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Política pela Arte

 

 

 

 Quadrinhos

 

HISTÓRIAS EM QUADRINHOS NÃO É COISA DE CRIANÇA, NÃO!

Entenda como os gibis podem intervir na sua visão de mundo

Bárbara Cunha

 

 

 Se você tem mais de 20 anos, com certeza passou grande parte da sua infância, uma época em que as redes sociais ainda estavam um pouco longe da realidade, se entretendo com gibis.

Se você é mais jovem do que isso, sequer tirou o título de eleitor e não entende metade do que gente grande discute sobre política. É, você provavelmente já foi direcionado ao mundo tecnológico desde então. Mas ainda dá tempo de dar chance aos quadrinhos, viu? 

O fato é que muitos adultos por aí consideram uma grande bobagem histórias de super-heróis que usam a cueca por cima da calça e pessoas com grandes poderes. Sabe, coisa de criança.
Mas peraí! Você que é adulto, já parou para ler uma HQ nos dias de hoje? Se sim, deve ter percebido que além de apresentar diversos acontecimentos um tanto quanto inusitados, ela também pode muito bem te levar a um mundo de conhecimento e aprendizado. Por trás dos desenhos, grandes mensagens estão sendo lançadas para quem lê e para o mundo.

Já imaginou viver em uma sociedade onde todas as diferenças são respeitadas? Onde o bem sempre vence o mal? E, além disso, um mundo repleto de respeito, compaixão e pessoas que se vestem sempre com a mesma roupa para manter a sua identidade?

Apesar da utopia, essas histórias normalmente constroem mensagens e, através das curtas frases, uma ideologia se desenvolve e assim são repassadas para a sociedade.

Você pode até não ter lido a HQ V de Vingança de Alan Moore e David Lloyd, lançada em 1988, mas com certeza sabe do que ela se trata. Não? Então vamos lá... Mês de junho de 2013. Brasil. Manifestações. 

História em Quadrinho – V de Vingança.

A história não só foi usada como referência aqui no Brasil, mas também em várias partes do mundo. Uma trama política na qual um terrorista mascarado desafia um governo fascista de uma Inglaterra futurista. Repleto de ataques, o personagem V deseja implantar a anarquia no país. Diferente dos super-heróis tradicionais, V não possui poder algum, mas chama a atenção por sua inteligência e discursos.

Outro tema abordado em V de Vingança, que tem tudo a ver com a grande polêmica das manifestações que ocorreram pelo país no ano passado. O confronto entre manifestantes e militares. Percebe-se que a trama nem precisou ser atual para tratar de um assunto tão novo para os brasileiros.

É verdade que a popularização, tanto da história quanto do personagem - principalmente da famosa máscara de Guy Fawkes, se deve à versão cinematográfica. Mas isso só prova que uma HQ pode retratar diversos assuntos políticos.

Você também já deve ter visto uma garotinha baixinha e fofinha, mas que não é a Mônica por aí. Ela questiona política melhor do que todos nós juntos.
Essa é a tão amada Mafalda. Criada no período pós-guerra fria pelo cubano David Viñas, que aproveitou o regime ditatorial que vivia e expressou sua visão de mundo através dos quadrinhos.

Escrita pelo argentino Quino, Mafalda questiona os direitos humanos, a paz no mundo e outras questões. Pensar que é só o desenho de uma garotinha bonitinha, não é mesmo?

Sua importância virou até homenagem na Argentina. Uma praça que recebe o seu nome conta com bonecos da Mafalda, decorações de quadrinhos e lojas para quem quer levar uma lembrança dela para casa. Não há ninguém que não a conheça – e que não seja apaixonado por ela. Apesar das publicações terem sido encerradas em 1973, seus questionamentos são completamente atuais, como qualquer acontecimento político.

