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#MeuVoto

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Jovens da União de Núcleos, Associações dos Moradores de Heliópolis e Região. Foto: divulgação.

Jovens politicamente engajados

As formas de se fazer política antes e depois da maioridade eleitoral

KAROLINE MACHADO & MARIANA MILLAN 

Representando uma nova geração, que tende a buscar o rompimento com o passado, lidando com a política e com o mundo de forma diferente de seus antecessores, jovens de diferentes grupos, e com as mais diversas identidades, buscam espaço no atual cenário brasileiro. Após as manifestações de junho de 2013, ficou evidente a participação do público jovem dentro do cenário político, já que muitos dos eventos criados para chamar a população às ruas e a participação efetiva nos protestos foram encabeçados por eles.

Segundo a psicóloga Lilian Boralli, do colégio Anglo, as manifestações indicam que os jovens não estão no mundo da lua, como muitos pensam e desejam. “Eles até podem estar dispersos, mas são capazes de se unirem, se organizarem e ecoarem seus desejos por uma sociedade mais justa. Eles sabem muito bem, às vezes até mesmo enfrentar o medo de uma maneira melhor do que os adultos. Juntos são mais fortes”, explica a psicóloga.  

Repercussão digital

As eleições 2014 revelaram um interesse ainda maior da juventude pela política, pois várias discussões foram geradas em torno do tema eleições. A participação dos jovens foi notável, muitos compartilharam nas redes sociais sua visão política, e diversas vezes, divergiram em suas opiniões. Deu-se início ao que foi praticamente uma guerra online, brigas entre amigos que não tinham a mesma visão partidária aconteceram diversas vezes.

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Nativos digitais estão cada vez mais conectados. Foto: WikiCommons.

De acordo com Lilian, esse fato demonstra o quanto os jovens estão engajados, pois ao almejar um país melhor, sentem a necessidade de dividir com os demais seus ideais e argumentos sobre um candidato ou partido X.

A psicóloga explica que o engajamento político dos adolescentes geralmente tem início em ambientes acadêmicos. ”O movimento estudantil ainda é a principal porta de entrada para a vida pública”, comenta. Ela afirma que o meio acadêmico é fértil porque é o território da juventude, que ingressa na universidade, em grande parte das vezes, já oprimida por um modelo de educação alicerçada nos princípios de dominação e alienação. “A estrutura da universidade, agregada ao fato de “sair” de casa, do controle dos pais, possibilita que o aluno expresse seus desejos de emancipação e autonomia”, completa Lilian.

De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), cerca de 14% dos milhões de eleitores de 2014 têm entre 16 e 24 anos de idade. Os dados comprovam a opinião do professor de história Carlos Pádua, do colégio Alcino Francisco de Souza, que acredita que os jovens compõem grande parte do eleitorado brasileiro e que para isso devem ter uma educação política desde o ensino fundamental. “O papel do professor e do instituto de ensino, além de ensinar sobre a história da política mundial e nacional, é também “fazer política” dentro de sala de aula. Se apoiamos uma democracia devemos ser democráticos com os alunos e não impor a eles uma ditadura”, afirma o professor.

 “Não podemos exigir dos jovens que despertem um interesse pela política somente quando são obrigados a votar, isso é algo que tem que ser tratado a todo o momento e não só em época eleitoral. Devemos formar cidadãos acima de tudo!” Carlos Pádua

Para os jovens de baixa renda, ter acesso a esse tipo de educação é ainda mais complicado. Mesmo para aqueles que têm interesse sobre o tema, a rede pública de ensino é carente, não só de material didático, mas também de profissionais capacitados a proporcionar essa discussão de maneira ética. Resta então a procura espontânea e individual por parte dos alunos.

Alessandra Paiva, 22, moradora do bairro Socorro, zona Sul de São Paulo, cursou todo o ensino médio e fundamental em escola pública e conta que a vantagem em participar da política acaba sendo ganhar experiências, ganhar um país melhor para entregá-lo a seus filhos, netos e parentes. “O legal é conhecer, reivindicar, dedicar-se e melhorar o país”.

Política para todos

UNAS
Arte na ONG UNAS. Foto: divulgação.

Pensando na inclusão do jovem no âmbito político, foi criada a União de Núcleos, Associações dos Moradores de Heliópolis e Região (UNAS), uma entidade sem fins lucrativos com a intenção de consolidar a pedagogia política dentro do bairro e educar os estudantes da comunidade de Heliópolis e região, que fica localizada na Zona Sudeste de São Paulo.

André Luiz Giuliasidi, morador da comunidade e auxiliar nas dinâmicas e ações feitas pela ONG. Para ele, a questão de criar gosto por política é fazer aquilo que ajudará seu bairro, sua comunidade. “Se você tem paixão pelo lugar que vive, fará o melhor. Gostar de política não é ter uma vocação por ela, mas sim um chamado para fazer o bem social, comunitário”, afirma.

Segundo ele, os principais desafios que a juventude enfrenta em relação à política é conseguir ser ouvida e depois, ter uma ação. “Recentemente tivemos o Curto Circuito da Juventude, em Brasília. Acredito que precisaria haver mais desses encontros para ajudar os governantes a governar. O jovem faz política, mas precisa ser visto e ser considerado”, conta Giuliasidi. Quanto ao futuro da política, ele conta que ainda acredita na mudança. “Estamos mudando o cenário, a juventude está mais envolvida e isso se tornou parte do seu dia-a-dia. ainda temos muito a melhorar, talvez não só em uma geração.”

Giuliasidi e os outros componentes da UNAS compõem apenas 16% dos jovens altamente engajados, ou seja, aqueles que criam novas formas de agir politicamente no bairro ou na cidade onde vivem. Esse dado faz parte da pesquisa feita esse ano pela Box 1824, agência de pesquisa de tendências em consumo, comportamento e inovação. O estudo, que fala sobre jovens e a política mostra que 39% dos brasileiros com idade entre 18 e 32 anos se dedicam às causas pessoais e não consideram a política como parte da sua vida. Já 17%, se interessam pelo tema, mas não agem para obterem mudanças E 28% têm perfil mais critico e participam de mobilizações. 

