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Fragmentação das mídias digitais dilui espírito combativo do jornalismo, diz professor Wilson Bueno

Veterano da profissão, o docente da Pós-Graduação em Comunicação Social presidiu sua 100ª banca de mestrado/doutorado na Metodista

30/03/2016 19h45 - última modificação 30/03/2016 20h08

Professor recebeu certificado em homenagem à banca de número 100

Formado em 1971, o jornalista Wilson Bueno testemunha como poucos colegas na ativa a transformação das publicações então predominantemente impressas para a profusão de plataformas digitais. Se isso tem o bônus do acesso rápido e universal às informações, traz também como ônus a fragmentação das plataformas e dos locais de trabalho dos profissionais, tornando-os mais burocráticos, “frouxos” até.

Com 34 anos de atuação na Universidade Metodista de São Paulo, professor Wilson Bueno perdeu a conta dos alunos que formou em Comunicação Social, mas não dos que orientou em dissertações de mestrado e teses de doutorado no programa de Pós-Graduação: dia 29 de março último presidiu sua 100ª banca na instituição, da doutoranda Karla Caldas Ehrenberg, cuja tese versou sobre “Bola na Rede: Uma análise das Estratégias Comunicacionais de Empresas Esportivas no Ambiente Digital Conectado”.

“Missão cumprida. Eu havia me colocado a meta de 100 bancas”, diz satisfeito esse palmeirense devoto, amante do futebol, que possui coleção com 800 camisas de times nacionais e internacionais. Se juntar a época de Universidade de São Paulo, onde formou-se, doutorou-se e se aposentou, a conta de bancas presididas vai para 120. E se forem acrescentadas as bancadas das quais participou, o número sobe para mais de 300.

Após a apresentação de Karla, professor Wilson Bueno confraternizou com a equipe do Póscom e recebeu homenagem do diretor da Escola de Comunicação, Educação e Humanidades, Nicanor Lopes, na forma de um certificado comemorativo.

Além de mestrado e doutorado em Comunicação, professor Wilson tem especialização em Comunicação Rural. As áreas principais de atuação são Comunicação Empresarial e Jornalismo Especializado (Jornalismo Científico, Ambiental, em Saúde e em Agribusiness). É editor de oito sites temáticos em Comunicação/Jornalismo e líder do grupo de pesquisa Criticom-Comunicação Empresarial no Brasil: Uma Leitura Crítica. Tem vários livros publicados e dezenas de capítulos em livros da área. É também diretor da Comtexto Comunicação e Pesquisa e da Mojoara Editorial. Na Metodista, responde no Póscom pela linha de pesquisa em Comunicação Institucional e Mercadológica, onde atua com projetos ligados à comunicação empresarial.

Veja abaixo a entrevista que professor Wilson concedeu ao portal da Metodista e as fotos do evento.

É possível descrever a sensação de presidir a 100ª banca?
R - Sensação de um trabalho realizado com regularidade, esse fluxo de orientandos, essa alegria de ter convivido com tanta gente boa que hoje está esparramada por aí, com vários colegas que trabalham em programas de pós, são gestores de empresa, são até colegas aqui da Metodista, acho que essa rede de relacionamentos, essa troca de aprendizados foi grande. E demora para chegar, né?! São 34 anos na Metodista e a 100ª tese aqui, onde optei por ficar porque já tinha vínculo de longa data, o programa é mais enxuto e tinha uma relação muito próxima com o professor José Marcos de Mello, que me trouxe para cá e a quem devo bastante. Ao mesmo tempo, pensava no futuro também. Na área pública a gente acaba saindo mesmo, e acabei me aposentando na USP. Então, é uma sensação de dever cumprido. Tinha me colocado a meta de presidir a 100ª banca.

Alguma banca ou tema marcou mais?
R - Seria injusto apontar um, porque são temas tão diversos, em áreas que gosto e trabalho no Jornalismo Científico. O tema da 100ª, com foco esportivo, é incomum porque não são tantos os colegas que orientam e apreciam esporte. Eu orientei alguns porque gosto muito de futebol. Tenho 800 camisas de times. Todas as teses foram importantes e me marcaram, por isso quero reverenciar todos os colegas que estiveram comigo nesse tempo todo. Fico triste porque alguns não sei onde estão. Não os vejo no Google nem no Facebook, então não sei o que andam fazendo.

Como vê a mudança do jornalismo predominantemente impresso para o boom das mídias digitais e a proliferação das informações nas redes sociais?
R - Duas coisas importantes mudaram: primeiro, a força do jornalismo enquanto atividade profissional e, segundo, o compromisso maior com uma série de coisas. Hoje o jornalismo está um pouco diluído, com mais profissionais fora da redação do que dentro. Não tenho nenhum preconceito contra isso, porque trabalho com comunicação organizacional. Mas se perdeu um pouco daquele frissom de redação. O jornalismo ficou um pouco mais burocrático, mais frouxo. Sou daqueles que acham que a gente tem que estar sempre brigando, questionando, que não pode afrouxar, não pode levantar a bola para as pessoas falarem o que querem. Esse compromisso se diluiu um pouco.

Dilui-se pela formação do jornalista ou pela tecnologia que pulveriza a informação em várias plataformas?
As coisas se somaram, mas acho que a formação do jornalista deixou de ter aquele espírito combativo, que ficou só em alguns nichos. Como um todo, vejo a profissão um pouco desmobilizada, às vezes até conivente com uma série de fatos. E a fragmentação das mídias digitais contribui para isso, embora ache que foi o ânimo do jornalista que mudou, porque a função ficou burocrática. Era muito mais idealizada, combativa e comprometida do que hoje. Éramos mais unidos. Hoje estamos mais pulverizados em empresas, assessorias, redações menores, e as exigências são diferentes. Talvez meu saudosismo beire um certo radicalismo do jornalista, que era mais denuncista, polêmico. Não que não exista, mas atenuou.

Se não fosse jornalista, qual profissão seguiria?
R - Teria sido professor.

Mais professor do que já é?
R - Fiz matemática antes do jornalismo. Talvez tivesse sido professor de matemática.

Humanas e Exatas combinam assim?
R - Na minha época não havia muitas opções: era advogado, médico ou engenheiro. Gostava muito de ciências exatas, ciências para ser mais exato, e essa relação se estabeleceu porque minha formação acadêmica e meu trabalho de pesquisa sempre foi de jornalismo e divulgação científica.
 

Esta matéria foi publicada no Jornal da Metodista.
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