Existência humana perde sentido sem educação, defende professor Antônio Severino
18/02/2016 16h13
Especialista em filosofia da educação diz que é o professor quem humaniza o processo educacional (Fotos Malu Marcoccia)
O homem avança em relação aos demais seres vivos pelo esforço de se manter, reproduzir e prolongar a existência com base em experiências subjetivas, que dão forma à sua convivência social e consciência cultural – esta última entendida como a memória que traça a história. Isso não é um processo espontâneo nem mecânico, não é mera seleção natural da sobrevivência dos mais aptos estabelecida pela Teoria da Evolução. Trata-se da intervenção humana na natureza que marca a dinâmica do nascer, crescer e nos transformarmos biológica e socialmente.
“O sentido da educação se encontra exatamente no cuidado da vida humana”, afirma o professor especialista em filosofia da educação Antônio Joaquim Severino, que refletiu sobre o questionamento do papel da escola e do professor nos dias atuais, durante aula magna das Licenciaturas da Universidade Metodista na noite de 17 de fevereiro.
Com o tema “Da razão de ser da função docente num mundo em transformação”, professor Severino defendeu a educação “olho no olho, mente na mente”, sublinhando que a desvalorização do magistério causa prejuízo cultural e civilizatório incalculável. Segundo ele, contribui para que a própria existência humana perca sentido quem acha desnecessária a educação institucionalizada, cuja principal função é seu projeto humanizador. Atualmente têm surgido movimentos segundo os quais todo conhecimento pode ser obtido na internet.
“A educação é uma mediação para implementar o projeto humano, que não encontra nada parecido em outras espécies vivas. E o professor é outro mediador imprescindível, porque é ele que humaniza esse processo. Não basta passar habilidades técnicas, mas formar cidadãos humanizados. Nossas ferramentas são os conceitos e os valores, muito mais importantes do que qualquer outro conteúdo”, discorreu, dizendo-se crítico do uso da tecnologia na educação quando transformada em ferramenta central, quando os recursos multimídia deveriam ser apenas suporte.
Trem em movimento
Sempre recorrendo à antropologia, ou seja, à evolução material, cultural e filosófica do homem para justificar o caráter indispensável da educação, o palestrante lembrou que em vários momentos da história escola e professores foram contestados. Citou entre os exemplos o Marques de Sade, aristocrata francês no período da queda da monarquia no século 18 e escritor considerado libertino devido às obras e ideias contra a moral pregada pela religião e sistema político.
Mais recentemente, no início do século 20, com o advento da escola nova, as críticas se concentraram ao modelo de ensino e não à educação em si. Isso porque o modelo escolástico baseado nos jesuítas e na teologia cristã desconsiderava, segundo críticos da época, a realidade humana. Foi no final do século 21, com o crescimento dos recursos tecnológicos, que surgiram ressalvas sobre a intervenção pedagógica no restrito ambiente da escola. Segundo essas correntes, a escola teria deixado de ser o ponto de irradiação de informações e conhecimentos, encontrados em qualquer ferramenta de busca na internet.
“O sentido é a tarefa do educador. Seu papel é o compartilhamento desses sentidos, é fazer a impregnação cultural de todos os indivíduos. É como um trem em movimento: a educação possibilita que cada nova geração suba nesse trem e seja participante da história”, falou professor Severino em metáforas. Segundo ele, não há razão para descartar a escola, mas sim para melhor qualificá-la. “Só agora, 500 anos depois, o Brasil elabora um Plano Nacional de Educação”, lamentou.
A aula magna reuniu alunos ingressantes e veteranos das licenciaturas presenciais e EAD de Ciências Biológicas, Filosofia, Matemática e Pedagogia. Após a palestra, transmitida ao vivo para todos os polos a distância, houve momento de interação com perguntas de alunos. Antônio Joaquim Severino é aposentado como professor de Filosofia da Educação na Faculdade de Educação da USP, na categoria de Professor Titular. Licenciou-se em Filosofia na Universidade Católica de Louvain, Bélgica, em 1964. Atualmente trabalha junto ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Nove de Julho, em São Paulo.

Esta matéria foi publicada no Jornal da Metodista.
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