Para o sociólogo Luiz Felipe Campos, professor do Instituto Monitor, a participação dos jovens na esfera política é muito especial para a construção do nosso país.  Para o especialista, quando uma pessoa não faz valer o seu direito de atuação no mundo, na sua comunidade, ela acaba deixando de vivenciar o ambiente onde são tomadas as decisões sobre o nosso passado, presente e futuro. “A conscientização de que a política é importante não deve se limitar apenas a períodos isolados. O voto, embora seja apontado como sendo a grande arma dos cidadãos, é apenas uma das diversas ferramentas e modos de atuação dos sujeitos em prol das suas comunidades e no seu país”, diz. De acordo com Campos, Tão fundamental quanto o voto, é preciso criticar, questionar, fiscalizar nossos representantes. “Não podemos simplesmente votar em um candidato e esquecer depois de cobra-lo para com os verdadeiros donos do Brasil, que é o povo”, diz o professor. 

 

A escassez do ensino público e a doutrinação ideológica

CAROLINE MEDEIROS

De acordo com o Censo Escolar de 2012, atualmente estão matriculados 50,54 milhões de alunos nos 192.676 estabelecimentos de educação básica do país. Sendo 42,22 milhões (83,5%) em escolas públicas e 8,32 milhões (16,5%) em instituições privadas. 

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Ensino público não oferece suporte suficiente ao aluno. Foto: USP Imagens.

Um relatório divulgado pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) sobre a educação no mundo, mostra que entre 127 países, o Brasil ocupa a o 72.º lugar. O documento, intitulado Relatório de Monitoramento Global de Educação para Todos, diz que falta conteúdo de qualidade ao ensino brasileiro. O Índice de Desenvolvimento Educacional (IDE), criado pela UNESCO, dá ao Brasil a nota de 0,899, colocando-o em uma posição considerada intermediária.

Os resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) comprovam que a qualidade do ensino médio público caiu em 16 estados brasileiros, entre 2011 e 2013. O indicador federal, que avalia o desempenho dos alunos através de provas de português e matemática, constatou que a nota do país, na rede pública de ensino, no ano de 2013, permaneceu em 3,4. Esses dados afirmam a necessidade da Reformulação do Ensino Médio, pois a meta estimada pelo governo era de 3,6.

Segundo o Instituto Sensus, 78% dos professores brasileiros acreditam que a principal missão das escolas é formar cidadãos, e 61% dos pais acham normal que os professores façam proselitismo ideológico dentro da sala de aula.

“Diga não à doutrinação!”

A associação informal e independente, EscolasemPartido.org (EPS), coordenada por Miguel Nagib, é resultado de uma iniciativa conjunta de pais e estudantes que se dedicam ao combate da instrumentalização do ensino para fins políticos e ideológicos. De acordo com a organização, o problema não apenas existe, como também, está presente, de algum modo, em grande parte as instituições de ensino do país; e a maioria dos educadores e autoridades, quando não promovem ou apoiam a doutrinação, ignora o problema por cumplicidade, conveniência ou covardia. Para a EPS, o dia 5 de outubro é considerado o Dia Nacional de Luta contra a Doutrinação Política e Ideológica nas Escolas.

O site destaca a música “O bando”, uma paródia da versão original “A banda” de Chico Buarque, como "tema musical da educação brasileira". A letra é do músico Filipe Trielli e o argumento do humorista Danilo Gentili. Vale a pena conferir!

Arquivo

Manifestantes reunidos nos protestos de 2013. Foto: GPIT (Grupo de Pesquisas Identidade e Território da UFRGS).

Diretas Já! x Protestos 2013

As diferenças e semelhanças de dois momentos que pararam o país

KAROLINE MACHADO & MARIANA MILLAN

É inevitável a comparação entre os dois maiores movimentos populares ocorridos no Brasil nos últimos 30 anos. As Diretas Já!, de 1984, e as Manifestações de 2013 se assemelham, pois além de levarem multidões às ruas, também foram impulsionados pelos jovens, mesmo com diferentes motivos e causas das reivindicações e protestos. 

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Diretas Já! Foto: Clic RBS.

A professora de História, Inês Gonçalves, da escola estadual Francisco Cristiano Lima de Freitas, faz um breve resumo sobre o período da ditadura no país. De acordo com ela, no dia 1° de abril de 1964, após um golpe das Forças Armadas contra João Goulart, até então presidente do Brasil, iniciou ditadura militar no Brasil. A partir de então, militares estabeleceram os chamados AIs (Atos Institucionais), criados na tentativa de legitimar o golpe, e que diminuíram a liberdade da população e forneceram pleno poder ao governo. Também existiu forte repressão a partidos políticos de esquerda, sindicatos e organizações sociais.

Inês vivenciou os dois períodos e conta que a falta de um objetivo específico fez com que os protestos do ano passado perdessem a força, afinal, com o número de pessoas que estavam participando, mais coisas poderiam ter sido feitas. “As manifestações de 2013 foram muito importantes para os brasileiros, um acontecimento que vai ficar marcado para a história e a internet foi ferramenta essencial para que tivesse toda essa dimensão, uma tecnologia que nós não possuíamos há 30 anos. Muitas pessoas nem sabiam o que se passava no país."

Não tenha medo, organize-se!

De acordo com o professor de História Marcos Lessa, do Colégio Torricelli, nas manifestações de 1964, o movimento foi formado pela classe média, e em grande parte por trabalhadores sindicalizados. E na época, a forma usada para disseminar os protestos e reivindicações foi o boca a boca, em comícios e panfletagem. Já nas manifestações do ano passado, devido à diferença temporal, e a evolução da tecnologia no decorrer dos anos, o convite para as manifestações chegaram com muito mais facilidade e se propagaram muito rapidamente pelo meio digital. As redes sociais auxiliaram nessa hora, eventos criados no Facebook, em que milhões de pessoas eram convidadas, fizeram com que as informações se espalhassem cada vez mais rápido pelas mídias sociais.

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Jovens lutando pelos seus direitos. Foto: Reuters.

“No início os protestos aconteceram por conta do aumento da tarifa do transporte público, mas em meio a tantos dias de mobilizações, outras questões foram levantadas, como a PEC-37, a cura gay, entre outras insatisfações do povo com o governo, o que deixou as manifestações sem um objetivo central. Diferente das Diretas Já!, que tinha um objetivo específico, o retorno das eleições diretas”, afirma o professor.

“Outra diferença entre esses dois atos, é que em 83 os protestos foram organizados por partidos e organizações sindicais, diferente do ano passado que eram mobilizações totalmente apartidárias, tanto que inúmeras vezes quando bandeiras de partidos foram levantados, os manifestantes se mostravam contra”, completa Lessa.

