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Diálogo entre Filosofia da Religião e Literatura foi tema de palestra no Seminário Litere

Evento marcou início das atividades de grupo de pesquisa

29/04/2019 15h00 - última modificação 30/04/2019 15h44

Grupo de pesquisas Litere terá como foco analisar a relação entre religião e teologia/literatura

O grupo de pesquisa Literatura, Teorias da Linguagem e Religião (Litere), vinculado ao Programa de Pós-graduação em Ciências da Religião da Universidade Metodista de São Paulo, iniciou suas atividades nos dias 24 e 25 de abril com a realização do Seminário Litere.

O convidado foi Antonio Carlos de Melo Magalhães, ex-coordenador do Programa e professor na área de Literatura e Interculturalidade na Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). No fechamento da programação, o docente ministrou a palestra "Por uma filosofia da religião em diálogo com a literatura", baseada no seu novo livro, que deverá ter o conteúdo finalizado no próximo mês de agosto.

A exposição foi dividida em quatro tópicos relacionados à filosofia da religião diante da interface literatura/teologia: distâncias, proximidades, problemas e um aceno a Jacques Derrida, filósofo franco-argelino conhecido pela Teoria da Desconstrução (de conceitos filosóficos).

Para Magalhães, os interessados no tema costumam ter uma relação de desconfiança com o excesso de certezas do discurso religioso, encontrando na literatura possíveis respostas para feridas abertas. "Eu ouço muitos gritos em torno da religião e respeito isso, mas na minha trajetória pessoal procuro ouvir os sussurros. Minha relação com a religião é de um afeto atingido, por isso vou à literatura assumindo um certo desamparo com essa ferida e em busca de possibilidades, mesmo quando há um excesso de ironias e paródias ou quando os autores desprezam a religião", revelou.

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Prof. Antonio Magalhães foi professor da Faculdade de Teologia e da Pós-graduação em Ciências da Religião da Metodista

Relação entre as áreas

O professor entende que diversos autores conhecidos por suas críticas ao universo religioso não o fazem necessariamente por desprezo ao sagrado, mas tentando vê-lo e ouvi-lo por meio das negações. "Poesia e filosofia nos ensinam a desconfiar", disse.

É importante destacar que as dúvidas geradas pela filosofia e pela literatura não possuem ligação com o ceticismo enquanto corrente filosófica. Além disso, embora na modernidade a dúvida tenha se tornado um método, historicamente as filosofias emergem da desconfiança.

Com a constatação de que ciência, religião e verdades intocáveis podem conduzir à barbáries, a filosofia e a poesia possuem o papel de trazer à tona a ausência daquilo que foi usurpado por processos de instrumentalização.

Sobre as dificuldades de conexão entre os temas, o professor entende que por não existir um conceito universal sobre religião, a princípio é difícil associá-la com a filosofia, que trata essencialmente de conceituações. Antigas escolas pressupunham o fenômeno religioso como a relação entre humanos e seres superiores, mas há crenças que dispensam esses seres, por exemplo.

Por fim, o palestrante compartilhou que entende a literatura como expansão da fala sobre o divino. "Hoje já não faço uma distinção entre o Deus dos textos bíblicos e Deus nos escombros narrativos de Saramago, Mia Couto e outros. Tudo é uma alusão e tentativa de nomear. Eu gosto de tomar distância desse pressuposto de que somente nos textos autorizados da religião nós encontramos a fala sobre Deus", concluiu.

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