 

E Guerra Civil, da Marvel Comics, você conhece? Se não, é uma história que questiona como os heróis combatem o crime. O governo se vê pressionado pela sociedade e determina uma lei em que todos os “super-humanos” sejam registrados. A partir daí que o mundo se vê dividido em dois lados: um deles é a facção pró-registro, que é liderada pelo Homem de Ferro, e o anti-registro, liderado pelo Capitão América.

X-Men você conhece, né? Mas já parou para pensar nos temas das histórias que são repletas de diferenças e, ao mesmo tempo, igualdade. Esqueça os superpoderes. O principal enredo é a igualdade entre homem e mutante, assim criando um paralelo com questões como racismo e homofobia. Personagens de cores, poderes e ideias diferentes que nem sempre seguem o mesmo padrão. Aposto que você deve enfrentar situações parecidas todos os dias. No trabalho, na faculdade, na rua...

Azul é a cor mais quente? O filme só existe graças à graphic novel. Independentemente das cenas adultas, a trama relata a descoberta e dúvidas de uma jovem em relação à sua opção sexual. É, isso mesmo. Um relacionamento lésbico. O que você também deve se deparar todos os dias. De novo. No trabalho, na faculdade, na rua...

Além de retratar comportamento e sociedade, muitas histórias em quadrinhos são inspiradas em grandes acontecimentos políticos. Maus, por exemplo, que conta a história de um sobrevivente do campo de concentração de Auschwitz. O caso mais famoso, que rendeu até adaptação para o cinema, é Watchmen que tem como contexto a Guerra Fria, onde os norte-americanos estão prestes a declarar uma guerra nuclear contra a União Soviética.






Charge


QUER QUE EU DESENHE?

Chargistas questionam a possível influência de seus desenhos em épocas de eleições

Milena Nunes



Você já parou para analisar uma charge em época de eleição? Será que um desenho pode clarear ou mudar a opinião do leitor?

As charges, desde o seu princípio, tem o objetivo de expressar a opinião, dialogar, entreter e contestar os fatos do cotidiano. Longe de ser um desenho bonitinho e engraçadinho, as charges nos mostram em seus traços, cores e palavras o pensamento de quem a produz, que procura passar ao leitor o sentimento de indignação, reprovação ou aprovação ao fato em si.

Se analisada isoladamente pode ser considerada uma peça humorística ou uma obra de arte ou simplesmente uma ideia com a vida de uma mosca que dura só um dia.

Charges com o apelo político são as preferidas dos chargistas tanto da antiga quanto da nova geração, já que no Brasil não falta material, segundo eles.

Ser chargista é exercer a capacidade de retratar os fatos, construindo metáforas e instigando o leitor a um pensamento ideológico do meio em que vive sempre associado às informações da mídia.

 Questões políticas sempre fizeram parte do mundo das charges, principalmente em momentos de eleições, artistas como Laerte Coutinho e João Montanaro utilizam os desenhos para expressar a sua opinião com muito humor e crítica sobre promessas, alianças e gafes de nossos candidatos a cargos públicos.

Charge da Laerte vencedora do 1° Salão de Humor de Piracicaba em 1978. Inspirada na tradicional fábula de Hans Christian Andersen, O Rei Está Nu, também alusiva à Ditadura Militar

Repressão nas ruas, conflitos, um clima assustador e caótico no Brasil. Laerte Coutinho foi um dos artistas mais ativos no período de chumbo, em que a liberdade de expressão ficava escondida entre muros. “A charge era um espaço de possibilidade de expressão”, aponta, lembrando-se do período mais crítico. Depois de 74, com a ‘distensão’ do governo Geisel, “A realidade foi ficando mais complicada e a charge política precisou ‘pensar’ mais. Acho que isso foi positivo".

O igualmente aclamado Chico Caruso resumiu, certa vez, bem o papel de que o humor teve e tem como crítica social: “o humor tem uma função desmistificadora, iconoclasta, demolidora que ajuda a inteligência, ajuda o pensamento. Se considerar a política uma coisa séria, você não dá um passo”.

Humor e inspiração podem, dependendo do conceito em que são aplicados, representar um reforço de preconceitos ou força conservadora alimentando a inteligência ou a burrice.