Política e participação: uma dupla dinâmica

A socióloga Luiza Pereira explica o motivo: “Isso se deu, pois atualmente as pessoas estão menos envolvidas na política, há uma carência de lideranças e organizações políticas que representem as atuais necessidades da população”.

Cristiano Araújo, 62, morador de Diadema, hoje aposentado, foi às ruas nas duas situações e para ele houve grande diferença de comportamento. “Quando fui em 84, estávamos com sede de liberdade e lutávamos por direitos básicos. Ano passado fui a convite da minha filha, estudante de direito, para “lutar” por uma melhoria geral do governo brasileiro, mas o que vi foram diversos jovens com a cara tapada tirando fotos em seus aparelhos e destruindo patrimônio público”.

“Não é assim que temos que lutar pelos nossos direitos, se quando havia o risco de tortura não se escondia o rosto, hoje, que há democracia, não se deve esconder nada. E a destruição então, para mim, é só uma forma estúpida e eficaz de se provar ao governo que somos animais ignorantes.” Cristiano Araújo

 

A importância dos jovens na política

NICOLE SAVICIUS

Dados das Nações Unidas do Brasil (ONUBR) apontam que adolescentes e jovens formam 28% da população mundial, e necessitam de mais investimentos em prol da faixa etária. Para auxiliar nessa proposta, o Fundo de População da ONU (UNFPA) escolheu o tema “Investir na Juventude” para marcar o dia mundial da População, comemorado no dia 11 de julho. De acordo com dados da própria ONU, atualmente, existem cerca de 1,8 bilhão de pessoas no mundo com idade entre 10 e 24 anos, constituindo a maior população de jovens e adolescentes de toda a história.

Já no Brasil, segundo o Censo de 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), possuímos mais de 51 milhões de jovens com idade entre 15 e 29 anos, o equivalente a 27% da população total; já na faixa etária de 15 a 24 anos, o total supera 34 milhões de pessoas, cerca de 18% da população.

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De acordo com uma pesquisa do Data Popular, feita com 3500 jovens do país, em 2014, a juventude brasileira apresenta hoje 33% do eleitorado, é mais informada que seus próprios pais e influencia diretamente no voto da família. Atualmente existem cerca de 140 milhões de brasileiros aptos a votar, e dentre eles, um terço dos eleitores, ou seja, 45 milhões de pessoas é formado por jovens entre 16 e 33 anos, uma mistura de gerações X e Y (nascidos entre 1800 até hoje). Dentre esses números, 63% acreditam que o Brasil não está no rumo certo, e reivindicam pelo desejo de mudança, serviços públicos de mais qualidade e tecnologia de ponta. Por serem formadores natos de opinião, essa classe pode até mesmo decidir o rumo das eleições.

A eleição de 2014 foi marcada pela maior quantidade de jovens indo às urnas, além disso, a pesquisa do Data Popular também mostra que cerca de 11 milhões de jovens votaram pela primeira vez esse ano, e dentre os 33%  do eleitorado jovem, 85% deles são internautas; do total desses internautas, 93% têm acesso às redes sociais e oito em cada dez jovens têm perfil em alguma rede. Por esse motivo, é essencial que os candidatos entendam a importância que o jovem exerce na política, e se preocupem em realizar uma campanha voltada a eles, principalmente no meio digital.

A pesquisa do Data Popular revelou também que sete entre dez jovens acham que seu voto pode mudar o País; 81% deles consideram a política importante, mas somente 32% afirmam entender do assunto. Além disso, a pesquisa apresentou que os jovens da classe C são os novos formadores de opinião da classe média, portando não há como discutir política sem incluí-los no discurso. Esses jovens da classe C são os mais educados e conectados, sendo hoje os maiores formadores de opinião dentro da própria família e da comunidade; 68% dos jovens dessa classe estudaram mais que os pais. 

Linha do Tempo

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Urna biométrica brasileira. Foto: TSE.

A evolução do voto no Brasil

Muito mais que um dever, um direito cívico

CAROLINE MEDEIROS & NICOLE SAVICIUS

O voto é um dos mais antigos métodos de exercício da cidadania registrado na história da sociedade. No nosso país, o ato de votar surgiu 32 anos após Pedro Álvares Cabral, o navegador português responsável pelo descobrimento do Brasil, ter desembarcado em nossas terras. Para a nação brasileira, o privilégio de votar é significado de vitória, pois foi fruto da conquista de pessoas que lutaram para possuírem direitos políticos e voz ativa nas esferas do poder.

Para o cientista político da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), João Vasconcellos, a conquista do voto foi um passo de extrema importância para a democracia brasileira. “Para classificarmos um governo como democrático este deve assegurar o direito de todos, sem qualquer exceção, fora isso, não será democracia. A voz de todos, e o direito de exercê-la, é o ápice da democracia, e quanto mais isso for assegurado e garantido, mais teremos uma verdadeira democracia e representatividade geral”, diz.

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Ulysses Guimarães, há 25 anos atrás, promulgando a nova Constituição Federal em vigor até hoje. Foto: Arquivo Agência Brasil.

Atualmente, tem direito ao voto todo brasileiro maior de 16 anos independentemente de sexo, religião, etnia ou condição social, indicando que todos têm presença ativa na democracia, podendo assim, usufruir de seus direitos perante as leis, e escolhendo seus representantes.

Márcio Sales Saraiva, formado em Ciências Políticas e cursando mestrado no Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (PPGSS/UERJ), alega que os direitos atuais dos cidadãos não foram produtos de uma evolução natural das sociedades democráticas, e sim, direitos conquistados.  Para ele, a democracia brasileira ainda é muito jovem e o eleitorado está amadurecendo a cada eleição. “Primeiro veio o voto dos homens brancos pobres, pois antes, apenas os ricos e brancos podiam votar; Depois, dos homens negros e das mulheres; E bem mais tarde, dos jovens e dos analfabetos. A democracia foi ampliando a sua base de participação e de direito à escolha, e isso é essencial. Decisões de um governo afetam a vida de todas as pessoas, por isso mesmo, todas devem ter o direito de participar e escolher.”

