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Professor Luiz Roberto teme que se perca a construção coletiva do Plano Nacional de Educação

Mudança de governo em 2016 paralisou andamento das metas e estratégias para a década 2014-2024

24/02/2017 15h58

Com 50 anos dedicados à educação, professor diz que só nos últimos 20 anos há participação de áreas envolvidas

Mesmo ainda fragmentada e desarticulada, a educação brasileira carrega o mérito de nos últimos 20 anos ser um projeto de construção a várias mãos: educadores privados e públicos, governos das três instâncias e sociedade por meio de suas associações e instituições estão representados no Sistema Nacional de Educação (SNE) e Plano Nacional de Educação (PNE) que estruturam a educação na década 2014-2024.

“São novos atores e novas linguagens que pensam coletivamente como formar pessoas, esses seres tão complexos. E a Constituição de 1988 obriga a formar não só a pessoa, mas um cidadão e um ser ativo para o mundo do trabalho”, acentuou o professor Luiz Roberto Alves, docente do Programa de Pós-graduação em Administração da Universidade Metodista de São Paulo e membro até 2016 da Câmara de Educação Básica do CNE (Conselho Nacional de Educação).

Professor Luiz Roberto conduziu a aula magna das Licenciaturas Metodista na noite de 23 de fevereiro último e convidou os futuros mestres de Matemática, Biologia, Pedagogia e Filosofia a ter paixão pela profissão. “Educar é um ato de amor, não é só ensinar”, descreveu, apontando dois desafios nessa empreitada: superar a crônica descontinuidade das políticas públicas no Brasil e envolver a família nas escolas, algo que vem se reduzindo.

Discorrendo sobre “Projetos Coletivos da Escola Brasileira”, professor Luiz Roberto Alves falou sobre as 20 metas e mais de 200 estratégias que enfeixam o PNE 2014-2024 e lamentou que a mudança de governo federal em 2016 tenha paralisado ações previstas no SNE (Sistema Nacional de Educação), que deveria estar em fase de conclusão. Uma das propostas é que em 2018/2019 um professor da rede pública de ensino ganhe o equivalente a um engenheiro ou médico concursado, ou seja, em torno de R$ 6 mil, e que sejam destinados à educação 20% do PIB em 2020, contra 5% em 2014.

“O SNE é algo que o Brasil nunca teve, pois prevê toda a dinâmica da educação, as obrigações de municípios, Estados e União, investimentos de cada área, acesso universal, fim do analfabetismo e piso nacional dos professores. Temos que avançar e todos podem participar do SNE, senão estimulamos governos e escolas privadas a fazerem o que bem entendam. E o vale-tudo na educação significa sua comercialização”, enfatizou o professor da Metodista e ex-membro do Conselho Nacional de Educação, que soma 50 anos dedicados à educação, 20 dos quais no sistema público.

Ele fez um histórico da educação desde 1996, quando foi criada a LDB (Lei de Diretrizes e Bases) para todas as licenciaturas, contrapondo-se às diretrizes dos anos 1960 da ditadura militar. O professor valoriza na atual LDB a fixação de projetos e disciplinas para educação de vários públicos, como indígenas, nômades, populações ribeirinhas, quilombolas e pessoas com deficiência. “São grupos muito fortes, alguns dos quais com Estatuto próprio”, citou.

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Aula magna das licenciaturas abordou projetos coletivos da escola brasileira
Papel crítico

À exceção do período integral, a reforma do Ensino Médio foi contestada pelo docente devido à maneira como foi realizada: “Não conversaram com a moçada (alunos) e deixaram a critério dos Estados escolher a modalidade de ensino, se acadêmico ou profissionalizante, e eles vão optar pelo que gastar menos. Com esse direito de escolhas, universidades e cursos fecharão”, advertiu.

Sobre o papel da universidade na educação, ele entende que deve não apenas produzir e socializar conhecimento, mas fazer a crítica da sociedade. “A universidade nasceu há 800 anos para se opor ao poder dos soberanos, simbolizados pelos castelos, e à igreja com seus cânones e sistemas de obediência. Temos que ter uma reflexão crítica sobre essas instâncias”, falou.

Citando que há hoje no Brasil 2.391 IES (Instituições de Ensino Superior) entre públicas e privadas, Luiz Roberto Alves criticou universidades com alunos na casa do milhão, porque se perdem na grandeza estrutural e afastam-se dos estudantes e de projetos que devem ser desenvolvidos junto à comunidade. Para ele, essa aproximação escola-aluno-extensão é possível em instituições com no máximo 25 mil estudantes.

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