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Quilombolas recebem capacitação na Metodista para estabelecer cooperativa

Cooperquilombo é resultado de projeto de extensão universitária a visa dar condições para que comunidades possam comercializar sua produção de forma sustentável

11/05/2015 15h00 - última modificação 11/05/2015 15h03

Professor Marcio de Moraes durante recepção aos quilombolas de Barra do Turvo. Foto: Divulgação

Entre os dias 04 e 08 de maio, um grupo de 12 pessoas de comunidades quilombolas de Barra do Turvo, no Vale do Ribeira, esteve na Universidade Metodista de São Paulo para uma semana de capacitação: foram aulas de empreendedorismo, dinâmica e relacionamento interpessoal, processos administrativos, contabilidade, informática, comunicação, legislação, formação cidadã e economia solidária, além da participação em aulas e no X Encontro de Movimentos Populares e Cidadania. Tudo isso teve um objetivo: colocar em prática a Cooperquilombo, cooperativa que comercializará os produtos destas comunidades quilombolas. Mas o caminho até essa semana de capacitação foi maior do que o que separa Barra do Turvo de São Bernardo do Campo.

Quem conta como tudo começou é o professor da Faculdade de Exatas e Tecnologia (FACET) Cláudio Torres, que também integra a Cátedra Gestão de Cidades e o Centro de Sustentabilidade e coordena o projeto de extensão universitária “Cooperquilombo: solidariedade social e econômica”. Como tantos brasileiros, o pai de Cláudio veio para São Paulo do Piauí na década de 70. Criado na periferia de Diadema, depois de adulto Cláudio resolveu conhecer suas raízes e fez algumas visitas ao sertão nordestino. “O choque cultural, social, econômico é absurdo. Conhecer essa realidade me fez encarar a vida de forma diferente”. O professor percebeu que teve muita sorte, pois teve oportunidades em São Paulo que não existem no sertão nordestino. “Sentia necessidade de alguma forma de retribuir essa oportunidade”, explica. Em 2007, Cláudio fez uma viagem pelo Nordeste, onde conheceu o movimento quilombola do Piauí. Já em 2010, participou do Projeto Rondon, a convite do diretor da FACET, professor Carlos Santi. Pouco depois, por conta da Olimpíada de Matemática, conheceu a comunidade quilombola de Barra do Turvo, para onde tinha ido levar as provas da Olimpíada. Lá conheceu Nilce de Pontes Pereira dos Santos, líder da comunidade dos bairros de Ribeirão Grande e Terra Seca e começou a visitar a comunidade mensalmente. “Em determinado momento outros professores começaram a se envolver. Muita gente colaborou, então queria evitar nomes, para não esquecer de ninguém”. A primeira demanda da comunidade foi a cooperativa, então algumas dinâmicas começaram a ser realizadas, até o momento de trazê-los para a universidade.

Marco Aurélio Bernardes, docente das faculdades de Administração e Economia e Gestão e Serviços da Metodista, que coordenou a semana de capacitação, começou a visitar a comunidade no final de 2012. “Tudo veio a calhar, porque eles têm a posse de uma extensão de terra muito grande no Vale do Ribeira, eles precisavam dar a essa posse um caráter produtivo e sustentável. Uma série de processos vem sendo conduzidos aqui com a participação de outros professores no sentido de como conduzir um conjunto de formações para que eles consigam ter um modelo, um modo de gestão dessa cooperativa. Então nós estamos co-criando um formato de gestão que seja facilmente compreendido por eles. Um marco agora muito claro dessa ação, pelo projeto é essa semana de formação. Além disso, a questão da posse de terra, que foi conduzida com muita habilidade pelo professor José Celso [Martins, da Faculdade de Humanidades e Direito], então já tem até projeto PIBIC com alunos de Direito que vão trabalhar a questão da posse da terra ligados ao projeto”. O professor conta que, além da comercialização dos produtos, existe a preocupação de manter os jovens na comunidade. “A grande contribuição é que nasce de uma preocupação dos mais velhos na comunidade com o êxodo. As crianças, os adolescentes, estão indo para Curitiba, para São Paulo, não estudam, não trabalham, não ganham bem e não retornam para lá. E a comunidade está envelhecendo, perdendo muitos jovens para uma vida de qualidade ruim nas grandes capitais”. Além dos professores, alguns alunos estão envolvidos com o projeto. “Foram abertas algumas participações por iniciação científica para alunos do Direito. Esse tema Contratos e Posse da Terra é um tema muito importante. São pessoas que são muito vulneráveis a leituras de contratos com letrinhas muito pequenas então essa orientação para alunos do Direito é uma coisa especial”. Além disso, Eduardo Oguihara, aluno da FACET, está desenvolvendo um Portal para eles para divulgação dos produtos e contando um pouco da história da comunidade.

Nilce de Pontes Pereira dos Santos, “nascida e criada em Barra do Turvo”, é presidente da Associação Quilombola de Ribeirão Grande e Terra Seca, composta por 77 famílias. “A nossa luta sempre foi pela sobrevivência e acesso a terra”, conta ela. Em 1969 foi criado o Parque Estadual de Jacupiranga, abrangendo a área em que as comunidades quilombolas já estavam instaladas, e o local teria de ser desapropriado, o que foi questionado pela comunidade. Já em 1996, houve a chegada de diversos fazendeiros que desmataram muitas terras para a formação de pasto. “Todo o nosso território foi virando pasto, aí o que sobrou da comunidade, a gente ficou reduzido. A gente não conseguia tirar o nosso sustento e se manter na comunidade. Aí a necessidade de cobrar do estado uma posição. ‘Peraí, a nós precisamos de terra para se desenvolver, precisa de terra para trabalhar, para se alimentar, para manutenção da família, porque todo território ou era de fazendeiro ou é do próprio estado mesmo”.

Nilce ressalta a importância da Cooperquilombo para a comunidade: “Os nossos jovens para irem para a cidade precisam de uma formação, de um estudo para poder sobreviver na cidade né e isso acaba não tendo no município, aí eles acabam saindo para poder estudar e para garantir uma renda melhor. Com a cooperativa eles vão poder permanecer no campo, poder se desenvolver financeiramente e ao mesmo tempo conseguir fazer essa formação, estudar, se qualificar para futuramente se eles quiserem sair eles vão sair, mas preparados”.

A líder aponta os atuais desafios para os quilombolas: a PEC 215, que transfere do governo federal para o Congresso a última palavra sobre a oficialização de Terras Indígenas (TIs), Unidades de Conservação (UCs) e Territórios Quilombolas, que está em tramitação no Congresso e a Ação Direta de Inconstitucionalidade 3239, que questiona o Decreto 4887/2003, que trata da delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas por remanescentes das comunidades quilombolas, em julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF). Para finalizar a semana, Nilce fez uma palestra sobre a história de luta dos quilombolas do Vale do Ribeira a alunos de diversos cursos da Metodista, dentro da programação do X Encontro de Movimentos Populares e Cidadania. Veja abaixo uma entrevista com Nilce, em que ela aborda a situação atual das comunidades quilombolas e a parceria com a Metodista:
 

Esta matéria foi publicada no Jornal da Metodista.
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