“A democracia é o regime que garante a convivência entre os diferentes e busca resolver as demandas das diversas pessoas de forma pacífica. Sem democracia nós perdemos a liberdade de não ser igual ao outro. Respeitar a democracia é respeitar a liberdade dos outros, bem como, garantir que a nossa liberdade seja respeitada.” Márcio Salles

O cientista político ainda ressalta como é fundamental a conscientização política em qualquer idade. Assim como, é necessário que todos saibam o peso do voto, pois ainda existe um imenso setor do eleitorado, que não tem a exata dimensão da autoridade que possui em mãos. De acordo com ele, a eleição É o momento em que o pobre e o rico possuem o mesmo poder. “Os governos e os parlamentares (vereadores, senadores, deputados) são escolhidos pelo voto. Se os jovens participam, eles podem influenciar para que seus desejos e suas demandas sejam atendidos. Como é que o jovem poderá reclamar se ele mesmo nem participa da decisão? Posso eu reclamar do pão com manteiga que como se na hora de escolher o almoço eu não participei?”, explica Márcio Salles.

Revolução tecnológica nas urnas

No ano de 1983, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) implantou um novo sistema de informatização da Justiça Eleitoral, instalando computadores nos TREs e nas zonas eleitorais. Doze anos depois, deu-se início a votação eletrônica, tornando o Brasil como um modelo mundial por suas eleições rápidas, eficientes e seguras.

Para o técnico em tecnologia da informação, Davi Abrantes, formado pela Fatec, a urna eletrônica garante a integridade e a rapidez do voto de modo organizado e seguro, diferentemente do papel, que pode ser facilmente manipulado e corrompido.  Porém, qualquer sistema está sujeito a falhas, pois erros humanos acontecem e são comuns na área da tecnologia. “Além de intervenções dos desenvolvedores da máquina, outros fatores ambientais de manuseio e componentes do aparelho podem comprometer seu funcionamento”, afirma.

Em busca de aprimoramentos, a Justiça Eleitoral iniciou em 2010 a implantação dos votos por meio da urna biométrica, eliminando a possibilidade de alguém votar no lugar de outra pessoa. Naquele ano, mais de um milhão de eleitores puderam votar em urnas eletrônicas com leitor de identificação biométrica, reconhecendo as impressões digitais.

O sistema de biometria é uma medida segura caso o sistema esteja em boas condições. “Quando bem programado, facilita a organização e integração dos dados. Com isso, evita-se as verificações de documentos físicos, agiliza o processo do exercício do voto e garante que não haja erros de informação dos dados do cidadão na hora do voto”, conta Davi.

Segundo dados da Justiça Eleitoral, nas eleições deste ano, 762 municípios, entre eles 15 capitais, usaram a biometria nas urnas eletrônicas para identificar seus eleitores, acumulando assim, um total de 21,6 milhões de pessoas identificadas pelo método, o que significa 15% do total de eleitores do país.

 

Conheça a história do voto brasileiro

LETÍCIA RONCHE

A cada dois anos, em algum domingo do segundo semestre, as pessoas vão aos seus colégios eleitorais, digitam alguns números e mais tarde, no mesmo dia, já se sabe quem ocupará cada cargo político em questão. Todo esse procedimento, realmente, já faz parte da rotina do brasileiro, mas nem sempre foi assim. Se você não faltou às aulas de história, sabe que lutas foram cravadas para que todos tivessem direito de votar, indivíduos de diferentes sexos, etnias e classes sociais. Até se tornar o que temos hoje. Prepare-se agora para uma viagem no tempo:

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Pesquisas demonstram a queda do interesse da juventude pela política

GIOVANI FACCIOLI

Ao contrário do que se poderia pensar, após as manifestações de junho de 2013 – mobilizadas principalmente pela juventude na internet – apenas 25% dos adolescentes, entre 16 e 17 anos, tiraram o título de eleitor para a votação de 2014. Este representa o menor número de jovens 60 mil, que se cadastraram para a votação desde as últimas quatro eleições no país.

Em 2008 e 2012, a taxa de adolescentes eleitores foi em torno de 43% em relação ao total de jovens dessa idade. Nas disputas de 2002, 2006 e 2010, a proporção ficou entre 36% e 37%, respectivamente.

Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a mudança na forma de contabilização destes números e o envelhecimento da população brasileira ajudam a explicar a queda da participação jovem. Esse ano, diferentemente dos anteriores, quem completou 18 anos até a data da eleição em outubro foi considerado na contagem de eleitores adultos.

Não vai votar por quê?

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Título de eleitor. Foto: Agência Brasil.

O direito ao voto facultativo, entre os 16 e 18 anos, foi garantido por lei, com a promulgação da Constituição de 1988, que sucede uma época de forte expressão de movimentos estudantis na política brasileira.

A União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES) lançou em 2008 o “Se liga 16: Por um país com a cara do Brasil”. O objetivo da campanha é conscientizar e incentivar a participação jovem na política por meio de debates em escolas do ensino médio, técnico e pré-vestibular, colaborando assim, para que estes índices se revertam.

A inscrição para emissão do título de eleitor pode ser feita a qualquer momento em um Cartório Eleitoral ou Central de Atendimento ao Eleitor; sendo necessária apresentação de um documento de identificação original e comprovante de residência. O documento fica pronto na hora e é gratuito.


Por aí

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Apresentação da banda de hardcore, Kill me Pills, em Brasília. Foto: divulgação.

Na batida da justiça

A insatisfação das pessoas com a política expressa através da música

FLÁVIA PIPERNO & LETÍCIA RONCHE

Não é difícil perceber como a música está embutida na nossa rotina. Em qualquer lugar público é possível encontrar pessoas usando fones de ouvido e os potentes aparelhos de som nos carros. Mas pare para pensar na mensagem daquilo que você ouve. Um estudo feito pela Academia Americana de Pediatria (AAP), publicado em 2009, mostrou que, dependendo do estilo de música que um adolescente ouve, seu comportamento e atitudes podem ser significantemente alterados.

As músicas politicamente engajadas no Brasil tiveram a sua primeira explosão durante o regime militar com o movimento chamado Tropicália, que envolvia também as artes plásticas. O filósofo Rubens Lopes, docente do Centro de Formação Cidadã da Universidade Metodista de São Paulo (UMESP) conta que, na época da ditadura, muitos artistas como Geraldo Vandré, Chico Buarque, João Bosco, Zé Keti, dentre tantos outros, compunham suas canções como uma forma de protesto. “Mesmo assim, tinham que driblar a censura para que suas músicas fossem gravadas, tornando-as armas para  quem estava oprimido”, conta.