“Acredito que charges - cartuns editoriais - mais reforçam do que mudam atitudes. Em alguns momentos, com circunstância favorável, talvez possam exercer algum poder de mudança de opinião, mas acho improvável” - Laerte Coutinho

“ Acho que mostra minha opinião, mas dificilmente vai mudar a de outra pessoa. Mas é um bom objetivo para se ter”  - João Montanaro

Populações que eram submetidas a tratamentos humilhantes e ofensivos, sem possibilidade de contestação, têm, nos dias atuais, voz para exigir respeito, comenta Laerte Coutinho. “O humor, comicidade, assim como todas as expressões culturais, devem conviver com seu contexto social e histórico".

Na época de repressão bastavam poucas insinuações para que se considerasse o recado dado. Existia o Grande Mal, o inimigo - militares, capitalistas sujos e o Grande Bem - pobres, trabalhadores, jornalistas, estudantes, todos desejosos de democracia. Depois, como disse, as coisas ficaram bem mais complexas. As próprias pessoas que produzem charges são muito diferentes entre si, percorrendo o mesmo espectro ideológico que existe na sociedade.

De onde vem a inspiração de João Montanaro, cartunista com 18 anos de idade e há quatro anos no jornal Folha de São Paulo, para criar suas charges políticas? A resposta é clara, simples e engraçada como os seus desenhos: "Não sei”. Mas ele dá algumas pistas, como assumir que sempre gostou das charges do Angeli e da ideia de fazer piadas com situações reais. “Acho que a inspiração vem fácil num lugar como o Brasil... Material aqui não falta."




Humor


Humor e política


É possível aprender dando risada? Informar e criticar a política são elementos importantes na criação do repertório do comediante? Para entendermos melhor como funciona a cabeça de quem quer nos fazer rir, mesmo com um tema tão sério, tivemos um bate-papo descontraído com os humoristas Paulo Vieira, Fábio Rabin, André Santi, Dinho Machado e Rogério Vilela. Dê play e ouça nossa matéria sobre Humor e Política.

Reportagem:Milena Nunes e Larissa Almeida
Locução: Larissa Almeida

Games




Modo Co-op: Quando jornalismo e games se unem para debater coisa séria

Informação e entretenimento dão as mãos e conquistam novo público para notícias de política e relatos de grandes acontecimentos históricos

Heloísa Miro, Nathalia Malaquim, Gustavo Rodrigues



Um guerreiro espartano, minutos antes de ser morto por inimigos, clama por Ares, o deus da guerra, e promete servidão eterna se a divindade o salvar e der poderes para que ele possa se vingar de seus quase assassinos. Ares o trai e o guerreiro precisa de justiça e a faz com as próprias mãos. O deus da guerra padece e o trono recebe um novo dono.  Esse é o enredo de God of War e só é possível entender os motivos e desdobramentos dessa história quando a vivemos através do jogo. Partindo da mesma premissa participativa, o jornalismo entra nos games. A barreira entre entretenimento e notícia se perde a cada produção dos newsgames: jogos baseados em notícias e atualidades que usam dos recursos tecnológicos, visuais e lúdicos para aproximar a história do público.

A trajetória dos games eletrônicos começou na década de 50, quando os simuladores encantaram crianças e jovens. Nos anos 70 e 80, os jogos conquistaram lugar fixo e importante no desenvolvimento infanto-juvenil com a popularização dos arcades e consoles, até os dias atuais, quando cada lançamento é uma surpresa que permite interação e participação com sensores de movimento e simuladores de ambiente.

Toda essa tecnologia e criatividade sempre foi vista somente como forma de entretenimento, sem nenhum compromisso com educação ou informação. Mas o cenário mudou. Os newsgames são uma maneira consolidada e útil de aproximar o jornalismo do público e pode ser uma ferramenta extremamente interessante para apresentar dados, fatos e contexto histórico sem que o leitor mude de site ou se distraia antes de absorver o conteúdo oferecido.

