Uma geração sem gentileza no século XXI
01/10/2012 10h50 - última modificação 01/10/2012 12h20
Gestos simples como um abraço ou um aperto de mão podem mudar o dia de uma pessoa. Foto: Gustavo Carneiro
Em tempos de individualismo, quem tem atitudes gentis e cidadãs é visto com estranheza
Desde os primórdios, o ser humano busca ser o mais forte, o mais rápido, o mais poderoso. Porém, muitas vezes acaba se esquecendo de outras questões humanas importantes, como a gentileza. A gentileza pode ser definida como a capacidade de perceber uma necessidade de alguém e (ou) retribuir algo que lhe foi feito, sem ser pedido.
Atitudes como ajudar uma senhora idosa a subir no transporte público, ser cordial no convívio urbano ou até mesmo conversar com uma pessoa que parece triste ou cabisbaixa são alguns exemplos de atitudes gentis que não estão mais tão presentes na rotina das pessoas. Ao contrário, quando praticadas podem até se tornar estranhas ao olhar de pessoas que não estão mais habituadas a ser amáveis.
Para a professora de Filosofia da Universidade Metodista de São Paulo, Suze de Oliveira Piza, o problema está vinculado ao individualismo. De acordo com Suze, vivemos em uma sociedade com discursos e práticas em que as pessoas se preocupam apenas consigo mesmas. “Temos um individualismo exacerbado, ao mesmo tempo em que não encontramos os indivíduos refletindo sobre si”, explica. Para a professora de Filosofia, esse tipo de postura impede que os indivíduos sejam pessoas plenas e altruístas.
Individualismo latente
Segundo Suze, a falta de gentileza e o individualismo são fatores que se agravam através do tempo. “Com a busca cada vez maior por status social e financeiro, as pessoas acabam deixando em segundo plano as relações afetivas para priorizar a relação com o dinheiro”, afirma.
Antigamente, ter uma postura gentil era algo normal dentro de uma sociedade onde os cidadãos se relacionavam mais uns com os outros. As crianças, de todas as classes sociais, brincavam nas ruas e todos conheciam seus vizinhos de bairro. Atualmente, a distância entre as pessoas está mais latente e muitos dos relacionamentos reais foram substituídos por contatos virtuais.
Para a pesquisadora, a tecnologia e outros fatores como o aumento da criminalidade e do trânsito nas grandes cidades dificultam a relação entre as pessoas. “Essa situação se torna normal a partir do momento que é aceita de maneira generalizada. Naturalmente não é desejável que isso ocorra. O ser humano poderia, e deveria, viver uma vida muito mais plena”, afirma Suze Piza.
Para construir uma sociedade mais justa, cidadã e gentil é preciso retomar antigos hábitos. Atitudes como abraçar alguém, elogiar um trabalho bem feito, dar bom dia ao porteiro do prédio, ajudar o outro sem esperar nada em troca, são maneiras práticas e efetivas de exercitar a gentileza em todos os locais.
Gustavo Carneiro