Em um giro rápido nas playlists das pessoas, é possível notar que a realidade da música de hoje é outra, sem contestações. “O cenário musical atual é enlatado. Troca-se a espontaneidade e o sentimento que constitui uma canção, por fórmulas e receitas que deram certo. Daí a quantidade de músicas que são extremamente parecidas”, explica Lopes.  Como exemplo, o professor cita os estilos musicais baião e rap. “O primeiro é tradicional do sertão nordestino, canta-se sobre a seca e a miséria da região, o que não deixa de ser uma manifestação política. E o rap, popular na periferia paulistana, também reivindica algo para aquele povo.”

Separamos três estilos musicais que aplicam essa ideologia. Confira:

Hardcore

Nascido no final dos anos 70, a variação do punk rock é caracterizada por sua canção agressiva e curta, com tempo acelerado e letras baseadas no protesto político e social. Venus Eclesiástica, compositora e membro da banda Kill me Pills, conta que o estilo musical exerce a função de manifestação por meio dos posicionamentos de sua praxe, como o vegetarianismo, feminismo e até o “drug free”, assumido por alguns. “Os eventos desse público procuram trazem além da música algum tipo de conversa neste aspecto, como em rodas de conversa, documentários ou microfone aberto”, diz. Entre as referências estão as bandas Limp Wrist, Teu Pai Já Sabe, 7 Seconds, Bikini Kill, Bulimia, Dead Kennedys, Bad Brains, que têm em suas letras opressões como racismo, homofobia e misoginia.

Hip Hop

Dessa cultura, também fazem parte o graffiti e o breakdance. Esse estilo anda de mãos dadas com o rap. Para o artista do gênero musical, MX Miledez, todos os ritmos têm que cobrar, contestar e amar. “Acredito que quando uma música é feita, cada ouvinte o carrega de um jeito diferente. Cada um tem a sua política interna, então o relacionamento é total, principalmente no hip hop, que é política, denúncia, reivindicação e amor puro”, declara.

Rap

O nome é a abreviação de rhythm and poetry (ritmo e poesia em inglês). O beatboxer e rapper Mautari Ogaiht acredita que o rap ajuda aquela pessoa que procura uma luz, um entendimento. “Valores que estão meio apagados acabam sendo colocados em questão em várias letras”, afirma. Criolo, Emicida e Kamau são algumas das referências. A filosofia desse estilo musical acredita que a mudança está mais no indivíduo do que no governo. “Se a gente fizer e se dedicar mais à gente mesmo, ao invés de esperar pelos outros, funcionaria melhor. A única coisa que a gente pode mudar somos nós”, revela o beatboxer.

Destacamos alguns trechos, de músicas politicamente engajadas, lançadas nos últimos tempos. Vale destacar a canção “Tudo Pelo Poder”, da dupla Brothers of Brazil, formada pelo Supla e João Suplicy; que apesar de filhos de Eduardo e Marta Suplicy, conhecidos políticos filiados ao PT, criticam à política brasileira sem censura. Outra grande obra lírica que merece atenção, análise e até mesmo, uma reflexão, é a música “Brasil com P”, do rapper GOG; apenas com palavras iniciadas com a letra p, o artista descreve a realidade social do país.

Brasil com P - GOG

Pesquisa publicada prova:

Preferencialmente preto,

Pobre, prostituta pra polícia prender

Pare, pense: por quê?

Prossigo

Pelas periferias praticam perversidades, parceiros

PMs

Pelos palanques políticos prometem, prometem

Pura palhaçada

Proveito próprio

Praias programas piscinas palmas

Pra periferia?

Pânico, pólvora,

Pá! Pá! Pá!

Primeira página

Preço pago

Pescoço, peitos, pulmões perfurados

Parece pouco?

Pedro Paulo

Profissão pedreiro

Passatempo predileto: pandeiro

Pandeiro, parceiro

Preso portando pó passou pelos piores pesadelos

Presídio, porões, problemas pessoais

Psicológicos, perdeu parceiros, passado, presente

Pais, parentes, principais pertences

PC

Político privilegiado preso

Parecia piada

Pagou propina pro plantão policial

Passou pela porta principal

Posso parecer psicopata

Pivô pra perseguição

Prevejo populares portando pistolas

Pronunciando palavrões

Promotores públicos pedindo prisões

Pecado!

Pena prisão perpétua

Palavras pronunciadas

Pelo poeta, Periferia

Pelo presente pronunciamento pedimos punição para peixes pequenos poderosos pesos-pesados

Pedimos principalmente paixão pela pátria prostituída pelos portugueses

Prevenimos!

Posição parcial poderá provocar protesto, paralisações, piquetes, pressão popular

Preocupados

Promovemos passeatas pacíficas

Palestras, panfletamos

Passamos perseguições

Perigos por praças, palcos

Protestávamos porque privatizaram portos, pedágios

Proibido!

Policiais petulantes pressionavam

Pancadas pauladas pontapés

Pangarés pisoteando postulavam prêmios

Pura pilantragem!

Padres, pastores promoveram procissões pedindo piedade paciência pra população

Parábolas, profecias prometiam pétalas paraíso

Predominou o predador

Paramos, pensamos profundamente

Por que pobre pesa plástico, papel, papelão, pelo pingado, pela passagem, pelo pão?

Por que proliferam pragas pelo país?

Por que, presidente, por quê?

Predominou o predador

Por quê?

Por quê?

Por quê?

 

 

A arte engajada

É através da arte engajada que alguns artistas são capazes de transmitir seus pensamentos políticos e sociais, e até mesmo, utilizá-la como forma de protesto ou denúncia contra algo que consideram errado.  A arte de rua reflete diversos aspectos da realidade do povo, como o tempo histórico em que é produzida, a cultura de uma determinada comunidade linguística e expõe ao mundo a visão da sociedade. Olhe os muros, veja o que as ruas falam. Navegue pela galeria e inspire-se!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Por trás do voto nulo

FLÁVIA PIPERNO

Votar nulo não é exatamente o que parece. Diversas ideias giram em torno do tema, mas você já pesquisou o real significado dessa forma de votação? Não? Então corre, aperta o play e descubra mais uma curiosidade sobre a nossa democracia.

