"O segredo está em sonhar"
Por Renata Fujie

Foto: Renata Fujie
Descontraído, Paulo Rogério Tarsitano mostra um de seus mosaicos na sala onde dirige a FAC. A arte é um hobbie antigo.
Publicitário nascido em Santo André, no ABC Paulista, Paulo Rogério Tarsitano é diretor da Faculdade de Comunicação (FAC) da Metodista de São Paulo desde 2001. É prata da casa, como dizem alguns, formou-se na instituição em 1978. Tarsitano também é mestre em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo e doutor em Comunicação Social pela Metodista.
Ele conta alguns momentos marcantes em sua carreira e de antemão aconselha: "Você tem que estar sempre vendo, criando, inovando, pesquisando. Se sentou, parou, dançou!". Como hobbie gosta de criar mosaicos, há diversas obras em sua sala. É uma maneira de espairecer e diminuir o estresse do dia a dia.
JBCC - Qual foi a motivação para fazer mestrado e doutorado? Sempre sonhou ser professor e seguir estudando?
Paulo Rogério Tarsitano: "Quem tá na chuva é pra se molhar", se você entra numa carreira docente, é imprescindível que você faça uma pós-graduação. Você começa a estudar e não tem vontade de parar... Quando eu fazia a faculdade, eu jamais pensei que um dia seria professor. Aliás, já trabalhava em agência de propaganda. Fiz um caminho inverso: comecei a trabalhar em agência, gostei e sabia que tinha que aprender mais, então eu fiz a faculdade, era moleque, tinha 17 anos. Quando eu tava estudando, nunca me passou pela cabeça que eu seria professor e muito menos que um dia eu iria ser o diretor da faculdade em que estudei.
JBCC - O senhor tem um longo histórico dentro da Universidade Metodista, como docente, coordenador de curso, e atualmente diretor da FAC. Qual foi o momento mais marcante durante este período?
Paulo: Agora em fevereiro completo 34 anos [de trabalho na Metodista]. Um dos momentos marcantes foi quando eu passei no vestibular, fiquei tão feliz, era o que eu queria, né? Depois foi quando eu ganhei o 1º lugar na categoria Meio Ambiente no "3º Concurso Universitário de Campanhas Publicitárias da Associação dos Profissionais de Propaganda". Foi o primeiro prêmio que a Metodista ganhou na área da Comunicação, em 1976. Esse foi um momento marcante, porque nós éramos uma escola nova, interiorana... E nós fomos lá e demos um banho... Surpreendemos até a própria comissão julgadora. Vivi muita coisa aqui. Minhas filhas fizeram colégio aqui, as duas fizeram faculdade aqui, também dei aula para os filhos dos meus colegas de classe. Outro momento foi o dia em que eu defendi a minha tese de doutorado, e quem estava na minha banca era o professor Marques de Melo.
JBCC - Como é conciliar as aulas com o trabalho e os compromissos de um diretor?
Paulo - Eu dava aula, né? Não consigo mais dar aula, e essa é uma frustração. Se eu tivesse que dar uma aula hoje à noite, eu juro por Deus, não teria condições físicas... O organismo está cansado, mas eu adoro sala de aula. É a mesma coisa que você tirar um ator do palco e mandar ele para uma sala, para fazer a gestão do teatro. Não me considero artista, mas é legal estar com o aluno, ter esse contato. Mas eu gosto muito do trabalho que faço aqui, gosto mesmo, porque eu acabo ajudando a dar condições para os meus colegas fazerem isso. Eu dou uma disciplina uma vez por semestre no programa de pós-graduação, mas não vejo a hora de arrumar um tempo, me organizar e voltar a dar aula, dar palestra, estar mais próximo. É muito bom conviver com os alunos, é uma forma de você se alimentar da juventude, uma coisa meio "vampiresca" (risos), como se você sugasse um pouco daquela vitalidade, da energia; estando junto com os alunos, você não envelhece, a cabeça não envelhece, o que é muito bom.
JBCC - Qual a sua visão sobre os atuais cursos da FAC e dos calouros?
Paulo - Os alunos têm uma excelente formação, eu vejo que os nossos alunos são bons, a gente recebe um material humano de muito boa qualidade e a maioria está muito bem informada, eles sabem o que querem, são questionadores, críticos. Hoje a gente tem uma infraestrutura melhor, com a redação multimídia; com a Agicom (Agência Experimental de Comunicação); uma metodologia inovadora, bem nova, inovadora mesmo, que é a da integração interdisciplinar; os PIs [Projeto Integrado], que são amados e odiados [pelos alunos], no começo ele é muito odiado, depois ele é muito amado, porque o aluno sente e comprova que ele sabe fazer, ele sai muito mais preparado. O nosso aluno é bom, ele chega bom e sai melhor ainda. Ele tem um perfil, uma característica que é histórica, é aquele que procura, luta, batalha, vai atrás da informação. As coisas não caem do céu para ele, porque são meninos e meninas que têm essa característica de batalhar mesmo. Acho que é por conta da região, da formação, da história dos seus pais... Eu acho que os nossos alunos dão mais valor ao ensino e isso faz toda a diferença.
JBCC – Como definiria seu perfil? O senhor diria que é empreendedor?
A gente tem que estar ligado e "antenado" em tudo o que acontece. Acho que a gente tem que ter uma gestão criativa; particularmente, penso que o segredo está em sonhar. Quando você para de sonhar, você começa a morrer. O mundo gira, tem milhões de coisas novas acontecendo, surgindo, e na comunicação é tudo muito rápido. O Brasil mudou em uma década, mudou mais do que qualquer país. Houve uma grande mudança econômica, social e política, saímos de uma condição miserável, abaixo da linha da pobreza: 19 milhões de pessoas saíram para a classe C, que pode, quer e consome; e não consome só em supermercado, está estudando.
JBCC - Qual a sua relação com a Expocom (Exposição da Pesquisa Experimental em Comunicação) ?
Paulo - Essa também é uma experiência muito boa, quando nós montamos a Expocom e ficamos organizando por 14 anos seguidos, foi uma oportunidade de aprendizado grande: conhecer a realidade brasileira e perceber que o Brasil é muito mais do que São Paulo e Rio. Depois tive a felicidade de implantar a Expocom nos países do Mercosul: no Uruguai, na Argentina e na Bolívia. A primeira Expocom na Bolívia foi em Santa Cruz de la Sierra, uma coisa emocionante, muito marcante na minha vida, porque eu vi aqueles meninos e aquelas meninas em um país muito mais pobre que o nosso, com muitas dificuldades econômicas, sociais, tecnológicas, um país multifacetado culturalmente, porque são várias tribos muito diferentes umas das outras. Assisti a apresentações de entrega dos prêmios e foi um negócio bárbaro, inesquecível, ver a alegria deles.
JBCC - Quais são os projetos atuais na Metodista?
Paulo - Resolvi concentrar a minha energia na Metodista, é opção minha. Eu gosto da Metodista e quero vê-la cada dia mais forte. A TV Web está saindo, está nascendo a TV da faculdade, funcionando com grades e programas, de uma forma muito democrática, podendo receber conteúdo produzido pelos nossos alunos.
JBCC - Qual é a sua participação na Cátedra Unesco/Metodista?
Paulo - Como diretor da FAC, estou envolvido em tudo. Eu gosto muito do professor Marques de Melo (diretor da Cátedra). Todo evento da Cátedra que fala dos pioneiros da Comunicação, sempre estou participando.