Escrever: Capricho e Relaxo
12/02/2008 16h46
Talvez o assunto abaixo entedie quem não é do ramo. Mas não resisti a publicar essa pequena reflexão sobre a minha profissão.
Lembrando aqui do poeta Paulo Leminski eu diria que escrever é um capricho. Escrever é um relaxo. Mas escrever profissionalmente passou a ser ,nesses tempos de bom mocismo, uma atividade asséptica, eivada de regrinhas , manuais, métodos. No jornalismo , principalmente, escrever virou uma técnica sem motivação, sem inspiração, sem personalismo. E o personalismo é bom para a escrita, mesmo que jornalística ? Ora pois, mas não vivemos festejando justamente aqueles poucos que ainda sabem escrever em nossa combalida mídia impressa ? Quem é que agüenta ficar lendo direto a revista “Veja” que na sua sanha de adjetivações e “achismos” parece ser escrita por uma única pessoa, alma rancorosa e neo-liberal a serviço do deus – mercado...
Mas não vamos aqui ficar perdendo tempo em falar da “Veja”. Estava falando que escrever é um capricho, um relaxo. Um capricho que vira relaxo quando as pessoas que o fazem profissionalmente executam a tarefa entre bocejos não vicejando intelectualmente em ambientes refrigerados que mais se parecem com uma agência do Citibank do que com uma redação. Todos devidamente engravatados . As moças espremidas em tailleurs e roupinhas caretésimas pois parece que nosso jornalismo agora é feito para agradar em primeiro lugar os banqueiros e industriais. No jornalismo sou sim aquele amante à moda antiga. Do tipo que mandava flores e falava alto nas redações barulhentas , cheias de papel carbono e máquinas de escrever que metralhavam palavras entre risos, gestos largos, manifestações de afeto e ódio sempre transparentes, garrafas térmicas com café e copinhos de plástico, cigarros e pigarros enfumaçando o ambiente. Sim , um parque dos dinossauros. Hoje quando me posto diante de uma neo –redação me vem um desalento profundo e não posso fugir de uma constatação obvia : nosso jornalismo mudou pra pior ao contrário do que dizem alguns óbvios como Gilberto Dimenstein que é um bom símbolo dessa assepsia careta dos tempos “mudernos”. Também não vou perder tempo “gilbertiando” meu texto mas lhes garanto que nosso jornalismo precisa cada vez mais de tipos polêmicos e barulhentos como Joel Silveira, Samuel Wainer, David Nasser , Rubem Braga, Hamilton Almeida Filho , Marcos Faerman, Antonio Maria e outros exemplos colhidos a esmo e menos de ”gilbertinhos”, “vejeiros”, “abrilianos” e almofadinhas em geral.
Não se bebe , não se ri , não se proseia ,não se fala alto nas novas redações. Impera a cultura do telefone, do e-mail, do “google journalism” .Cresce a cultura do chantilly , da superficialidade, da boçalidade, das celebridades no atacado que nos enchem o saco no varejo.
Nunca achei nada demais chegar em um hotel e ao preencher a ficha de entrada colocar a profissão “jornalista”. Mas tinha gente que se orgulhava. Hoje além de não me orgulhar , me envergonho. Tentei colocar já “escritor” ou “diretor de tv “ mas me soou falso. Primeiro porque o escritor que mora em mim não vive de seu ofício. O diretor de tv e roteirista paga as contas faz tempo mas ao colocar um desses cargos eu me sinto inconscientemente traindo minha profissão. Mas do jeito que está a minha profissão ela já não me teria traído há muito tempo? Respostas podem ser postadas no escaninho dos comentários. Com direito a café de garrafa térmica feito nas redações imemoriais.
Fonte: Blog Todo Prosa (http://todoprosa.blogspot.com/2008/02/escrever-capricho-e-relaxo.html)