 

 

 


Jovens mostram que política se discute sim!

CAROLINE MEDEIROS

Confira o debate abaixo, produzido pela nossa equipe, e descubra o que os jovens pensam sobre o tema e sua relação com a atualidade. Thayná Gama, 20 anos, estudante de Direito, e Gustavo Calil, 20 anos, estudante de Ciências Políticas discutem o assunto, citam a necessidade do engajamento político como um ato de cidadania e provam que discutir sobre essa questão não é nenhum bicho de 7 cabeças.

 


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Paulo Lima, idealizador, fundador e diretor executivo da Viração. Foto: acervo pessoal.

O Sonhalista

Conheça um pouco mais sobre Paulo Lima

CAROLINE MEDEIROS

Educomunicador, jornalista, fundador e diretor executivo da ONG Viração Educomunicação e Empreendedor Social da Ashoka, uma organização internacional sem fins lucrativos. Graduado em Filosofia, Jornalismo e Teologia; e também especializado em Comunicação, pelo Studio Paolino Internazionale di Comunicazione, na Roma. Ufa! É tanta coisa, que fica até difícil tentar resumir em poucas linhas. Cansou só de ler? Então, se prepara, porque esse não é nem o começo da trajetória de Paulo, “O Sonhalista”. 

“Trata-se de um neologismo que criei para dizer que sou sonhador, idealista e socialista. Também sou muito realista, procure transformar meus sonhos em realidades concretas e palpáveis.” Vicente de Paulo Pereira Lima

Neologismo é um termo linguístico utilizado quando alguém cria uma nova palavra, expressão ou atribui um significado diferente a uma palavra que já existe. Isto acontece quando o indivíduo não encontra uma palavra ideal para se expressar, e resolve então, criar algo novo. Criação no ato de se comunicar? Pois é, exatamente assim, que também podemos classificar Paulo, uma personalidade originária da junção dos dois termos; uma explosão de criatividade, acompanhada da necessidade de comunicação.

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Vicente de Paulo Pereira Lima na 5ª série. Foto: acervo pessoal.

Vicente de Paulo Pereira Lima, cearense de Fortaleza, teve seu primeiro contato com a comunicação logo aos 14 anos de idade. Sempre integrante de movimentos engajados socialmente, o primeiro veículo que Paulo participou da criação foi O Diálogo, um jornal paroquial ligado à Teologia da Libertação. A Teologia da Libertação, nada mais é do que uma maneira mais humanista de interpretar os ensinamentos sagrados de Jesus Cristo, ou seja, uma leitura da Bíblia focada na libertação dos problemas e das injustiças condições políticas, econômicas e sociais. Na mesma época, ele atuava numa favela vizinha a sua, aplicando o Método Paulo Freire, num curso de alfabetização para adultos, no Lagamar, periferia de Fortaleza.

Desde 1987, Paulo sempre esteve presente quando o assunto era comunicação popular e movimento de defesa dos direitos da criança e do adolescente. Justamente por todo esse engajamento e luta ativista pela classe, em novembro de 2002, ele recebeu o título Jornalista Amigo da Criança, do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), da Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança e do Adolescente e da Agência de Notícias dos Direitos da Infância (ANDI). Além disso, Paulo já foi diretor da Revista Sem Fronteiras e editor do jornal Brasil de Fato, que também participou da criação, em março de 2003.

“Os jovens não são o futuro, mas o presente. Precisamos conceber nossos projetos de mudanças com essa nova ótica, buscando criar instrumentos, mecanismos e espaços para favorecer a participação de adolescentes e jovens como sujeitos de direito.”

O prêmio serviu de estopim para mais uma das criações de Paulo, a revista impressa e eletrônica Viração. O projeto social, lançado em março de 2003, conta com a participação direta de 300 jovens e adolescentes de 24 Estados, e recebe apoio institucional da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), do UNICEF e ANDI Comunicação e Direitos.

“Processo, projeto e produto foram as primeiras palavras geradoras da Viração. Palavras-madre. Podemos entender melhor com uma analogia ao ambiente vegetal. É costume dizer que as árvores nascem das sementes, mas como poderia uma sementinha gerar uma árvore enorme, como uma mangueira por exemplo? As sementes não contêm os recursos necessários pro crescimento de uma árvore. Esses recursos devem vir do ambiente onde ela nasce. O ambiente em que foi gerada Viração foi muito fecundo. Estávamos embalados pela Grande Novidade que representou o Fórum Social Mundial, e pelo primeiro governo Lula. Era março de 2003. Três de três. O três ou seu múltiplo acompanham a caminhada da Viração desde o princípio. O ambiente em que nasceu Viração era propício.”

Desde a sua criação, a revista passou por diversas etapas, e também, enfrentou algumas dificuldades. Paulo conta toda a história, do que nasceu como “iniciativa pessoal”, e se transformou em “obra coletiva”. “No começo não tínhamos tudo quantificado e definido segundo os modelos de gestão organizacional. Tudo começou com muita intuição, força de vontade e determinação”, conta ele. O objetivo não era apenas criar um veículo midiático para o público jovem, mas, que eles também pudessem participar da construção do mesmo, originando assim um ”projeto social impresso”. Ele explica que a determinação é o princípio fundamental para concretizar um ideal, e a comunicação é um direito humano, tão vital quanto o direito à saúde, educação e o direito de ir e vir.

“Persistir e ter determinação são dois verbos que me acompanham no dia a dia. Foram muitos os tempos de vacas magras ao longo desses anos todos. Lembro que apresentava a Viração para potenciais financiadores e inscrevia projetos de sustentabilidade em diversos editais. A cada negativa, comprava um vaso de plantas ou flores para amenizar a frustração e transmutar o sentimento deixado pela porta fechada. Mas as portas e janelas, aos poucos, foram se abrindo. A gente foi sendo conhecido e reconhecido.”

A Viração já começou com 4.200 assinantes pagantes, herdados da antiga revista Alô Mundo, propriedade dos Missionários Combonianos, que apoiaram juridicamente o projeto de Paulo desde o início. A publicação também era distribuída gratuitamente para entidades e projetos que desenvolviam algum tipo de iniciativa voltada para a educação e a comunicação dos jovens. Porém, pouco a pouco o número de assinantes foi caindo, pois a proposta editorial deixou de ser marcada pelo viés religioso-católico-missionário, e passou a abordar temas polêmicos para os assinantes, como uso de camisinha, sexualidade e política. Segundo ele, a revista possui metodologia própria de trabalho.

