Para professoras, humanização é a única maneira de combater a intolerância em sala de aula
01/08/2016 09h45 - última modificação 01/08/2016 10h01
Professoras Magali Cunha (à esquerda) e Roseli Fischmann (à direita) debatem intolerância durante Assembleia Docente
A Assembleia Docente do 2° Semestre de 2016, realizada na sexta-feira (29), levantou uma importante reflexão sobre a intolerância que enfrentamos atualmente. Presente na mídia, no local de trabalho, na educação e em todas esferas da sociedade, ela pode ter cunho religioso, racial, sexual e político.
As palestrantes, e docentes da Universidade Metodista de São Paulo, Roseli Fischmann, coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Educação, e Magali do Nascimento Cunha, docente do Programa de Comunicação, realizaram um bate-papo com os professores da Universidade a respeito do tema e do papel dos educadores como agentes transformadores.
“(In)tolerância e educação: dilemas e possibilidades”, foi o título dado à palestra. Segundo Roseli, esse nome foi escolhido para que fosse abordado o tema da intolerância, sem esquecer seu contraponto, a tolerância.
O que é intolerância?
Magali iniciou sua participação com a leitura de um texto de sua autoria. De maneira resumida, ela define que “em geral, a intolerância é resultado da falta de capacidade ou da falta de vontade de reconhecer e aceitar as diferenças” e afirmou que todos nós podemos ser intolerantes. O contrário seria, então, a “capacidade de manter positivamente a coexistência, que é difícil e tensa, por conta das complexidades da vida” e relembrou que é preciso agir coletivamente para gerar tolerância.
As palestrantes deram diversos exemplos de figuras como comediantes, artistas e líderes religiosos que influenciam e reforçam ideias e comportamentos intolerantes na mídia e nas redes sociais, muitos deles racistas, machistas e homofóbicos.
“Precisamos lembrar que o preconceito é uma disposição psicológica, medo daquilo que é diferente, do que pode ser uma ameaça. Mas existem aspectos sociais, culturais e políticos que podem fazer com que essa disposição seja aumentada ou diminuída”, explicou Roseli.
“O preconceito por mais que seja trabalhado, muitas vezes permanece na pessoa. Mas precisamos impedir que isso seja exteriorizado. Não posso permitir que essa pessoa discrimine, exclua outras. O grande problema são essas atitudes desumanizadoras”, completou.
Tolerância em sala de aula
Mas como, então, gerar tolerância dentro da sala de aula? Para as duas professoras, a única maneira de estimular os alunos a se tornarem pessoas mais tolerantes é por meio da humanização. “Temos que humanizar as nossas relações, humanizar nossos conteúdos, o nosso cotidiano e humanizar as nossas redes”, disse Magali.
“Para trabalhar essa humanização e superar esse preconceito, precisamos conhecer nossos alunos. Compreender suas experiências e não as menosprezar. Precisamos nos autodisciplinar para sermos humanos e não deixarmos aflorar os nossos preconceitos. Essa humanização passa por esses relacionamentos e em oferecer oportunidades de conhecer outras pessoas”, expôs.
Para Roseli, esse é um processo com algumas etapas: “primeiro preciso entender que aquela pessoa tem direito de ser como é. Depois, tenho que pensar em respeito e solidariedade. E o auge disso tudo é a compaixão, é sentir junto. É lutar pela dignidade dessa pessoa, como se estivesse lutando por mim”.
Abertura
Mas a Assembleia docente não começou nesse debate. Antes disso, a Reverenda Gladys Barbosa Gama, pastora titular da Pastoral Universitária, ressaltou a importância de iniciar mais um semestre sabendo que Deus “pode socorrer a todos nós em momentos de aflição”. E comentou que, como Jesus disse que somos o sal da terra, devemos agir como bases de força dentro da Universidade e oferecer nosso melhor.
Em seguida, o Grupo de Teatro Sintonia, organizado pelo Núcleo de Arte e Cultura realizou uma apresentação teatral da música “A Porta”, de Vinicius de Moraes. Cláudia Cezar da Silva, coordenadora do núcleo, apresentou o grupo que é formado por funcionários do setor de Produtos Artesanais da Metodista, criado em 2010 com o objetivo de capacitar e integrar pessoas com diversos níveis de deficiência cognitiva no mercado de trabalho.
“Para chegar até o palco e fazer a apresentação é um longo processo de muitos ensaios e preparações. É esse processo de construção que nos importa, que lida com sensibilidade, ajuda mútua e superação”, disse Cláudia.
Para apresentar as palestrantes, o reitor da Metodista, Márcio de Moraes, chamou ao palco o professor Nicanor Lopes, diretor da Escola de Comunicação, Educação e Humanidades. O diretor deu às boas-vindas a todos os professores com um trecho da Canção da Caminhada, de Simei Monteiro, que diz: "Se caminhar é preciso, caminharemos unidos, e nossos pés, nossos braços, sustentarão nossos passos”.
Lopes continuou sua fala dizendo que “a mídia tem nos mostrado que a intolerância se tornou presente em todos os espaços da sociedade. Nesse tempo de intolerância, enquanto pessoas nesse caminho solidário, queremos reafirmar a tolerância”.