na televisão”.

Filho da dona de casa Luzia Gil e do ex- jogador de futebol Carmo Ricciardelli, Marco Antônio Ricciardelli, o Marquito (PTB), 53 anos, Marquito teve uma vida marcada pela pobreza extrema no bairro Jardim Tremembé, Zona norte de São Paulo. O humorista teve um problema nos dentes em sua adolescência, e com medo do tratamento demorado, decidiu arrancá-los. Em seguida, percebeu que a aparência “banguela” fazia sucesso com o público e começou fazer imitações.

Iniciou sua carreira como humorista em sua adolescência, com cerca de 18 anos de idade, fazendo shows em boates, casas noturnas e circos da capital. Em seguida, foi convidado por seu tio, Raul Gil, para fazer parte do quadro “O que É o que É”. Nos anos 80, fez dublagens no programa popular Barros de Alencar, da TV Record. Atualmente, Marquito trabalha no Programa do Ratinho da emissora SBT e ficou famoso por suas dublagens e por apanhar dos convidados.

O humorista conta que ingressou na carreira política após a proibição de quadros que ajudavam o povo no Programa do Ratinho. Segundo ele, as pessoas encontravam com ele na rua e pediam ajuda, já que o Ratinho não podia mais ajudar. Daí surgiu à vontade de se tornar vereador.

A voz por trás do candidato

Marquito afirma que uma boa assessoria deve ser a prioridade de qualquer candidato, já que uma imagem ruim pode marcar o político para sempre. O assessor dele, Edson Alberto Pressi é o encarregado de garantir que sua imagem esteja sempre boa e de que nada de errado aconteça, já que também é advogado e amigo do político.

Edson conta que conheceu Marco Antônio em um bar que o humorista se apresentava, e que hoje os dois são muito amigos, sempre frequentando a casa um do outro e indo viajar juntos. Apesar dos prós, o advogado diz que a convivência com Marquito não é muito fácil. “Ele é uma pessoa muito ansiosa, muitas vezes é até chato por causa disso”, diz. 

Marquito explica que as atividades da TV não interferem nas tarefas na câmara. Porém, Edson afirma que muitas vezes o político fica desesperado quando tem muitas coisas para fazer ao mesmo tempo. Além disso, segundo o assessor, o vereador muitas vezes não dá 100% de dedicação em suas atividades. “Ele gosta de encurtar suas tarefas, um trabalho que dura 30 minutos, ele faz em apenas 10”, conta.

O amigo de Marquito, Tiago Alberto Martins, também comentou sobre a ansiedade do vereador. “Ele é muito elétrico, parece que ele é ligado no 440.  Se as coisas não acontecem na hora que ele quer, ele começa a se estressar”, afirma.

Lado B do palhaço

Apesar do que foi dito pelo político, parece que nem tudo está indo bem em sua rotina de político versus palhaço. Vídeos e notícias na internet contam a verdadeira rotina de Marco Antônio, que parece estar uma verdadeira bagunça.

Um vídeo divulgado pela imprensa e acessado no YouTube mostra Marquito lendo as falas do programa do Ratinho na Câmara e esquecendo os papéis de seu projeto de lei. Sem falar na grande quantidade de erros de português proferidos pelo vereador durante seu discurso na Câmara. Entre outras palavras erradas, Marquito citou a palavra “tonório” querendo dizer notório, “revindicando” querendo dizer reivindicando e “dispomibilizar” querendo, na verdade, dizer que estava se disponibilizando.

Em uma entrevista divulgada pela TV Câmara, Marquito afirma que acredita que assim como o Tiririca recebe votos de protesto, os eleitores revoltados decidem por seu nome. E que muitas pessoas votam nele sem levar a sério a política, apenas por votar.

Duas faces da moeda

O vereador ressalta que é necessário separar o Marquito palhaço do político Marco Antonio Ricciardelli que, segundo ele, são pessoas diferentes. Ele explica que o personagem da TV é aquele que leva alegria ao povo, que faz brincadeiras, mímicas e que distrai as pessoas. Ao sair da televisão, Marquito afirma ser um homem sério, comprometido, sem perder o carisma que as pessoas esperam de um político.

Se algo é capaz de tirar o humor de Marquito é compará-lo a Tiririca. Ele se transforma. “Ele faz humor para pedir voto. Eu não posso fazer isso, por que eu sou diferente. Eu sou Marquito e ele é o Tiririca, eu gosto de levar a sério esse lado da política”, comenta.

