Evento sobre direitos humanos traz a ditadura militar e a tortura à discussão
30/08/2012 10h10 - última modificação 30/08/2012 11h30
Em seu segundo dia, a 3ª Semana de Educação em Direitos Humanos abordou um tema delicado e diante do qual muitas pessoas preferem se calar: ditadura militar e tortura. Mas não Rose Nogueira, presidente do Grupo Tortura Nunca Mais, e Lúcia Maria Salvia Coelho, psicóloga e presidente da Sociedade Rorschach de São Paulo.
Alguns anos atrás, Lúcia Maria teve a oportunidade de reencontrar antigas companheiras de cela e propôs que o grupo se reunisse semanalmente para falar sobre o assunto. “Algumas não quiseram participar, porque era uma experiência dolorosa. Mas com a discussão, fomos nos fortalecendo.”
Havia dois pontos comuns entre todas, segundo ela. “O silêncio. Da vítima, do carrasco, da população em geral, que não queria ouvir mesmo que tentássemos falar. Evitavam o assunto, dizendo ‘para que falar agora?’. Ou então criticavam e se afastavam nos chamando de guerrilheiras. Esse silêncio é perigoso para a vítima e para a sociedade e confortável para o torturador.” O outro diz respeito à solidariedade, “uma situação em que os torturadores falharam por não terem previsto. Isso dava mais coragem para a gente”.
Lúcia Maria destaca ainda que “a memória não elabora esse fato [tortura]. Defendo um atendimento psicológico para essas pessoas [presos políticos que foram torturados] porque sem isso, você produz ‘saltos’ e fica sempre à mercê da invasão de pesadelos, de somatismos, como dores de cabeça constantes e outras doenças, e de um sentimento de culpa”. Para ela, “não há heroísmo, porque mesmo heróis sentiam culpa por estarem vivos”.
“Se tem uma coisa em que os torturadores tinham razão é que a tortura não passa, não passa, não passa...”, afirmou Rose Nogueira, que falou publicamente sobre o que sofreu após 26 anos. “Eu estava dando uma palestra e fui falando. Não conseguia parar de falar até que comecei a chorar na frente de 600 pessoas.”
A jornalista traçou diversos paralelos com a história do Brasil, desde a época do Império, comentando que sempre existiram movimentos de resistência, como a Balaiada, a Revolta dos Alfaiates, e mais recentemente o conflito na reserva Raposa-Serra do Sol (RR).
E finalizou: “Muito do que vivemos hoje é herança da escravidão, do período de monarquia. A ditadura não é um fato histórico apenas, mas é um processo. E nós fazemos parte dessa história”.
A 3ª Semana de Educação em Direitos Humanos prossegue nessa quinta-feira, confira a programação.