Paulo lembra de quando a Viração não passava de um simples projeto, distribuído numa dezena de páginas de papel A4, e mesmo assim, persistente, ele o colocava debaixo do braço e ia em busca de apoio nas grandes cidades, principalmente em São Paulo e Brasília. Faz questão de ressaltar a participação de Chico Brito, ex-secretário de Cidadania e atual prefeito de Embu das Artes, que acreditou na proposta e investiu na iniciativa através de um anúncio pago. Foi isso que disponibilizou os recursos financeiros necessários, que possibilitaram a impressão da primeira triagem da revista, que contava com 10.000 exemplares. Um grande número, pois o intuito era distribuir gratuitamente uma parte deles, com o objetivo de ganhar mais visibilidade.

Também destaca a contribuição do padre João Pedro Baresi, que ajudou na coleta de fundos de doações para a revista, sempre que necessário. De acordo com Paulo, quando ele estava desesperado para pagar alguma dívida, antes de apelar para algum empréstimo bancário, ele recorria ao padre, que muitas vezes, chegou a emprestar dinheiro pessoal, para que Paulo pudesse pagar as contas da Viração. Outras pessoas que também o ajudaram financeiramente foram seu irmão Moesio Pereira Lima, sua prima Márcia Salles de Araújo e Adriana Bergamaschi, diretora de arte da revista.

“Viração cresceu. Deixou de ser projeto para ser organização de comunicação, educação e mobilização social entre adolescentes, jovens e educadores. Impactou na vida de mais de 6 milhões de pessoas no Brasil, seja por meio de seu carro-chefe, a Revista Viração, ou por meio dos 50 projetos especiais desenvolvidos ao longo de 11 anos.”

A principal inspiração de Paulo é seu pai, que segundo ele, foi o responsável por lhe ensinar a ter solidariedade, simplicidade e disciplina. Para ele, a jovem Malala, que recebeu o prêmio Nobel da Paz esse ano, o adolescente Iqbal Masih, assassinado por lutar contra o trabalho infantil no Paquistão, e o revolucionário socialista Che Guevara, também são considerados como fontes de inspiração. Ele ainda revela, que quando está em meio a alguma crise, sempre relê Os Diários de Che na Bolívia.

Além de tudo, “O Sonhalista” também atua como palestrante. Quando questionado sobre a responsabilidade disso, os prós e contras, e se ele se considerava um formador de opinião, Paulo respondeu: “Procuro assumir minha responsabilidade social assim como todo e qualquer cidadão. Minha ética é a mesma do carpinteiro, do pintor de parede, da faxineira. Não é porque sou jornalista educomunicador que meus princípios éticos mudam. Por isso, procuro estar atento ao uso das palavras que faço, de modo que eu procure sempre mais concretizar discursos e sair da pura e simples retórica”; provando sua simplicidade.

Em junho de 2004, ele também ganhou o Prêmio Internacional de Jornalismo Mario Pasini Comunicatore, concedido em Roma, pela Agência de Notícias Misna e a Associação Cuore Amico. Paulo também já escreveu diversos livros, e alguns, até mesmo, com colaboração de outros autores, entre eles: “Brasile al Bivio” (Milão 2004), Big bang della Povertà (Milão 2005), Agli Estremi dei Confini: Testimoni al crocevia dei popoli (Milão 2006), e Lele vive (Bologna 2006) – sobre os 20 anos da morte do missionário italiano, Ezechiele Ramin, assassinado por defender os direitos dos povos indígenas e sem-terra de Cacoal, Rondônia. Desde então, ele presta consultoria para projetos ligados à juventude de diversos ministérios, assim como, para a UNESCO, UNICEF e a Organização Mundial de Saúde.

Para Paulo, o principal desafio foi aceitar todas as transformações radicais e profundas que a vida lhe proporcionou. Como exemplo, citou os nove anos que passou no seminário, se preparando para ser um missionário, e largou, para se dedicar em tempo integral à sua paixão, seu projeto de vida social, no qual, ele se dedica com todo esforço para fazer deste mundo, um local mais justo, solidário e fraterno.

Atualmente, morando na Itália, ele explica que o principal propósito de estar longe do país, é com o intuito de expandir os horizontes, fortalecer o braço internacional e captar recursos a partir de outras fontes financiadoras, que não sejam apenas as nacionais. “Ao mesmo tempo, estamos divulgando o conceito, a prática Viração de ser e trabalhar. Desde 2010, estamos desenvolvendo projetos de educomunicação em escolas públicas e trabalhando com agremiações juvenis. Também estamos participando de um projeto europeu de educomunicação ambiental envolvendo 17 países. Na Itália, como em Portugal, estamos criando uma espécie de sucursal da Agência Jovem de Notícias. Em Burkina Fasso, na África, estamos contribuindo para a criação de uma organização de educomunicação a partir da nossa experiência como Viração”, explica.

“A educomunicação é a tábua de salvação para ajudar crianças, adolescentes e jovens, educadores e professores a saírem de suas “caixas”. Caixas que nos aprisionam desde os pequenos balbucios na barriga da mãe, que dá uma batidinha na barriga quando o bebê fica se mexendo muito. Depois, quando criança, é costume a gente ouvir dos adultos: “Cala a boca, você ainda é uma criança”. Ou “cala a boca, você ainda é novo e tem muito a aprender”. Na caixa chamada escola, geralmente é assim: quem fala é o professor. Aluno só ouve. Não opina, não tem voz. Desse jeito, a gente vai, pouco a pouco, tolhendo as asas da imaginação, da criatividade e da inovação. Desse jeito, a gente vai, por doses homeopáticas, escondendo tesouros, proibindo o desenvolvimento de talentos. Desse jeito, vamos negando a existência de outros e outras Villa Lobos, Tarsila, Mozart, Bethoven, Paulo Freire, Gandhi... nos campos da arte, da educação, da política, da cultura, da economia.”

