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Manifestação tecnológica

03/09/2013

03/09/2013 19h34

Organizado pelo Facebook, protesto levou centenas de jovens para a Avenida Goiás, em São Caetano do Sul, no ABC. Foto: Gabriela Brito

A FACILIDADE DE ACESSO E DIVULGAÇÃO DE INFORMAÇÕES TRAZ UM NOVO CARÁTER AOS PROTESTOS SOCIAIS E ROMPE COM A HEGEMONIA DA IMPRENSA TRADICIONAL


Desde o mês de junho, o Brasil tem passado por situações que há muito tempo não eram vistas. As manifestações populares criaram força e ainda têm deixado suas marcas. O que começou com o apoio do Movimento Passe Livre para a diminuição da tarifa do transporte público, levou milhares de jovens às ruas para lutar pelo que achavam justo e mostrou que a indignação do povo tem de fato poder.

O famoso “não são só 0,20 centavos” ganhou força e, mesmo após a redução das tarifas, jovens das mais diferentes classes sociais continuaram indo às ruas, lutando por educação, saúde, extinção da corrupção, entre outros.

Mídias sociais x Imprensa tradicional

Um fator determinante para a dimensão que os protestos tomaram foi o uso das mídias e redes sociais para convocar os manifestantes. Com a facilidade de acesso e a possibilidade de registrar cada momento, mesmo quem não foi às ruas conseguia acompanhar em tempo real tudo que estava acontecendo.

“A internet e essa mudança radical das tecnologias, a possibilidade de cada um pegar seu celular e filmar, fotografar e ter a plataforma da internet como meio de divulgação romperam com o papel da mídia como única fonte de informação”, revela a coordenadora do curso de Ciências Sociais da Metodista, professora Luci Praun, que participou de um dos protestos na Avenida Paulista, em São Paulo (assista ao vídeo com a entrevista completa da professora Luci).

Já o egresso do mestrado em Comunicação Social, Bruno Demartini Antunes acredita que a mídia tradicional ainda tem muita força. “O monopólio da comunicação ainda existe. O poder que a mídia de massa possui continua influente, porém começa a ser questionado como vimos nas manifestações que aconteceram aqui no Brasil que criticavam a atuação da mídia, com repressão forte a jornalistas em alguns casos. As mídias digitais e as redes sociais apontam que existe a possibilidade de quebrar o monopólio da mídia, mas também haverá a tentativa de não acontecer esta ruptura por parte das corporações da comunicação.”

Bruno já havia pesquisado sobre o tema quando produziu um artigo científico com o tema “Primavera Árabe e o levante de Londres através da teoria ANT: os estudos culturais dentro de uma cultura tecnológica”, apresentado no Congresso Científico da Metodista.

“Acredito que os dois movimentos mostraram como as mídias digitais estão moldando a sociedade moderna.”

O egresso explica que, no caso da Primavera Árabe, as manifestações foram retratadas como movimentos libertários, com o objetivo de derrubar ditadores. Já no levante londrino, que teve início com a acusação da morte de um jovem negro pela polícia local, foi destaque o vandalismo causado por revoltosos e ficaram de lado as tensões sociais típicas das nações capitalistas, como a desigualdade social.

“Isso demonstra que a pauta da grande mídia pouco mudou. Por um lado a cobertura dos heróis revolucionários e da democracia, por outro o descrédito de um movimento aparentemente sem foco central, como foi o caso de Londres, muito parecido com o que vem ocorrendo no Brasil”, cita Bruno, que ressalta que, no caso do Egito, houve tentativa de bloqueio da internet no país por parte do governo e então organizações como o Wikileaks e o Anonymous surgiram para ajudar a colocar na rede textos e vídeos sobre o que estava acontecendo.

Bruno conclui que tanto nos dois movimentos estudados por ele quanto nos protestos brasileiros existe uma pauta em comum: a insatisfação com a prática política. “Movimentos que, em sua maioria, não foram organizados por partidos ou grupos formais, mas por cidadãos insatisfeitos, mostram como a introdução massiva de novas tecnologias muda o comportamento e a atuação social.”

Informação a todo tempo

Segundo Bruno, assim como as gerações anteriores tornaram a televisão como parte integrante de suas rotinas, o mesmo acontece com os dispositivos digitais atualmente.

“Essas manifestações que parecem meio caóticas, sem foco, com muitas reivindicações, é como essa geração vive e está acostumada a lidar com este cenário informacional cada vez mais rápido e abundante. O que acontece é que as grandes corporações da mídia ainda estão tendo dificuldade em se adaptar a esta realidade de jovens que consomem, geram informação e ainda interagem com ela. A comunicação está se transformando, mas no que resultará, não tem como saber ainda”, conclui.

Para a professora Luci Praun, “a gente vive um momento importante, de
uma contradição muito grande. Por um lado o intenso controle das pessoas e por outro lado as brechas que os movimentos sociais vêm usando o tempo todo para fazer sua denuncia, para criar um foco de contra hegemonia da comunicação. É um momento rico que a gente vive, sem dúvidas”, completa.

 

Paula Lima
paula.come@metodista.br

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