No Brasil, quem encabeça a produção desse tipo de jogo com maestria é a revista Superinteressante. Fred Di Giacomo Rocha é jornalista e escreve para o blog da Super especializado em newsgames. Ele nos conta que para se criar esse tipo de jogo a apuração jornalística é a mesma que se usa para construir uma matéria, porém, o objetivo da pesquisa por informações é outro já que tudo o que foi levantado não irá para um texto e sim para o jogo. Dessa maneira, o conteúdo irá servir como base para a criação do game e deverá ser transmitido através do cenário, da mecânica, das interações, dos diálogos e de blocos textuais.

Porém, a realidade dos jogos está longe de ser estável. Com os custos que são necessários para produzi-los e a crise financeira que as grandes empresas de comunicação vêm enfrentando, a criação dos newsgames fica comprometida. A melhor alternativa são os projetos de investimento do governo federal para essa área, mas, acima de tudo, os veículos precisam entender que só permanece quem se renova e que essa é a linguagem do século XXI.







Entre balas de canhão e choques do trovão


Os jogos mais populares de cada ano costumam ter a mesma estrutura narrativa, jogabilidade e pano de fundo. Dificilmente um jogador de Call of Duty, Battlefield ou de Counter Strike vai dizer por que o personagem controlado por ele toma tais atitudes no game ou se ele é apenas uma peça num grande tabuleiro. O consumidor é apenas mais um jogador, assim como o soldado é mais um homem no pelotão.

Fugindo da premissa de que derrotar o adversário é a única coisa que importa, alguns games aparecem na indústria e chamam atenção, como o aclamado Valiant Hearts. O jogo de plataforma, assim como os clássicos Super Mario World e Sonic the Hedgehog, se passa durante o período da Primeira Guerra Mundial e tem como trama a união de cinco personagens, de nacionalidades diferentes, para que um jovem alemão reencontre o amor da sua vida. Eles participam da ação como enfermeiros de guerra, merendeiros e até mesmo um cachorrinho que ajuda na resolução dos quebra-cabeças. Personagens que são vítimas das circunstâncias da guerra e que lutam pela sobrevivência sem usar a força, ao contrário do convencional.

A narrativa de Valiant Hearts ainda tem como objetivo tocar cada jogador que desbravar a história dos cinco personagens. Não há vitorioso em nenhuma guerra e isto é mostrado no decorrer do game, principalmente quando um dos personagens principais morre.

Felipe Santana Felix é editor-chefe do site especializado em games Selecter e ressalta o ótimo trabalho de desenvolvimento que a Ubisoft teve ao criar Valiant Hearts. Não elencar mocinhos e bandidos e contar um evento que mudou a história da humanidade de uma forma que não apenas os gamers tenham interesse é o caminho para temas sérios serem abordados nos vídeo games. Ele ainda diz que gostaria de ver um jogo neste estilo baseado nos acontecimentos envolvendo Israel e Palestina e que eles fossem difundidos como forma de aprendizado.

Entretanto, em alguns casos, uma experiência inusitada torna-se um grande conflito entre democracia e anarquia. No começo do ano um internauta criou um streaming na Twitch TV que permitia aos usuários jogarem ao mesmo tempo jogos clássicos da franquia Pokémon. Cada pessoa poderia dar uma ação para o personagem ao escrever nos comentários o que ele deveria fazer, assim aquele comando seria recebido e o protagonista o faria com um atraso de poucos segundos.

Em pouquíssimo tempo, o número de views do streaming se multiplicou, aumentando ainda mais o número de jogadores e comandos que o game receberia de cada usuário. Este número excessivo de comandos fazia com que o protagonista ficasse preso no mesmo lugar durante horas. Alguns tentavam criar um diálogo que fizesse com que eles votassem e se organizassem pelo bem comum da história, enquanto outros estavam se divertindo com aquele caos. Este embate criou vários confrontos entre democracia e anarquia pelos jogadores, algo que só podia ser amenizado pelo dono daquele streaming.

