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Entrevista: Da viela para o asfalto

15/10/2012

12/11/2012 17h32

A socióloga Luci Praun, professora e coordenadora do curso de Ciências Sociais, morou por 12 anos da favela Vila Homero Thon, em Santo André. Foto: Gabriela Rodrigues

 

Vivemos num país onde a vista da periferia contrasta com os bairros estruturados. A socióloga Lucieneida Praun é professora e coordenadora do curso de Ciências Sociais na Universidade Metodista de São Paulo e morou por 12 anos na favela Vila Homero Thon, em Santo André. Ela fala sobre os problemas desse tioo de moradia e possíveis soluções para acabar com as favelas.

Espaço Cidadania: Qual é a definição para a palavra favela?

Luci Praun: No ponto de vista sociológico, nós podemos considerar a favela como um conjunto de moradias em condições de precariedade, tanto do ponto de vista da habitação, mas também das condições de infraestrutura. Nesse contexto se engloba tudo: saneamento, eletricidade, transporte e o acesso a serviços básicos como saúde e educação.

Espaço Cidadania: Quais os problemas sociais encontrados nas favelas?

Luci Praun: Primeiro é o próprio preconceito com quem vive na favela. Algumas empresas não contratam pessoas que moram nesses locais. Segundo, é a falta de urbanização, ruas estreitas, que impedem a passagem do caminhão do lixo. Muitas vezes o correio também não chega nos barracos, as pessoas precisam ir nas casas da avenida principal buscar as correspondências. Além disso, esses locais acabam virando um espaço onde o tráfico de drogas funciona livremente, pois até a geografia das favelas auxilia como esconderijo. Outro problema é a ação da polícia, que costuma ser violenta, sem fazer distinção entre moradores e bandidos.

Espaço Cidadania: Como funciona oconvívio social nas favelas?

Luci Praun: Como os barracos são muito pequenos, os moradores ficam pouco tempo dentro das casas e acabam se confraternizando mais na vizinhança – ao entrar em uma comunidade, é bastante comum ver muita gente circulando na rua. A vida se faz no espaço aberto e a fronteira entre o privado e o público fica tênue. Por um lado, isso cria laços entre as pessoas, mas por outro, há o incômodo da falta de privacidade.

Espaço Cidadania: Qual é a solução para acabar com o crescimento desse tipo de moradia?

Luci Praun: Tem que ter emprego. A desigualdade social gera a favelização. Quem mora na favela não gosta de morar lá, mas não há outra alternativa se não viver na rua. Um salário mínimo vale pouco mais de 600 reais, enquanto um aluguel está por volta de 700 reais. Muitas vezes ocupar um terreno vazio é a saída.

Espaço Cidadania: Como transformaras favelas já existentes em locais dignos de se viver?

Luci Praun: A favela é fruto da desigualdade social, então qualquer política que leve em consideração acabar comes se tipo de local significa atacar o problema da desigualdade social por completo. Entretanto, quando se fala em urbanizar uma comunidade, ou remover os moradores para outro lugar, normalmente o que se vê é a retirada daquela população para outra parte da cidade porque aquela área se valorizou demais. Alguns projetos de moradia popular são válidos, mas outros precisam ser revistos. Os prédios que se erguem nos terrenos antes ocupados por barracos são extremamente precários, com materiais de baixa qualidade e os apartamentos são minúsculos. É preciso pensar em como tirar as pessoas do barraco, desde que seja de uma maneira decente e respeitosa.

 

Giovanna Verrone

 

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