My Fun City: rede social avalia serviços públicos da cidade
24/04/2012 12h35 - última modificação 25/04/2012 09h56
Marina Olegario
Criado em parceria com as universidades norte-americanas de Harvard e Massachusetts Institute of Technology (MIT), juntamente com a ONG Movimento Mais Feliz, o aplicativo My Fun City faz uso da colaboração de internautas para apontar a qualidade dos serviços e equipamentos públicos da região de uma cidade e, automaticamente, criar um banco de informações sobre as mesmas, determinando as condições de vida naquela localidade.
O My Fun City é gratuito e propõe que os cidadãos avaliem itens como sinalização, atendimento à saúde, oferta cultural, árvores e canteiros nas vias, linhas de ônibus, área de lazer, conservação das calçadas, policiamento, lixeiras, poluição sonora e poluição visual. Cada serviço público recebe uma nota de satisfação e os dados podem ser acessados pela prefeitura da cidade avaliada. “Queremos que essas informações sirvam de base para que as políticas públicas das regiões sejam efetivadas. Estamos preocupados em conectar o aplicativo com organizações e governos que estão pensando na administração desses municípios”, explica Alexandre Sayad, diretor geral do My Fun City. Ele conversa com o Espaço Cidadania:
Espaço Cidadania: Como surgiu o My Fun City?
Alexandre Sayad: Dentro do Movimento Mais Feliz nos já fazíamos eventos de captação de recursos. Quando fomos para o MIT, voltamos com a ideia de que a cidadania tinha que passar para o digital. Tentamos colocar a nossa inteligência e recursos para desenvolver produtos para a internet que tinham a ver com cidadania. Com isso, criamos o My Fun City, uma rede social com interesse público. Buscamos parceiros tecnológicos, investidores e montamos uma empresa social que faz parte do famoso setor 2.5, uma tendência que agora está muito forte, pois é uma companhia de caráter social que reverte pelo menos 50% dos lucros para o próprio investimento.
Espaço Cidadania: Como funciona o aplicativo?
Alexandre Sayad: É o mesmo princípio de uma rede social, só que é uma comunidade geolocalizada, ou seja, o usuário faz um check in, no Iphone ou no Ipad e já é localizado pelo Google Maps. A partir daí, o internauta irá responder algumas perguntas em onze áreas diferentes e cada uma delas deverá receber uma avaliação entre péssimo e excelente. Tem questões ligadas ao verde, ao lixo, trânsito, poluição sonora, poluição visual e rede de esgoto. É possível visualizar quem está perto da sua região, acompanhar a média de estatística das respostas daquela área, escrever comentários e anexar fotos. No fundo, é uma rede social que gira em torno da cidadania. Em São Paulo, por exemplo, estamos fazendo acordos com redes de organizações não governamentais que trabalham a questão das cidades e da gestão pública. Também disponibilizamos os dados para as prefeituras.
Espaço cidadania: A plataforma permite uma aproximação entre as comunidades e a sociedade civil?
Alexandre Sayad: Sim, e acho que essa questão vem amadurecendo no Brasil há uns 15 anos - desde o nascimento do terceiro setor e o despertar de um senso de comunidade, de participação na administração pública, que vai além do voto como ferramenta de escolha. No fundo, a política é bem mais complexa do que simplesmente eleger governantes, ela envolve com profundidade as questões locais – afinal, as esferas federal ou estadual só existem em função da esfera local. Mais do que aproximar os cidadãos da política ou das ONGs, o objetivo dessa plataforma é fazer com que as pessoas entendam que é na micropolítica que as coisas acontecem. Não é à toa que cidadania e cidade têm o mesmo radical.
Espaço Cidadania: Qual a importância de trabalhar cidadania junto com tecnologia?
Alexandre Sayad: Quando eu fui para o MIT senti que não é nem o futuro, mas sim o presente da cidadania deve passar pela questão tecnológica. Não tem muita escapatória afinal, se ignorarmos essa plataforma, que envolve direitos e deveres dos cidadãos, vamos abrir uma brecha enorme para que pessoas que não nos representem tomem espaços e nada mude.
Espaço Cidadania: Quais as próximas atualizações da ferramenta? Existem parcerias?
Alexandre Sayad: Estamos melhorando a navegação, a interface e as possibilidades do aplicativo. Outra ferramenta em desenvolvimento é a possibilidade de que o usuário mais ativo de cada região possa se tornar “líder da rua” e mediar discussões e petições junto ao setor público. Sobre parcerias, quanto mais organizações estiverem com a gente, melhor. O objetivo é estreitar os laços com a sociedade civil.