Uma experiência que tinha como base a nostalgia dos milhares de fãs de Pokémon tornou-se muito maior, como um confronto de decisões entre milhares de jogadores ao mesmo tempo. Na maioria das situações, eles seguiam a decisão que faria o protagonista chegar o mais próximo possível do final do jogo, mesmo que algumas decisões comprometessem este desfecho. Mesmo que jogadores democratas e anárquicos combatessem a vontade do outro, o caminho buscado por ambos os lados era o melhor possível para o final feliz da história.




Políticos com o controle na mão

O marketing dos políticos está mais criativo a cada campanha, mesmo que ainda haja muito mau gosto da parte de alguns. Para alcançar os jovens alguns candidatos usaram referências à indústria dos games, principalmente os clássicos do Mario, para atingir o público-alvo. O candidato a Deputado Federal Carlos Adão, pelo PRB, teve no seu período de campanha um jogo baseado em Super Mario Bros. Nele o jogador controlaria Carlos Adão por locais parecidos com o do jogo da Nintendo, combatendo inimigos engravatados que simbolizam a velha política corrupta, que o candidato afirma ser contra. Frases como “Mudança já! Cultura do Povo é poder ao Povo!” pixadas nos muros, assim como o nome do candidato, uma das características mais marcantes dele.

Mas não foram só os peixes pequenos que aderiram ao universo dos games para o marketing político. O candidato do PSDB, Aécio Neves, teve sua vida contada como se ela fosse um clássico jogo de plataforma, novamente inspirado no universo de Super Mario World. No vídeo, Aécio aparece ao lado de seu avô no combate da ditadura, voando em um tucano, símbolo do partido, fugindo dos fantasmas da corrupção e apenas com feitos positivos como político. No final, ele enfrenta um dinossauro vermelho que se transforma numa estrela vermelha rachada, um simbolismo ao PT. Ambos os candidatos não foram eleitos.





Música


“Sem justiça não tem paz e sem paz eu sou refém” 

Gabriel Pensador na música “Nunca Serão”

Ana Carolina Prado, Mariana Bonareli, Mayara Flausino




Gabriel, o Pensador conversou com a nossa equipe sobre alguns temas políticos importantes, como a ficha limpa e a sua posição sobre a imunidade parlamentar.


“Até quando’, que é uma letra em que eu quis chamar as pessoas para uma reação coletiva, inspirada nas injustiças sociais e nos absurdos da política, da opressão econômica, da violência da polícia, dos problemas do judiciário e coisas assim, muitas pessoas tomaram como um hino de estímulo a uma transformação muito mais pessoal, além de várias histórias inusitadas”.

A política sempre fez parte da vida de Gabriel. O incômodo que sentia com o conformismo brasileiro o fez largar a faculdade de comunicação e levar às rádios uma fita demo com a música "Tô feliz (Matei o Presidente)”, que acabou sendo censurada cinco dias depois pelo Mistério da Justiça por conter ofensas ao então presidente Fernando Collor de Mello, que passava por um processo de impeachment.


Mesmo com a proibição, a música já fazia sucesso e serviu de inspiração para os jovens da época. 22 anos depois, Gabriel ainda se surpreende com a influência que consegue exercer através de sua música em seus fãs. Suas canções conseguem não só inspirar quem a escuta, mas também provocar reações que nem imaginava quando as compunha.

Mudança. Essa é a palavra-chave de diversas músicas do músico – e também do bate-papo que rolou com o rapper, que você vai poder ouvir agora.


Veja as perguntas e clique para ouvir as respostas:

Você acha que a música que contém conteúdo político interfere na opinião das pessoas que a escutam?

 

 

 

Como você queria que fosse a pátria que TE pariu?

 

 

 

"Até quando" e "Nunca serão" questionam o posicionamento de grande parte da população para mudar os pontos negativos que existem na sociedade. O que você acredita que faria o povo lutar contra o que teme e parar de esperar solução vinda dos outros?




