Igreja missionária é a que transforma a sociedade, diz professor da Universidade de Pretória
11/08/2016 15h05 - última modificação 11/08/2016 15h04
Depois de modular o lema do amor ao próximo conforme os movimentos da história, a igreja cristã moderna retoma os primórdios de trabalhar “com” os pobres e não “para” os pobres. O conceito de igreja missionária pregado por Jesus estaria sendo reavivado com a volta do compromisso de transformar e mudar a sociedade a partir de envolvimento mais sólido com a comunidade em todas as dimensões: econômica, política e social.
“A igreja precisa ser menos institucional e mais relacional em seu compromisso com os pobres e oprimidos. Não precisa tanto trazer as pessoas para a igreja, mas levar a igreja ao mundo para promover a transformação humana”, afirma Jerry Pillay, da Escola de Teologia da Universidade de Pretória, África do Sul, que realizou palestra na Universidade Metodista de São Paulo no último 10 de agosto.
Professor Pillay não expôs o real impacto das diferentes posturas da igreja sobre a comunidade ao longo dos séculos, mas deixou claro que ela não pode “cair na armadilha” de discursos políticos, de transformações a partir de seus próprios padrões morais, e não de Cristo, ou de explorar no púlpito experiências de fé em vez de se dedicar aos cuidados com o próximo. Segundo disse, mudar a igreja é tão importante quanto querer mudar o mundo.
“A igreja está retomando seus princípios porque percebeu que os extremismos, as ideologias e a política colidem com a missão primitiva de transformar comunidades. É o que diferencia a igreja cristã das atuais ONGs”, citou, ao falar na aula magna do Programa de Pós-graduação em Ciências da Religião sobre “A Igreja como Agente de Transformação e Mudança”.
Jerry Pillay é professor e coordenador da área de História e Política da Igreja na Universidade de Pretória. Segundo ele, o entendimento de cristãos modernos de que Deus-comunidade-igreja estão conectados em um círculo virtuoso vem de pesquisa que realizou com pastores, segundo os quais a salvação humana precisa incluir programas de desenvolvimento comunitário envolvendo pessoas com ou sem fé.
Confissão de Accra
Professor Pillay acredita que a revisão de postura tem origem sobretudo na Confissão de Accra (Aliança Mundial de Igrejas Reformadas) na 24ª Assembleia Geral realizada em 2004, quando os debates questionaram a destruição ecológica e o modelo econômico global considerado injusto e que nega o chamado de Deus à vida para todos. A partir de então, as ações teológicas passaram a abraçar temas como trabalho em comunidade, cruz e ressurreição como identificação de Jesus com os oprimidos e sua esperança, cuidar do mundo como um compromisso de serviço, o reino de Deus não só espiritual mas terrestre, justiça e transformação com foco nos pobres e dignidade humana, entre outros.
Jerry Pillay ocupou em 2010 a presidência do Conselho Mundial das Igrejas Reformadas e é intensamente envolvido na luta pela superação dos efeitos do apartheid na África do Sul de hoje. Sua defesa da volta à igreja primitiva e de trabalhar “com” os pobres baseia-se no pacto de Jesus à sua época de desafiar o sistema político e tomar o partido dos oprimidos, ensinando economia solidária, compartilhamento de amor e caridade, criando o senso de consciência cívica do cristianismo.
“Para ser cristão tem que ser parte do que acontece, e não estar dissociado da sociedade”, afirmou, discorrendo que desde Constantino à atual igreja secular, passando pela igreja medieval, pelos reformistas, iluminismo e ecumenismo, a igreja oscilou entre cuidar dos pobres mas sem transformar a sociedade ou então se afastar do paternalismo da caridade e aliar-se aos nobres e poderosos.
Esta matéria foi publicada no Jornal da Metodista.
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