O humorista Marco Antonio Ricciardelli ainda disse que não se espelha em Tiririca (PR), pois ele não tem nada a ensinar. "Vou aprender o que com ele? Ele entrou sem saber o que é politica", diz.

A afirmativa do candidato contradiz toda a sua campanha. Até os slogans de ambos os candidatos seguem a mesma lógica. O deputado Tiririca se elegeu com o slogan “pior do que está não fica, vote no Tiririca”. E o vereador se apresentou aos eleitores com o refrão “esquisito por esquisito, vote no Marquito”.

Para o Marquito, o slogan político deve ser utilizado para chamar a atenção, não para virar “palhaçada”. Mas não foi assim que as pessoas receberam a proposta da campanha, já que ele foi alvo de muitas críticas e chacota na imprensa e desaprovado pelos políticos tradicionais.

O professor de ciência política da USP e pesquisador, Adrian Gurza, explica que o bordão pode influenciar bastante quando executado da forma correta. “O bordão e os jingles podem influenciar o voto quando ele tem a capacidade de colher percepções que estão instaladas na cabeça do eleitor”. Adrian ainda afirma que os deputados e vereadores que tem cerca de 6 segundos para se apresentar ao eleitor, utilizam bordão para tornar o nome deles lembrável. “O bordão por sí só não é eficaz. Nem todo mundo é bem sucedido. Um dos fatores mais importantes é o grau de notabilidade prévia do candidato, o candidato que está mais na mídia e que faz crítica à política com humor tem uma vantagem maior”, conta.

Segundo o pesquisador da USP, esses recursos não são garantia para o candidato se eleger. “No caso do Tiririca deu certo, mas nem todo palhaço e nem todo artista consegue fazer isso. O modelo Tiririca tentou ser aplicado em vários candidatos e nem todos se elegeram. Tem um certo espaço para você repetir uma estratégia”, resume.

REPORTAGEM ESPECIAL

Gastando latim à toa

 

CAIO CUCCINO
CAMILA GIANCOLI
ISABELA KALIL

 A presidente Dilma Rousseff, reeleita para mais quatro anos à frente do Palácio do Planalto, tinha uma obsessão por “vou”, “vamos” e “melhorar”. Aécio Neves, candidato derrotado, não parava de falar de Dilma e “governo” e “saúde”. Marina Silva, abatida ainda no primeiro turno, repetia termos ligados à “sustentabilidade”, “meio ambiente” e “nova política”. Em campanha, as palavras têm uma força gigantesca. É por meio delas que os eleitores fazem suas escolhas e os candidatos moldam seus discursos. Mas esses mesmos discursos podem se voltar contra os políticos. E a consequência é visível em uma grande parcela de brasileiros que não se sentem representados por nenhum candidato. Em 2014, a mais imprevisível disputa desde a redemocratização, não foi diferente. Cinco de cada dez brasileiros não foram às urnas, segundo dados oficiais. E existe um número incontável de eleitores que votam na lógica do “candidato menos pior”.

A atual presidente foi reeleita com 51,64% dos votos. Isso representa mais de 54 milhões de brasileiros. Durante o discurso de vitória, Dilma Rousseff disse que era necessário unir o país. Mas, na campanha petista, a candidata sequer mencionou a palavra “união”. Pelo menos, não em sabatinas realizadas ao longo da campanha. A nossa equipe de reportagem avaliou os discursos dela e de seus dois principais oponentes, Aécio e Marina. Durante o período de pesquisas, foram analisadas as sabatinas do Jornal Nacional e Bom dia Brasil, da Rede Globo, e Jornal da Record, da Rede Record de Televisão.
Construímos uma nuvem de palavras do discurso de cada um dos três principais candidatos. Dessa forma, pudemos verificar as expressões mais usadas eles e os temas mais abordados durante a campanha eleitoral. Especialistas em discurso e marketing político ajudaram a verificar as estratégias de fala utilizadas pelos presidenciáveis para persuadir os eleitores. 


Não foi por falta de entrevistas e sabatinas dos presidenciáveis que o eleitor brasileiro deixou de se informar ou se interessar pela política. Os candidatos, na verdade, passaram por uma maratona de blá-blá-blás. Os eleitores decidiram por um deles, como convém a qualquer eleição democrática. Mas a lembrança não é das melhores. Os discursos serão esquecidos, porque parecem ter sido proferidos para isso mesmo. O marqueteiro e cientista político Airton Arraes Lage resume com propriedade o que foi a campanha de 2014 e a avalanche de discursos: “Considero sofríveis a oratória, por esses motivos: repetições demasiadas, sonoridade cansativa e tom didático.”


