Painel debate a influência das grandes corporações de mídia na religião e cultura
12/08/2008 13h14 - última modificação 12/08/2008 14h49
O primeiro painel temático da CMRC, realizado nesta terça-feira (12/08), debateu a questão da interface entre corporações, mídia e cultura. O prof. Dr. Azonzek Ukah, do Departamento de Estudos Religiosos da Universidade de Bayreuth, Alemanha, apresentou sua pesquisa “Banindo Milagres: política e políticas de Radiodifusão Religiosa na Nigéria, apontando o significativo cartel e monopólio que o governo Nigeriano detém sobre os meios de comunicação, suprimindo as vozes das organizações religiosas naquele país. “Para o governo nigeriano, as religiões podem criar situações que causam problemas, ameaçando o seu poderio”, revelou o prof. Ukah. “Há um contrasenso, pois a liberdade religiosa é protegida por lei, mas na prática é restrita pelo governo, impedindo que indivíduos expressem sua religião”. Segundo o professor Ukah, 213 dos meios de comunicação são controlados pelo governo e 78 são privados. “Por deter a maior parte da mídia, o governo faz as leis e controla a forma como são implementadas”. O professor explicou que esta situação acaba tendo uma influência nas questões de violência. “As minorias são dominadas e vitimadas por esta situação e há necessidade de que as leis sejam reformuladas”, enfatizou.
O grande poder de influência de governos e corporações foi o foco da discussão pela manhã. A profa. Sarah M. Pike, do departamento de Estudos da Religião, da Universidade do Estado da Califórnia (EUA), apresentou seu estudo sobre a Cultura Corporativa Jovem e os Deuses da Natureza. “A chamada Religião da Natureza, invocada por alguns filmes e séries infanto-juvenis, deixarou alguns americanos, protestantes conservadores preocupados”. Sarah mencionou a série Capitão Planeta, Bússola de Ouro e Harry Potter, que apresentam elementos que supervalorizam os animais e o meio ambiente como elementos acima do homem, suprema criação de Deus, segundo os cristãos conservadores. “A mídia visual, em especial nos anos 90, afetou a opinião do público em relação à natureza, criando adoradores da terra”, revelou a professora.
Outra grande “corporação” nos meios de comunicação, segundo o prof. dr. Leonildo Silveira Campos, da Universidade Metodista de São Paulo, é representado pelos grupos neopentecostais que, a partir dos anos 70, consagraram seu poderio na mídia 20 anos depois. “A inserção pentecostal criou um mal-estar nos empresários que controlam a mídia, em especial a Rede Globo”. O prof. Leonildo apresentou a pesquisa “Os Novos Pentecostais Brasileiros na Mídia - Visibilidade, Desafios e Escândalos", traçou um breve panorama sobre a concessão da mídia no Brasil e como então esses grupos tiveram acesso ao controle dos meios de comunicação. “A concessão dos meios de comunicação no País se dá basicamente por acordos políticos, daí os grupos religiosos estarem tão interessados em ter seus representantes no parlamento”. Segundo o professor, uma das mais recentes legislaturas teve cerca de 63 deputados federais evangélicos, número que decaiu para 35, após sucessivos escândalos de corrupção envolvendo alguns nomes desse grupo. “É fato que as denominações pentecostais estão presentes na mídia e na política do país”, completou.
por Giana Zeferino