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Apresentação

As deusas estão presentes nas sociedades humanas desde a pré-história, sendo a forma mais antiga de representação antropomórfica de seres divinos. Deusas de fertilidade como a, equivocadamente chamada, Venus de Hohen Fels, que data de entre 35.000 e 40.000 anos antes do tempo presente, são testemunhos preciosos deste tipo de devoção às grandes mães. Quando imagens de deuses senhores de panteões começaram a se estabelecer e a receber culto, no período histórico, da Índia ao fértil crescente, do Egito à Grécia, as deusas não deixaram de desempenhar um papel importante nessas tradições. E ainda que os deuses masculinos passassem a ter o poder, as deusas (como Kubaba, Cibele, Ártemis Efésia, Ísis, Astarte, Ishtar, Asherá, entre outras) tinham certa preferência na devoção popular.

Quando, por sua vez, o culto monoteísta se desenvolveu e dominou o cenário religioso de Israel no exílio e no pós-exílio, aspectos femininos de Deus foram incorporados por ele, como a tradição da criação como geração no útero materno ou a existência de aspectos femininos em sua Shekinah.

O Cristianismo, originalmente religião de devoção a um Deus e a seu messias, ambos masculinos, não pôde conter o poder dos arquétipos femininos de Deus e da devoção popular a mulheres poderosas, entre elas Maria. Já no terceiro século d.C. há uma profunda devoção a Maria e a um séquito imenso de santas. Na América Latina, colonizada por católicos Ibéricos, a devoção a Maria foi além do que podia prever o processo de dominação religiosa imposto aos nativos: eles também adotaram Maria e a inseriram em processos criativos imagéticos e narrativos, fazendo dela o centro da devoção de mulheres e homens, dentre os mais sofridos e oprimidos. Maria também foi colocada em intenso diálogo com divindades indígenas, e depois, africanas.

A XXI edição da Semana de Estudos de Religião, evento internacional de pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Metodista, inspirada pela memória dos 300 anos de Nossa Senhora Aparecida e de seu culto, promove uma semana de debate em torno da origem das devoções das deusas nas religiões, do papel de mulheres santificadas, de imagens femininas de Deus, de devoções marianas e das implicações desses processos para a construção de identidades de mulheres em suas lutas por direitos e reconhecimento. Para tanto, contaremos com uma comunidade de pesquisadores e pesquisadoras convidados para debater o tema por meio de suas múltiplas abordagens.

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