Dilma Rousseff

 

A cientista política Luciana Panke, autora do livro “Lula, de sindicalista a Presidente da República”, destaca nas respostas de Dilma o uso dos verbos no futuro, muito usados nos discursos políticos. Outra coisa que chama atenção da especialista é o uso dos verbos ‘vamos’ e ‘vou’. “Normalmente, o uso no plural é para conquistas e coisas mais positivas. Já o singular é para o personalismo do governo, para promessas”, analisa. Ainda no campo dos verbos, Luciana acredita que a repetição da palavra “melhorar” esta ligada ao tipo de Discurso da candidata, mais governamental. “É quase como um pedido de desculpas em relação ao que não foi feito nesses anos de governo”, explica. 


Cristiano Henrique Ribeiro dos Santos especialista em opinião pública e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), acredita que o uso do verbo ‘ir’ no plural está mais ligado aos partidos de esquerda, que se preocupa mais com o coletivo e com a inserção da sociedade nas tomadas de decisão do governo.
O marqueteiro e cientista político Airton Arraes Lage também percebe esse tom de defesa no discurso da presidente. “Expressões, como investigar, posso e melhorar repetidas exaustivamente são reflexo de um discurso defensivo, pelo fato de que o partido da presidente responde pelo país há doze anos. Seria uma tentativa de passar um sistema evolutivo, e que as áreas que apontam insatisfação precisariam de mais tempo para resolvê-las”, afirma. 


Carlos Manhanelli, comunicólogo especialista em marketing político, lembra a importância das pesquisas para a construção dos discursos dos candidatos. No caso de Dilma, as pesquisas devem ter detectado que os maiores problemas da campanha seriam ‘corrupção’, ‘emprego’, ‘médicos’, ‘polícia’ e ‘Petrobras’, e já se precavendo ela começa a colocar essas palavras para que seja o discurso seja amenizado na hora de chegar o ataque conta ela”, diz. 


Aécio Neves


Um detalhe que pode muitas vezes passar despercebido, mas ajuda a analisar os discursos e posturas dos candidatos são as palavras mais usadas durante as sabatinas. No programa de Aécio Neves (PSDB), as palavras "governo", "saúde", “estado” e "inflação", mas a palavra com ocorrência mais relevante foi “Dilma”, que despertou indignação da cientista política. “Como o candidato fala mais sobre outro candidato que sobre suas próprias propostas? O discurso de acusação, o discurso negativo muitas vezes ele está associado com o opositor, e é uma estratégia para justamente desqualificar a sua oponente. Quando o Aécio desqualifica o governo ele pega o ponto fraco, que é justamente a grande popularidade que o Lula tinha e a Dilma não conseguiu manter. Nos debates eleitorais ele procurou desqualificar a pessoa, e esse é o tipo de discurso negativo, onde o candidato que atingir o componente e não as idéias do componente e essa é uma estratégia de campanha de ataque.”, acrescentou Luciana.


De acordo com a especialista, a palavra “Estado” pode ter duas situações. Uma que ele fala muito do Estado de Minas Gerais, usando ela para mostrar sucesso, competência da sua capacidade governamental e outra em relação a própria reforma política, reforma no Estado brasileiro, no país.
Ao usar a palavra “inflação” ele quer atingir diretamente a Dilma, principalmente sobre as denúncias da Petrobrás, com o fato de ter corrupção e usa saúde também como crítica ao Mais Médicos, pois não há nos discursos dele propostas concretas sobre esse tema, apenas críticas generalistas à situação do país.
De acordo com Luciana, a partir das palavras mais faladas e das sabatinas e debates é possível caracterizar o governo de Aécio como um governo de acusação e um candidato com respostas prontas, muito genérico, fala muito e não diz nada. “Não acredito que esses ataques possam mudar a opinião do eleitor. As acusações servem mais para reforçar uma oposição política do que para alguém mudar de posição.”, disse.


Em contrapartida, na avaliação do consultor político Airton Arraes Lage, as palavras que Aécio mais usou em suas sabatinas reflete um governo que atuou forte na área social, mas abriu uma chaga do ponto de vista ético e na área econômica buscando ampliar a rejeição da presidente Dilma, sobretudo na área da saúde, onde ela se mostrou mais vulnerável.