Em 1995, quando a música "Estudo Errado" foi lançada, houve uma grande discussão e polêmica a respeito do sistema do ensino brasileiro. Você acha que o professor é um construtor de opinião política em sala de aula? Qual a importância que o professor tem na construção dessa visão política? Qual a sua visão sobre o sistema de ensino brasileiro?

 

 

 

Qual é a sua opinião sobre o sistema político brasileiro? O que precisa mudar?




Na música "Brazuca" você deixa claro as oportunidades dadas para quem é bom no futebol e para quem não é. Qual a sua opinião em relação a isso? O que é necessário para deixarmos de ser vistos apenas como o país do futebol?

 

 

 

“Não vamos mudar as coisas votando de dois em dois anos” – Nicolas Christ

Apesar do nome Forfun significar “por diversão”, a banda trata de assuntos sérios, como política nas letras das músicas e em suas redes sociais

  Ana Carolina Prado, Mariana Bonareli, Mayara Flausino
 





Formada no ano de 2001 a Banda Forfun se baseava no ritmo pop punk para escrever as músicas. Com o tempo o seu estilo musical foi mudando e passaram a ter como influência ritmos como o reggae, sem esquecer o lado rock nas canções.

Após o lançamento do álbum Polisenso - em 2008, o Forfun mudou sua postura e passou a inserir nas músicas uma visão politica. Um exemplo disso são as músicas Escala Latina e Dia do Alívio. Depois disso, as intervenções foram ficando cada vez mais frequente, tanto que no ano passado, a banda chegou a lançar o EP “Solto”. A faixa “Terra de Cego” se encaixava perfeitamente para os jovens que estavam indo às ruas pelas manifestações.

O baterista da banda, Nicolas Christ, conversou com a gente sobre as manifestações políticas nas músicas da banda e a situação da política brasileira: 

 








Teatro



Do palco pra rua, de dentro pra fora

Larissa Almeida




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Lucas fez parte do Circuito Sesc de Artes em 2013 (Foto: Sérgio Galvão)
Quando falamos de teatro, seus olhos brilham. Quando falamos de política, sua fala se enche de crítica. Lucas Lima é um artista que, como muitos, pensa em transformar o mundo através da arte.

Lucas tem só 24 anos, mas já deu tempo de participar de manifestações, ocupar prédio, apanhar da polícia, casar, descasar e até de ser diretor cultural de Paraibuna. Ah, e ainda tem um grupo de teatro.  Histórias não faltam – e ele as conta com seu papo leve, fácil e intrigante.

O dia sempre começa cedo, para dar conta de tantos interesses – aos quais se soma a Formação para Jovens dos Doutores da Alegria. Sim, ele é um palhaço. E com formação! Antes de passar pelo Centro de Artes Cênicas Walmor Chagas, já havia feito cursos livres de teatro em São José dos Campos, cidade onde nasceu. Afinal, humor é coisa séria. Seus esforços em se aprimorar o levaram a diversas companhias de teatro, entre elas o Grupo Teatro do Imprevisto, onde atuou por cinco anos. E a coroar sua carreira com a fundação seu maior orgulho é a Cia Dusmininus, grupo que fundou há um ano junto com seu amigo, Mateus Tropo. A Cia ainda é um bebezinho!

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Lucas e Mateus apresentando o espetáculo Circo di Due em Curitiba (Foto: Keily Dias)
Mateus está em São José e Lucas em São Paulo, mas isto não impede que os meninos continuem fazendo o que tanto amam. A internet entra nessa jogada, ajudando Lucas e Mateus a se comunicarem e organizarem suas ideias. Depois, é só se encontrar e pronto: a mágica do teatro esta feita.

Mas o palco preferido de Lucas não é aquele que fica dentro de grandiosos teatros. O palco preferido de Lucas é a rua. Sim, a rua! Atuar na rua não é só um gosto pessoal, e ele não faz isto só porque acha bonito e interessante, mas por uma questão política. É nela que o povo pede mudanças – que se atinge tantas classes sociais ao mesmo tempo. É desta forma que Lucas pensa em mudar vidas. E sim, ele sabe que é possível, pois foi o que aconteceu com ele.

