Há 20 anos ensinando muito mais do que esporte
08/05/2013 12h05
Aula em uma das unidades em que ocorre o projeto, no bairro Alves Dias, em São Bernardo do Campo. Foto: Mônica Rodrigues
Com alunos entre 8 e 17 anos, objetivo principal da Escola de Esportes não é a formação de atletas
“Em 97, quando iniciamos o projeto em Mauá, a maioria das crianças, entre
12 e 16 anos, estava na criminalidade. Ao final daquele ano, esse número reduziu pela metade. No final de 98, esse número caiu mais e nós conseguimos quase zerar as crianças envolvidas com a criminalidade. O que é gratificante hoje é passar no shopping, passar em universidades e ver que aquelas crianças, que não tinham perspectiva de vida nenhuma, não viraram
atletas, mas viraram cidadãos. Estão inseridos na sociedade, estão trabalhando, são pais e mães de família. Hoje ligam, encontram com a gente e agradecem pela opor tunidade que receberam. Isso realmente não tem preço.”
A Escola de Esportes da Metodista completa 20 anos em 2013 e o trabalho feito ao longo desse tempo pode ser resumido pela história acima, contada pelo professor Viomário Silva, mais conhecido como Hula. Atualmente, cerca de 800 crianças participam das aulas de handebol e de basquete, sendo que por volta de 18 mil já passaram pelo projeto.
“O foco é que as crianças tenham uma formação cidadã; que tenham a noção e a percepção de que têm direitos e deveres, o respeito mútuo e todos os demais valores que são intrínsecos ao esporte, tais como os limites do colega, a percepção dos seus próprios limites e o respeito às regras”, afirma o coordenador pedagógico da Escola, professor Rogério Toto.
Para Alberto Rigolo, gerente de Esportes da Metodista e idealizador do projeto, “o resultado desse trabalho é muito gratificante. Afastar uma criança, um adolescente do convívio do risco social, das drogas, da marginalidade vale mais do que todos esses troféus”.
Aprendizado e alto rendimento
Bárbara Meneses, 14, faz parte de uma das categorias de alto rendimento e é um exemplo disso. “Eu não sabia bater bola e nem corria direito. Mas hoje eu não me vejo mais sem o handebol. Também pelas amizades e pelas meninas.” Sua mãe, Cleide, conta que depois que a filha começou a treinar, “ela ficou mais expansiva, mais espontânea, mais sociável”.
Atleta profissional de handebol, Célia Costa conta que pediu para participar da Escola de Esportes em 2007, pois queria passar um pouco da experiência com o time da Metodista e com a seleção brasileira para os alunos. “Ao invés deles estarem na rua fazendo coisas que não são boas, eles estão aprendendo alguma coisa aqui. O objetivo não é formar atletas, mas cidadãos também, com boas condutas. E eu cobro isso deles”.
Segundo Rogério Toto, não é necessário saber jogar para participar. Dividido nos níveis de iniciação, intermediário e avançado, o projeto não coloca os pré-requisitos técnicos como foco. “A única diferença do nível avançado para o intermediário e o de iniciação é que no avançado o aluno participa de competições oficiais. Existe ali também o objetivo de aprimorar e dar oportunidade de formar atletas para o futuro.”
O coordenador enfatiza que a Escola de Esportes “é para todo mundo e é gratuita, mesmo para aquela criança que tem uma condição socioeconômica melhor. Entendemos que a diversidade, o convívio entre crianças de diferentes classes sociais, é importante para a formação cidadã”.
Fábio Faccio foi aluno do projeto e jogou pelas equipes de alto rendimento entre 1994 e 2000. Hoje atua como executivo de vendas na aviação comercial e afirma que são diversos os paralelos que podem ser traçados entre o esporte e a carreira profissional.
“Você se dedica por anos, com treinos e instrução dos técnicos para conseguir uma vaga no time ou uma oportunidade de fazer parte do elenco. Na vida pro fissional também. Quem vivencia e se dedica ao esporte quando jovem pode e deve entender com maior facilidade que a competição já faz parte de sua formação e que a carreira profissional é uma extensão das quadras.” A experiência “ajudou a me tornar o homem de bem e o profissional que sou hoje”.