Egresso da Pós-graduação em Ciências da Religião tem reconhecimento de universidades da Suíça
06/11/2019 18h15 - última modificação 11/11/2019 18h34
Da esquerda para direita: prof. Paulo Nogueira, prof. Tércio Siqueira, Silas Klein e prof. José Ademar. Projetado no telão, prof. Cristoph Uehlinger e profa. Kátia Pozzer
A Universidade de Zurique, Suíça, reconheceu recentemente a relevância da tese de doutorado de um egresso do Programa de Pós-graduação em Ciências da Religião da Metodista. O trabalho do pesquisador Silas Klein Cardoso, que investigou as práticas religiosas da região do “platô de Benjamim” no período do Ferro I-IIA (aproximadamente 1125-875 a.C.), foi tema de notícia no site do departamento de Ciências da Religião da instituição. Na verdade, ele obteve reconhecimento duplo no país, pois foi selecionado para a função de assistente pós-doutorando na Universidade de Berna.
Como explicado por Silas, a região objeto de sua pesquisa, na atualidade, faz parte dos estados modernos de Israel e Palestina. Na Antiguidade, o que chamou de tempos bíblicos, era a região fronteiriça entre os reinos de Israel (capital Samaria) e Judá (capital Jerusalém). “Essa época e local são importantes para a História da Religião e Estudos Bíblicos por serem o local e o tempo de provável origem do que hoje é chamado de ‘Antigo Israel’ ou ‘Israel Bíblico’”, esclareceu.
Ele pontuou as contribuições de seu trabalho. “Há duas novidades em minha tese. A primeira foi ser, até onde tenho ciência, a primeira exploração rigorosa sobre práticas religiosas dessa região e período a partir de múltiplas fontes (materiais, visuais e textuais). Embora haja muitos estudos da ‘História da Religião do Antigo Israel’, poucos lidaram com regiões restritas e um número ainda menor tentou utilizar múltiplas fontes, hierarquizando-as pelo seu potencial na produção de sentido histórico-religioso. Isso resultou num retrato inédito das práticas religiosas do platô de Benjamim”.
A segunda novidade, segundo Klein, foi elaborar um novo quadro teórico conceitual para estudar religiões nessa região e período, explorando as formas comunicativas próprias da localidade. "É uma perspectiva que intitulei ‘redes mágico-míticas’. Argumentei na tese que as razões para não conseguirem explorar a religião de regiões restritas da Palestina Antiga na literatura acadêmica são pressupostos contemporâneos impostos às fontes históricas do passado, como o próprio conceito de religião, este judaico-cristão ocidental”.
A tese, defendida no último dia 24 de setembro, foi desenvolvida em “doutorado sanduíche”, com orientação do professor José Ademar Kaefer, da Universidade Metodista de São Paulo, e co-orientação do professor Christoph Uehlinger, da Universidade de Zurique. A banca foi composta pela professora Katia Pozzer, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, professor Tércio Machado Siqueira, que atuou na Umesp até 2017, e pelo professor Paulo Nogueira, também da Umesp. Autor e trabalho receberam conceito “aprovado com louvor — Summa cum Laude”, o maior possível em um doutorado da universidade.
Trabalho em Berna (Suíça)
Aproveitando os últimos dias no Brasi enquanto se prepara para embarcar para Berna, onde permanecerá pelos próximos três anos, Silas trabalhará no projeto “Stamp seals from the Southern Levant: a multi-faceted prism for studying entangled histories in an interdisciplinary perspective” (Selos de estampar do Levante Sul: um prisma multi-facetado para estudar histórias entrelaçadas em perspectiva interdisciplinar). “Esse projeto será realizado em conjunto pelas universidades de Zurique, Berna e Tel Aviv (Israel), sendo financiado pela Fundação Nacional Suíça de Ciência”, explicou o pesquisador.
“De forma geral, o projeto tem como objetivo a catalogação, estudo e publicação de ‘selos de estampar’ do Levante Sul (isto é, Israel, Palestina e Jordânia) numa plataforma online, disponível para pesquisadores do mundo inteiro, além de estudos específicos que mostram a aplicabilidade dessas fontes em diversas áreas do conhecimento”, completou.
Ele ainda falou sobre sua incumbência no projeto. “Minha função específica será pesquisar a implicação desses pequenos objetos no contexto da ‘Exegese Iconográfica’. Isso significa que investigarei a relação entre iconografia do Antigo Oriente Próximo e os textos da Bíblia Hebraica, observando, na história da pesquisa, desenvolvimentos e eventuais hiatos no conhecimento, assim como propor novas abordagens. Minha atuação será nas ‘casas’ suíças do projeto, nas universidades de Berna e Zurique”.
A tese foi o começo para uma nova oportunidade. O trabalho requisitou pesquisas que iniciaram na Metodista, com continuidade por sete meses na Universidade de Zurique por meio de bolsa concedida pela CAPES. No meio de 2019, ele participou do processo seletivo na Universidade de Berna e foi aprovado, ainda antes da defesa da tese. Klein explicou que a posição de assistente pós-doutorando serve para conquistar a “Habilitation”, que no Brasil equivale a um segundo doutorado ou livre-docência. “Além desse fato, a chance de estudar sob dois dos maiores nomes dos estudos de Iconografia do Antigo Oriente Próximo e Bíblia Hebraica é um bônus”, disse.
A história de Silas Klein é particularmente entrelaçada com a Umesp. Fez duas graduações na universidade, Comunicação Social – Publicidade e Propaganda (2004-2007) e Teologia (2009-2013), além de mestrado (2013-2015) e doutorado (2015-2019) em Ciências da Religião, na linha de pesquisa Linguagens da Religião (Literatura e religião no mundo bíblico). "Com isso, o término de meu doutorado encerrou um período de praticamente 15 anos ininterruptos de estudos na instituição, pelos quais sou imensamente grato”, declarou.