Pesquisadores do Póscom discutem comunicação, privacidade, notícias automatizadas e cibernética
06/06/2017 18h15 - última modificação 06/06/2017 18h36
As tecnologias mudam as formas de produzir e consumir comunicação. Cada vez mais pessoas acessam a internet para se atualizar e os meios mais tradicionais como TV, jornal impresso e rádio enfrentam crise por falta de público. A 10ª Conferência Brasileira de Comunicação e Tecnologias Digitais, realizada na Universidade Metodista de São Paulo, discutiu essa temática com a organização e realização do Grupo de Pesquisa em Tecnologias Digitais (COMTEC).
Notícias automatizadas
O jornalista tem a necessidade de produzir notícias cada vez mais rápido e os softwares de notícias automatizadas tomam espaço nas redações e agências que têm uma demanda cada vez maior de conteúdo. Krishima Carreira estudou em seu mestrado o aumento desse tipo de conteúdo e os impactos na vida do leitor e dos redatores.
“Hoje pelo menos 59 grandes agências de comunicação trabalham com automatização, em três continentes, mas esse número é apenas um ponto de partida porque as agências de notícia atendem um monte de gente que não temos como mapear”, declara. Algumas das consequências do uso desses softwares, de acordo com a pesquisadora, são a velocidade de produção de notícias, custos mais baixos, personalização para cada público e uma escala maior de assuntos cobertos. Por outro lado, muitas pessoas discutem que essa automatização pode acabar com o emprego de muitos profissionais.
“Alguns otimistas diriam que essa automatização tira as tarefas repetitivas do jornalista para que ele possa se dedicar à análise, contextualização e investigação”, diz. Os softwares, atualmente, não conseguem reproduzir outros gêneros jornalísticos, somente a notícia, por se tratar de um texto mais simples.
Krishima ainda comentou o preconceito das pessoas com os robôs, que é histórico: “temos, principalmente dentro da comunicação, uma visão da tecnologia como se fosse um bicho papão. Isso vem de Platão, são dois mil anos que temos esse medo, esse preconceito com a tecnologia. E por que temos isso? Porque temos o cinema, por exemplo, que trabalha com esse medo da tecnologia, do robô, como se fosse aquela coisa que vai roubar nossos empregos”, argumenta. Para ela, é necessário acabar com esse preconceito para enxergar as coisas como realmente são.
Privacidade em uma sociedade conectada
“A deep web tem problemas, mas facilita divulgação de informações em países com governos opressores e permite acesso a novas fontes para os jornalistas”, diz Bruno Antunes, doutorando do Póscom, que estuda como os casos Wikileaks e Edward Snowden impactaram a política, a comunicação e a privacidade na internet.
Durante a Primavera Árabe, muitas pessoas utilizaram a deep web para transmitir informações sem ter dados interceptados. Nessa web, os arquivos e caminhos dos usuários não podem ser indexados, o que permite que o usuário navegue sem deixar rastros, os dados não chegam à superfície. Esse caminho também foi usado por Snowden para entrar em contato com jornalistas e divulgar os dados que coletou do governo americano.
O conflito entre governos e empresas que querem rastrear os dados dos usuários e os cypherpunks, que defendem a criptografia de dados, vêm acontecendo desde os anos 90 e um dos mais famosos líderes desse movimento é Julian Assange, criador do site Wikileaks. O pesquisador cita também que o tempo inteiro nossas contas são vigiadas on-line e que existem computadores que pesquisam palavras-chave o tempo todo que podem colocar pessoas comuns na lista de investigados.
“Tem uma frase do Assange que diz o seguinte: ‘quando nos comunicamos por internet ou telefonia celular, que agora está imbuída na internet, nossas comunicações são interceptadas por organizações militares de inteligência. É como ter um tanque de guerra dentro do quarto. (...) Nesse sentido, a internet, que deveria ser um espaço civil, se transformou em um espaço militarizado’. Então ele faz essa referência à quantidade de vigilância que a gente tem o tempo inteiro”, destaca Antunes.
Modelos de Wiener e Shannon
Da área da tecnologia aos estudos da comunicação, Fabio Palamedi, doutorando do Póscom, compara e discute os modelos de Norbert Wiener e Claude Shannon sobre Cibernética e Teoria Matemática. “Elas usam o ponto de partida na tecnologia, os cibernéticos vão olhar a questão da máquina ganhando espaço na sociedade humana, depois começam a falar 'como a gente pode aumentar o cérebro pela máquina?'”, explica.
O pesquisador argumenta que a tecnologia é que vai motivar as duas teorias a se desenvolverem. “Mas o que a gente entende de tecnologia de fato? A gente dá uma importância para as palavras, mas não as entendemos. Temos discussões diferentes sobre tecnologia e técnica, tecnologia como conceito e como estrutura, como estrutura mais lógica”, completa. Ele considera que a tecnologia é um elemento humano.
Com suas pesquisas e comparação entre as duas teorias, Palamedi chegou à conclusão de que "as teorias trazem um viés característico. Então, se você quer entender como o algoritmo do Facebook entrega as atualizações, então você usa a Teoria Matemática para entender sistemicamente. Agora, se você quer explicar o fenômeno que acontece com as pessoas, a Cibernética é mais indicada", finaliza.