Iniciativas levam cultura para dentro das favelas
13/11/2012 13h29
Biblioteca comunitária, jornais e divulgação de músicos e poetas valorizam manifestaçõesartísticas dos moradores de comunidades em Minas Gerais e no Rio de Janeiro
É comum a associação de favelas a notícias sobre o crescimento da desigualdade social e ao tráfico de drogas, criando um estigma pejorativo entre os moradores, como se a comunidade inteira vivesse em função desse tipo de atividade. Felizmente, existem centenas de iniciativas que inserem a população em ações educativas e culturais.
Um exemplo é a proposta da ONG “Favela é Isso Aí”, que começou em 2004, com uma pesquisa da antropóloga Clarice Libânio. Em seu estudo, Clarice produziu um guia cultural das vilas e favelas de Belo Horizonte, onde cadastrou 740 grupos culturais nas comunidades da capital mineira. “Mapeei cerca de 7 mil artistas atuantes nas áreas de música, dança, teatro, artes plásticas, literatura e de mais manifestações artísticas”, conta. Segundo a antropóloga, hoje a ONG já tem estúdio comunitário próprio, com nove CDs gravados. Além do projeto artístico, a ONG conta também com uma parceria com a Rádio Inconfidência, onde programas de rádio de 15 minutos são veiculados aos sábados à tarde, com músicas e poesias produzidas pelos moradores das favelas de Belo Horizonte. Outros projetos relacionados incluem o “Banco de Memória”, onde são feitas as pesquisas sociais e culturais; o “Vendo ou Troco”, que incentiva o desenvolvimento do comércio local; o “Prosa e Poesia no Morro”, que é a editora especializada em lançamentos de textos de moradores das comunidades; e o “Núcleo de Áudiovisual”, que elabora vídeos para os artistas assessorados pela entidade, promove oficinas de desenho animado e documentário para adolescentes.
Ainda em Belo Horizonte, uma biblioteca comunitária também está disponível aos moradores do Bairro Jardim Leblon. O Projeto Biblioteca Comunitária começou com uma cooperativa de catadores de lixo que separavam os livros que seriam descartados e os colocavam à disposição da comunidade. “O espaço nos ajuda muito porque é o único lugar em que adultos e crianças podem ter acesso a livros no bairro”, afirma Gláucia Malaquias da Cruz, responsável pelo local.
Agência de Notícias das Favelas
No Rio de Janeiro, outra iniciativa que também ajuda as comunidades carentes é a “ANF – Agência de Notícias das Favelas”, a primeira agência de notícias de favelas do mundo, que atua na divulgação de informações diárias das favelas no site (www.anf.org.br) e de trabalhos artísticos por meio da produção de um jornal impresso bimestral.
Para Mariana Koury, responsável pelo projeto, esse tipo de ação é importante para que haja a democratização da informação das favelas, que ganham voz própria, sem intermediários.
Gustavo Carneiro