Marina Silva



O primeiro turno das eleições teve um aspecto marcante e mudou o cenário político nacional: a morte trágica do candidato à presidência Eduardo Campos. O incidente trouxe à eleição a figura da candidata Marina Silva, que já havia disputado o governo pelo PV em 2010 e após a tragédia, assumiu a campanha à presidência pelo PSB.
No discurso de Marina Silva, sempre esteve muito presente a questão de sustentabilidade e meio ambiente. Contudo, ela percebeu que não podia se prender apenas a esse tema na campanha eleitoral. Segundo o cientista político Airton Arraes Lage, por ter figurado como vice na chapa do PSB, a candidata teve a oportunidade de assimilar as propostas de Eduardo Campos, que discorria sobre as questões de maior impacto e tangenciar as soluções para a sociedade.


Outro fator que pôde ser constatado na campanha de Marina Silva foram os ataques diretos à presidente Dilma Rousseff. Carlos Manhanelli destaca que os ataques da candidata demonstram o descontentamento com o partido da atual presidente. “Marina Silva é oriunda do PT, foi ministra do governo do partido e antes que alguém levantasse isso para ela, a candidata mostra onde falhou, o porquê saiu. Demonstra a insatisfação de ter feito parte desse governo”, constatou.


Marina teve um crescimento rápido nas intenções de votos logo após entrar na campanha, aparecendo muitas vezes na frente de Aécio nas pesquisas. Segundo a cientista política Luciana Panke, o ambiente favoreceu o crescimento da candidata. “A morte do candidato provocou uma comoção geral e foi em um momento em que as emoções estavam mais afloradas. Faltava só um fósforo para pegar fogo”, destacou.


Marina Silva já vinha de uma eleição, em 2010, em que conquistou cerca de 20% dos votos. Segundo a especialista, o discurso da candidata pode até ter conquistado novos eleitores, mas o crescimento acelerado se deve mais ao fato de o eleitor se identificar com a indignação que a candidata tem pelo governo atual do que pela força da mesma em governar.


Luciana Panke acrescentou que a candidata do PSB apareceu como terceira via, ao lado de Aécio Neves e Dilma Rousseff, com um discurso de nova política, mas não explicou o que é a nova política. De acordo com a cientista política, “parecia uma porta-voz dos insatisfeitos”.

 

ENTREVISTA

O marketing político é igual marketing de produto: uma mentira!

A campanha eleitoral e a necessidade de um marqueteiro político

 

CAMILA SUARES
MARIANA VASQUES         

Chico Malfitani, 63, jornalista, sociólogo e publicitário. Estava cansado de ser um “agente da manutenção do sistema” e acreditou encontrar no marketing político uma forma de transformação. Uma contradição, óbvia, mas o marqueteiro sonhava que atuando na propaganda eleitoral poderia mostrar outras realidades que não a pautada por editores de jornais.  Ao comentar sobre a importância da internet nos dias atuais para as eleições, ele radicaliza e afirma que o “Facebook é como dar o microfone para o macaco”. O pensamento conservador vem de uma pessoa que vivenciou as redações no momento ditadura e pós-ditadura. Para o Chico, não há nada que vença o peso que a televisão possui para chamar a atenção dos eleitores.


Leia a seguir os principais trechos da entrevista:


 Foto: Camila Suares

Politics – Acredita que deva existir uma regulamentação para a produção de uma campanha política?

Malfitani – No aspecto da forma, o horário eleitoral tem que ser tão bonito quanto uma propaganda de TV e de sabão. Boa parte dos marqueteiros querem ganhar a qualquer preço. Ao terminar uma propaganda eleitoral, ou o telespectador acha que o país está ótimo, lindo e maravilhoso – do governo atual. Ou você acha que tá uma droga e vai melhorar – de quem quer entrar no governo. Acredito que o país precisa sofrer uma reforma nos meios de comunicação. A imprensa deveria mostrar as várias realidades do país. Se isso fosse assim, o marketing não teria que enganar ninguém.

 Politics – Vender sabão em pó é a mesma coisa do que vender um político?