Antes de subir aos palcos, era uma pessoa comum. Hoje, se refere ao seu “eu anterior” como um “garoto alienado”. Sabe aquelas pessoas que se preocupam apenas com o seu mundo e com seu dia a dia, sem querer saber dos problemas da sociedade? Pois é, é assim que ele disse que era. Mas aí conheceu o teatro quando estava na oitava série, lá em Ferraz de Vasconcelos, e tinha os seus 14 anos. A professora de artes resolveu montar uma peça do Nelson Rodrigues, “A Valsa Número 6”.

Depois que começou a atuar, seu pensamento mudou da água para o vinho. Começou a refletir no porque das coisas. Por que a sociedade é deste jeito? A religião é mesmo intocável? Por que os políticos agem desta forma? São tantos pensamentos que surgem, pensamentos que são capazes de deixar qualquer um louco! Mas foi assim que ele começou a buscar a mudança e acreditar na arte como uma ferramenta transformadora.

Lembra do Movimento Passe Livre, aquele que deu inicio as manifestações em julho do ano passado? Então, foi assim que Lucas começou a buscar a mudança que procurava, mas lá em São José. Além do MPL, ele também participou da Organização dos Jovens Estudantes, militou em algumas manifestações em sua cidade natal e colheu alguns frutos de suas lutas políticas, como conseguir revogar o aumento do salário dos vereadores.

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Don Ruan da Silva, palhaço vivido por Lucas (Foto: Keily Dias)

 

Não foi fácil: levou spray de pimenta na cara, enfrentou tropas de choque e apanhou de seis policiais. Tudo por uma causa. Mas nunca as que levam o nome de algum partido. Simplesmente não interessam a ele. Lucas defende movimentos apartidários, pois acha que onde há partido há o interesse de alguém. Mesmo que a agremiação alcance uma boa parte do povo.

Mas ele não é santo e também perde o humor. Por conta de quê? Principalmente pelo comodismo das pessoas diante de algumas situações. Depois de tanto lutar e querer mudar o mundo para melhor, ver alguém parado não deve ser fácil. Ele admite que está vendo um maior interesse na política, mas que muitas pessoas acabam entrando em uma militância, uma militância distorcida, e sem se informar acabam se envolvendo em algo diferente do que querem. Vão apenas com os outros. Mas pelo menos os jovens estão perdendo aquela síndrome de Gabriela, “eu nasci assim, eu cresci assim”. E o que isso significa? Estão querendo mudanças.

A arte mudou sua vida—e através dela quer ajudar a transformar a dos outros, propondo questionamentos. É claro que uma reforma na educação é mais que necessária, mas o teatro ainda é o meio que ele defende para que todos possam refletir. E ele já está conseguindo! Depois de ver uma peça de Lucas (apresentada nas ruas, é claro) que questionava a religião, alguns espectadores foram falar com ele, dizer que nunca haviam pensado de tal forma, mas que agora questionavam sobre isso. E sobre muitas outras coisas! Ver o público entender o propósito de seu trabalho é um enorme começo. E que começo!

E assim segue Lucas, agora se dedicando a colocar os projetos da Cia Dusmininus em prática. Esperamos que continue assim, procurando e encontrando mudanças. E que muito mais gente possa aprender com ele!

 

 

 

Manifesto

Arte nas ruas

 Manifesto calado. Grito sem voz. O grafite dá cor, vida e luta para os muros gelados de São Paulo. Por meio da arte, cidadãos que não são ouvidos encontram uma maneira de entoar seus gritos. Os grafiteiros usam do cimento e da tinta para ressaltar mazelas sociais, injustiças diárias e dificuldades da periferia. Nas ruas, eles têm o spray. Aqui, eles são donos da voz. Dê play e assista o documentário Manifesto.


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