Capitalismo como religião transformou cobiça em virtude, declara pesquisador
28/09/2018 18h25 - última modificação 01/10/2018 11h14
Corrida contra o tempo, cansaço e a eterna sensação de culpa. Para pesquisadores, esses são alguns dos efeitos do capitalismo como religião. Na sexta-feira 28 de setembro, docentes se reuniram na Universidade Metodista de São Paulo para discutir o tema em seminário promovido pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião.
Lauri Wirth, docente da Pós em Religião, foi um dos palestrantes e citou texto de Walter Benjamin para discutir como a religião do mundo é o capitalismo, tornando-se um culto cotidiano que é utilitarista e não tem pensamento ético.
Segundo Benjamin, o capitalismo tem três características: a primeira é sua relação imediata com o culto, além de não ter dogma específico, nem teologia. A segunda é sua duração permanente, “tudo se dilui, tudo é profano e sagrado ao mesmo tempo, não há uma divisão”. A terceira seria o caráter de culpa que o capitalismo impõe às pessoas, pois “é uma religião que não conhece o perdão e não conhece limites. Você sente que não deu conta de tudo. Somos uma civilização movida pelo sentimento de culpa”, apontou Wirth.
O docente citou ainda que, segundo um dos estudiosos do trabalho de Benjamin, existiria uma quarta característica do capitalismo: “É uma crença que não se nomina. Você tem uma divindade que não é explicitada e a consequência disso é que ele se apresenta como o único caminho. Somos contra o capitalismo, mas não temos uma saída. Houve uma inversão com esse modelo, a cobiça deixa de ser um pecado e passa a ser uma virtude”.
O professor Silvio Salej, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), foi o segundo palestrante do evento e apresentou a prévia de pesquisa em desenvolvimento em que busca compreender a relação entre crescimento da população protestante e crescimento econômico do Brasil. “A minha questão é: estariam as comunidades de culto funcionando como rede laboral?”.
Ele ainda fala sobre como, talvez, algumas igrejas fomentam o culto ao dinheiro, como a famosa teologia da prosperidade. “É possível que muitas dessas pessoas tenham sido beneficiadas por programas do governo e que o pastor trabalhava essa ideia da prosperidade como benção divina?”. Para buscar respostas, o docente pretende ir a seis grandes capitais e aplicar 600 questionários em igrejas protestantes.
Após as duas palestras, Wirth, Salej e os professores Allan da Silva Coelho, da Universidade Metodista de Piracicaba, e Jung Mo Sung, da Metodista, debateram com alunos da pós-graduação e do curso de Teologia.