 Malfitani – Vivemos em uma sociedade de comunicação de massa capitalista. “Experimente Suplicy, diferente do que está ai”. O conceito é o mesmo. As pessoas compram por impulso. Por exemplo, se eu vou ao mercado e adquiro um detergente que promete não machucar as mãos, e ele descasca minha unha, no outro dia vou lá e compro outra marca. Na política, temos que engolir o cara por mais quatro anos. Se o marqueteiro vende falando que o cara vai fazer de tudo pela educação, pela saúde e sabe que na verdade ele não vai fazer nada, é uma forma de ajudar a piorar a situação e prejudicar a vida das pessoas.

 Politics – Qual é a diferença entre fazer uma campanha por dinheiro e fazer uma campanha por vontade?

 Malfitani – Não tendo dinheiro envolvido é possível falar o que pensa. É igual mulher que não depende do marido. Eu sempre gostei de fazer televisão. E no momento das eleições, acabava tendo o poder de usar esse meio de comunicação para apresentar o mundo para a sociedade. Acho um absurdo cobrar milhões de reais por uma campanha, se o valor for justo e o dinheiro vier limpo, a consciência fica tranquila e o sono também.

 Politics – Como são produzidas as campanhas politicas pelos marqueteiros?

 Malfitani – Cada campanha é de um jeito. Não sou um marqueteiro padrão. Sou fora da casinha. João Santana tem um padrão e o Duda Mendonça, também. Sou crítico e até cheguei a descer o cacete no marketing. Já o Duda quando se apresenta, informa qual o valor que vai custar e como a pessoa vai fazer para pagar. Agora, sempre que uma pessoa ou um partido me procura, a primeira coisa que avalio é se acredito nele. Uma vez fiz uma campanha para o William Dib, como prefeito de São Bernardo do Campo, só pelo dinheiro e me arrependi muito. Só fiz porque pela motivação de ser contra o PT e para mostrar o quanto eu era bom. 

 Politics – Por que o marketing político se tornou determinante nas eleições?

 MalfitaniMarketing político não possui mágica. Fazemos um trabalho, se o produto for bom e o momento for bom, você ganha à eleição. Não existe essa coisa que a imprensa faz uma mística em cima dos marqueteiros.

 Politics – Como usa a internet a seu favor? Acredita que ela gera mais resultados do que a televisão?

 Malfitani – Terão a mesma importância que a TV no dia em que Mc Donald’s, Coca-Coca e etc darem mais importância e investirem mais. As redes sociais são muito pequenas perto da TV. A audiência ainda é 1%. Não tem a força, talvez um dia possa ter. Baixaria e mulher pelada entram bastante, mas política nem tanto. A computação gráfica é demais, dá para fazer qualquer montagem e parece que é de verdade. Somos especialistas de tudo, sem saber de nada. Lá você discute todos os tipos de assuntos. O Facebook é como dar o microfone para o macaco. O macaco fala qualquer coisa, não tem responsabilidade nenhuma, acabou e pronto.

 Politics – Como você iniciou o seu trabalho para o PT?

 Malfitani – Fui procurado pelo Perseu Abramo, do PT. Era a primeira vez que eles iriam para a TV. Não existia internet e nem TV a cabo. Cada candidato tinha 1 hora em rede nacional. Nem se tinha marketing político, ninguém falava disso. Fazíamos apenas uma novelinha.  E dessa forma achei que fazendo marketing político, poderia fazer uma outra versão da história. Não estou dizendo que meu lado é certo. Diferente do que os jornais querem enfiar goela abaixo. Se todo mundo tem a mesma cara, eu não tenho opção. Em um país que meia dúzia de famílias dominam os meios de comunicação, o marketing político possibilita, mesmo com todos os defeitos que tem, que a sociedade enxergue um outro lado. Para ajudar na escolha de uma opção na hora de votar.

 Politics – Você começou as campanhas nos anos 1980, quando o marketing político ainda era muito novo no Brasil e as campanhas tinham poucos recursos. Ficou conhecido por ser criativo. Qual é a diferença daquela época para hoje?

 Malfitani –Faço marketing há 29 anos e nunca criei nada de nenhum candidato. Não acho que sou criativo. Criativo é quem inventa as coisas. Eu pego o que já existe e transformo. Ou o cara tem aquele dom, ou não tem. Não tem jeito! Não existe um manual que te torne um bom marqueteiro. Cada um tem um dom na vida. Se você fizer bem feito o que gosta, vai ter sucesso na vida.

 Politics – De que maneira é feita a análise dos candidatos para elaboração da campanha? Você acompanha a rotina dele por alguns dias?