Para a nova geração de jovens e profissionais que estão vindo aí, Paulo alerta que não basta apenas vislumbrar um mundo melhor e ter vontade de mudança, também é preciso agir. Deixa o recado: “Cada um deve olhar para dentro, se conhecer mais e ver como pode contribuir para melhorar o seu microambiente, o seu ambiente entorno, a sua família, a sua escola, a sua comunidade, a sua cidade, o seu Estado, o seu país, enfim... o mundo. É preciso ter essa visão integral e integradora, holística: o todo está na parte assim como a parte está no todo. Portanto, digo antes de tudo a mim mesmo que eu tenho que ver as interconexões que existem dentro de mim e fora de mim. Tenho que ver que a mudança não é apenas social, mas também íntima e pessoal. É dentro e fora de mim. É no meu jeito de falar e me relacionar assim como é no meu jeito de votar e me comportar diante das situações de injustiça que vivencio. E que a mudança é também local e planetária ao mesmo tempo. Ter uma mente sem fronteiras é importante para poder crescer como cidadãos planetários, que amam o planeta, que cuidam do planeta”.

Assista a animação abaixo inspirada na história de Paulo:

 

Um jovem representante

NICOLE SAVICIUS

Caio Funaki foi o candidato mais jovem a concorrer ao cargo de vereador nas eleições do ABC. Ele tinha apenas 19 anos quando se candidatou pela primeira vez, em 2012, pelo Partido Social Democrático (PSD), no município de São Caetano. Na sua campanha eleitoral, gastou cerca de R$3.000 e obteve 275 votos. Ele é suplente ao cargo numa campanha disputada por 300 candidatos em uma cidade com 123 eleitores. 

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Caio Eduardo Funaki suplente ao cargo de vereador em São Caetano do Sul. Foto: acervo pessoal.

O jovem também foi o único aspirante à vaga de toda a região a frequentar e concluir o curso “Curso de Formação Política e Governo para Candidatos as Eleições Municipais 2012”, promovido pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, no primeiro semestre do ano.  

Atualmente, iniciou uma campanha para estimular a participação dos jovens na política através da conscientização. Para isso, criou um canal de vídeos, participa de jornais e principalmente, propaga seus ideais através das redes sociais.

#MeuVoto: Dizem que o jovem não gosta de política. É verdade?

Caio Funaki: Não é verdade, o jovem hoje está revoltado com a realidade política que vive. Tenho certeza que se o jovem tiver oportunidade de participar da política séria e competente poderia contribuir muito.

#MV: Como começou a sua história na política?

CF: Eu vivo no meio político desde o meu nascimento. Venho de uma família dedicada à política, especialmente minha mãe, sempre atuante na classe dos advogados. Desde muito pequeno participei de reuniões e palestras da OAB. 

#MV: A sua escola ou universidade contribuiu para a ascensão desse seu gosto e interesse pela política?

CF: Minha vida estudantil contribui acrescentando experiência pelo trabalho que faço nos diretórios acadêmicos. Mas a minha melhor experiência foi no curso que na Assembleia Legislativa de São Paulo, que me capacitou profundamente no processo eleitoral.

#MV: Sabemos que você foi o candidato mais jovem a vereador no ABC. Em sua campanha, quais as maiores dificuldade que encontrou? Você se sentiu prejudicado por conta da idade?

CF: A idade contribuiu para agregar o apoio da juventude, porque tínhamos identidade de ideias, mas sofri preconceito dos mais velhos, que não acreditavam da minha capacidade de trabalho.

#MV: Quais eram suas propostas e pelo o que lutava?

CF: Minhas propostas focavam nas políticas públicas para juventude, como parcerias públicas/privadas para oportunidade de emprego, cursos de capacitação, mudança na sistemática de concessão de bolsas de estudos e a auto-escola pública.

#MV: Dizem que os jovens têm o desejo, o sonho de mudar o mundo. Como a política pode contribuir pra isso?

CF: A história mostra que todas as grandes revoluções foram promovidas pela união de jovens, desde o Brasil Colônia, nas revoltas pela Independência, depois pela República, pelo fim da ditadura, no impeachment do Collor e hoje, nas manifestações de rua. Como eu já disse, o jovem tem a vontade e a energia necessária para lutar. Nós temos a coragem e essa é a melhor ferramenta para a busca de um país mais justo. E a boa política, onde todos tem a oportunidade de apresentar ideias e trabalhar com competência e ética, é o meio correto de promover a mudança que precisamos para o Brasil.

Ficou interessado e gostaria de acompanhar um pouquinho mais do trabalho deste jovem político? Não deixe de assistir o vídeo, produzido pelo mesmo e sua equipe, dando dicas sobre como tirar o título de eleitor.

Fala galera!

A voz da juventude 

CAROLINE MEDEIROS

A palavra política tem vários significados. O principal deles é a definição do ato de governar, administrar e cuidar de um Estado ou Nação; mas também pode envolver a liberdade da sociedade de se expressar e assumir uma opinião.

Falar sobre política, não é nada fácil, porém, não chega a ser tão difícil, quanto dar uma resposta clara e objetiva sobre a real definição do termo, afinal, a política é muito ampla. Agora é a vez dos jovens falarem! Para saber um pouco sobre o que os jovens pensam sobre o assunto confira as respostas e descubra o que eles têm a dizer.

fala galera

Dicas

Dicas de Filmes

O cinema também é uma forma muito dinâmica de aprendizagem e obtenção de conhecimento. Apesar de alguns filmes não serem considerados atuais ou modernos, se tornam geniais exatamente por sua atemporalidade, ou seja, pode passar o tempo que for, e eles nunca saem de moda. Em tempos de eleições, o tema principal na maioria das rodas de conversa é política. Que tal entrar no clima e assistir alguns filmes que tratam do tema das mais variadas maneiras? 

"O cinema é uma maravilhosa máquina do tempo: é possível apresentar aos jovens de hoje os jovens da década de 60 que tinham um objetivo pelo qual lutar." Bernardo Bertolucci

dicas de filmes

 

Dicas de livros

Caso você prefira a companhia de um bom livro, o universo da leitura também é uma ótima opção. Então, segue aí, uma lista de publicações e obras, pra se aprofundar ainda mais no assunto. Afinal, livro é sempre uma boa pedida! 

"Um belo livro é aquele que semeia em redor os pontos de interrogação." Jean Cocteau

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¿ Teste ?

Você já politicou hoje? 

Não é só em época de eleição que é preciso se ligar no assunto, o conhecimento sobre política é fundamental! Desafie seus conhecimentos sobre a História do Brasil, a atividade eleitoral e os outros aspectos relacionados à vida política do país. Responda ao teste e descubra se você está por dentro do tema.

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