Capitalismo como religião: a crítica à idolatria do mercado da Escola do DEI
O mundo moderno Ocidental se afirmou como racional e secular, se opondo à religião e o seu sistema de crenças. A partir dessa compreensão da modernidade, o cristianismo Ocidental pensou a sua missão e sua identidade em oposição à secularização e o ateísmo e/ou racionalismo. Na década de 1980, um setor da Teologia da Libertação (aqui chamada de “Escola do DEI”, Departamento Ecuménico de Investigaciones, de San José Costa Rica) propôs uma nova compreensão da modernidade capitalista e, com isso, uma nova compreensão da missão das igrejas cristãs. Utilizando-se do conceito de idolatria do mercado, a absolutização de uma instituição humana-social, o “mercado livre”, a Escola do Dei elaborou uma crítica teológica a essa “adoração” a um “deus impessoal” que exige sacrifícios de vidas humanas e têm a função social de legitimar o sistema capitalista de uma forma religiosa. Assim, ela rompeu com a visão da modernidade como secularizada e passou a ver no capitalismo uma forma de religião.
A publicação, em 1985, de um fragmento inédito de Walter Benjamin, escrito em 1921, que tem por título “Capitalismo como religião” gerou em diversos autores da área de ciências sociais e da filosofia interesse em aprofundar essa intuição que vai além da tese de M. Weber de que a ética cristã influenciou o surgimento do capitalismo e do seu espírito. Com isso, a intuição dos teólogos da libertação ligados a Escola do Dei passou a ser valorizada retomada por pensadores fora do campo da teologia. Paralelamente a esse desenvolvimento, a partir do final da década de 1980, surgiram pesquisas que mostram como a noção de religião que conhecemos hoje é uma invenção da Europa Ocidental, no século XVIII, e que ela é distinta da noção do que era no passado aquilo que hoje chamamos de religião. Essa revisão do conceito de religião, não oposta ao secular e nem reduzida ao âmbito da vida privada, permite compreender melhor a compreensão do capitalismo como religião (Benjamin) e, mais do que isso, capitalismo como uma religião idolátrica (Escola do DEI).
Esta pesquisa pretende estudar a crítica teológica ao capitalismo como religião idolátrica da Escola do Dei – especialmente de Franz Hinkelammert e Hugo Assmann –, dando uma atenção especial à sua metodologia de análise crítica e a compreensão da teologia como uma teoria crítica.