 Malfitani – Eu prefiro trabalhar pra quem é bom para o povo. Porque o povo não vai poder trocar o produto no dia seguinte. Vai ficar com ele por quatro anos. Está bem, aceitei fazer a campanha e agora? Ai o candidato dá um roteirinho, olha é isso aqui, sou essa pessoa e estou te contratando para fazer esse perfil.  É quando surge o trabalho do publicitário, vamos propor uma alternativa de venda. Exemplo, a GM faz um carro, entrega o projeto para uma agência de publicidade e eles dizem se é melhor falar sobre o motor ou sobre a marcha. Eu no caso proponho uma alternativa de venda. É claro que cabe a quem esta te contratando dizer se concorda ou não concorda. A minha estratégia é colocar um binóculo nas qualidades e minimizar os defeitos. A melhor maneira é não inventar uma virtude que ele não tem, porque aí a chance do fracasso é muito grande.

 Politics – Por que você decidiu exercer a profissão de jornalista?

 Malfitani Apesar de ter trabalhado alguns anos como jornalista, fiz economia, ciências sociais e até direito. Queria entender o que as pessoas pensam. O que faz um puxador de carroça achar que é importante um governador fazer pontes e viadutos? Então, resolvi buscar nos meus estudos de ciências sociais o que dizia Karl Marx - “As ideias dominantes de uma época sempre foram às ideias da classe dominante”. Os valores que o ser humano tem são da elite que domina a política e a economia. Logo, assimilei que esse conceito era veiculado pelos meios de comunicação e resolvi ser jornalista por achar que pela profissão seria possível mostrar a realidade do país para as pessoas.

 Politics – Como foi à transição para o marketing político?

 Malfitani – Eu vivi na ditadura militar. Na revista Veja, existia uma censura dentro das redações. Tinha um homem lá dentro com dois carimbos (vetado e aprovado). Com o inicio da democracia, a censura deixou de ser aquele homem para ser econômica. Quando era repórter da Globo e fui cobrir política, conheci o Lula e inclusive acho ele uma pessoa muito inteligente. No momento de cobrir a greve, sempre eram tratados os mesmos assuntos. Quanto às empresas estão perdendo? Sempre se mostrava só um lado da história. Como jornalista estava falando só sobre uma parte. Tinha que falar dos trabalhadores também. E quando as pessoas eram demitidas, ninguém mostrava. Comecei ter uma atitude crítica com relação à imprensa. Continuava vivendo outra maneira de censura, mesmo após a ditadura. As perguntas deveriam ser: Quantas pessoas deixaram de comer, em vez de ser sobre quantos carros deixaram de ser fabricados. E o pensamento dominante era que grandes políticos são os que fazem grandes obras. E os que faziam boas ações não eram bons. Isso não podia acontecer.

 

ENSAIO FOTOGRÁFICO

Bruna Prazeres 

 Vanessa reforça contato com os eleitores do bairro e ouve as reivindicações dos moradores

 Mesmo com 3,5 milhões gastos em campanha, Diniz Lopes, não foi eleito com apenas 13.716 votos

 Mesmo com 3,5 milhões gastos em campanha, Diniz Lopes, não foi eleito com apenas 13.716 votos

 Pelo PR – Partido da República, o ex-vereador Diniz Lopes lançou candidatura para deputado federal

 

 Mauá e Ribeirão Pires realizaram uma ação com 40 agentes de limpeza para recolher cavaletes, faixas e panfletos

 

 As despesas declaradas pelo partido com a campanha da deputada chegam a 3 milhões de reais

 

 Dos 9 candidatos a deputados estadual e federal pela cidade de Mauá, apenas dois foram eleitos: Vanessa Damo e Átila Jacomussi

 

 Emocionados, os moradores falam sobre os problemas da cidade e demonstram seu carinho e confiança no trabalho da candidata

 

 Candidata percorre o bairro Jardim Zaira, em Mauá, com sua equipe no dia 3 de outubro de 2014

 

 Único candidato a deputado federal pelo PT em Mauá, Hélcio Silva recebeu 64.934 votos

 

 Já o ex-vereador e candidato a deputado federal pelo PRB, Batoré, gastou 6 milhões de reais na sua campanha e não foi eleito, com 4.672 votos

 

 Mais de 100 toneladas de lixo foram recolhidas das duas cidades após o 1º turno

 

 O partido gastou R$ 974.305,78 com a campanha do ex-deputado, que não foi reeleito em 2014

 

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