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Poder do dinheiro é antigo como a civilização, aponta professor da Universidade de Heidelberg

Em palestra na XX Semana de Estudos da Religião, Ulrich Duchrow fala sobre “Radicalizando a Reforma Protestante”

28/09/2016 17h20 - última modificação 28/09/2016 17h20

Estudioso alemão falou sobre "Radicalizando a Reforma"

Perto de completar 500 anos em 2017, o centro da Reforma Protestante de Martinho Lutero continua atual. O poder do dinheiro e do mercado - que desde os tempos bíblicos foi combatido por Jesus Cristo, enraizou-se na igreja católica e encontrou em Lutero um contestador - mantém-se presente no mundo globalizado movido pelo capitalismo financeiro.

“Há uma interrelação entre os tempos da Bíblia, da Reforma e do Estado atual e em comum aos três contextos estão o dinheiro e sua cobiça”, discorreu professor Ulrich Duchrow, da Universidade de Heidelberg, ao falar na abertura da XX Semana de Estudos de Religião na noite de 27 de setembro.

Segundo o estudioso alemão, a moeda como acúmulo de riqueza permeia a civilização desde sua descoberta como instrumento de troca, mas na atualidade está revestida de um poder destruidor do homem e da natureza porque se transformou em capital de dominação. Sinais disso seriam os balanços financeiros (livros-caixa) realizados para o mercado acompanhar o lucro das empresas, as propriedades coletivas privatizadas, o homem transformado em parte mecânica dessa máquina dominadora, o distanciamento cada vez maior entre ricos e pobres, a destruição do meio ambiente, entre outros.

“A modernidade se compõe de três pilares: ciência e técnica racionalizadas, capitalismo imperializado e ações manipulativas, do tipo saber é poder”, citou professor Ulrich Duchrow, integrante de um grupo de 40 autores que produziu cinco volumes da pesquisa “Radicalizando a Reforma: Provocado pela Bíblia e Pela Crise”, que analisa 94 teses de Martinho Lutero e seu rompimento com a igreja católica, que na Idade Média conquistou grande poder político e econômico ao se unir ao sistema feudalista. A venda de indulgências, ou seja, qualquer cristão poderia comprar o perdão dos pecados, foi o foco da contestação de Lutero.

Supremacia desde sempre

No século 8 antes de Cristo, o profeta Amós já protestava contra o domínio do dinheiro e também a Torá (cinco primeiros livros da Bíblia entregues a Moisés e ao povo hebreu) contém críticas explícitas ao proibir os juros, pregar o perdão das dívidas e a promoção periódica da reforma agrária, citou professor Ulrich.

Ele historiou como a moeda exerceu supremacia nas relações humanas e pautou ações de governantes, como no Império Romano em que saques e sequestros de bens e mulheres eram colocados em circulação na forma de dinheiro ou na colonização da América Latina, onde minas de metais preciosos geraram escravidão.

Jesus rebelou-se com a célebre frase: “A Deus o que é de Deus e a César o que é de César”, ao pregar o não-acúmulo de riquezas na Terra e é a esse ponto de partida do cristianismo que professor Ulrich entende que a humanidade deve retornar. “A crise atual leva à morte e pressupõe conversão para a salvação, como já dizia Jesus”, citou. A seu ver, grandes corporações empresariais e financeiras representam o “capital devorador”, cuja idolatria não seria apenas ganhar mais dinheiro, mas se sentirem acima de tudo e de todos. “A igreja verdadeira não deve ter nenhum tipo de acordo com esse sistema”, pregou.

‘500 anos da Reforma Protestante: Críticas e Perspectivas’ é o tema da tradicional Semana de Estudos da Religião promovida pela Universidade Metodista de São Paulo, este ano na 20ª edição e que ocorre entre 27 e 29 de setembro. Além de docentes da Umesp e da USP (Universidade de São Paulo), estão entre os convidados os professores Véronique Gauthier, da Universidade de Strasbourg, da França, e Ulrich Duchrow, da Universidade de Heidelberg, Alemanha.

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Esta matéria foi publicada no Jornal da Metodista.
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