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"As Relações Públicas na contramão"

Há 32 anos Cicília Peruzzo pesquisa a aplicação das Relações Públicas no terceiro setor e sua relação com o capitalismo

Por Marina Finco

Em sua saleta bem no fim do corredor, Cicília Maria Krohling Peruzzo, professora do Programa de Pós-Graduação em comunicação social, Póscom, e do curso de Relações Públicas da Metodista, me recebeu para uma entrevista. Calma e discreta, como boa capixaba que é, tem olhos azuis claríssimos, que não se apagam atrás dos óculos. Ela respondeu a todas as perguntas sem hesitar.

"Comecei a confrontar, tem mais alguma coisa entre a prática e a teoria"

Nem parece que recentemente a pesquisadora foi premiada pela Associação Brasileira de Relações Públicas, ABRP, com o troféu Cândido Teobaldo, destinado a profissionais que dedicam a vida à consolidação do campo da comunicação, no âmbito acadêmico e profissional. Cicília formou-se Relações Públicas pela Faculdade de Comunicação Social Anhembi, no Espírito Santo, em 1978. Ingressou na primeira turma de mestrado em Comunicação Social pela Metodista de São Paulo, em 1979, fazendo parte assim da implantação do PósCom. Titulou-se em 1981.

"Eu morava no Espírito Santo, na época, e trabalhava na Universidade Federal e fui liberada pra fazer o mestrado e então… Vim parar aqui na Metodista [risos]… O curso estava começando, tudo era novo, tanto para a instituição quanto para nós, alunos. Foi um momento muito rico". Cicília conta que foi muito bom poder voltar a estudar em tempo integral naquele momento e que a perspectiva de uma formação com diferencial, como a pós-graduação, abria novos horizontes.

Cicília lembra que na época da escolha do lugar para cursar o mestrado, havia apenas quatro cursos de pós-graduação no país. Optou pela Metodista porque já tinha morado e trabalhado em São Paulo, então conhecia a cidade, e pelo reconhecimento da Instituição pela Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento Pessoal de Nível Superior), órgão do governo federal que disponibiliza bolsas de estudo para programas como esse.

Autora de livros como "Comunicação nos Movimentos Populares" e "Televisão comunitária: dimensão pública e participação cidadã na mídia local", a autora dedica-se especialmente aos estudos da comunicação comunitária e popular, da mídia regional e local e suas interfaces no processo de ampliação do exercício da cidadania.

Outro alvo de suas pesquisas são os temas de Relações Públicas com inserção no terceiro setor e sua relação com o capitalismo. "Enquanto estava fazendo a graduação, eu trabalhava numa multinacional, então eu relacionava bastante do que eu aprendia em sala de aula com a prática que eu tinha no trabalho. E comecei a confrontar: tem mais alguma coisa entre a prática e a teoria", disse Cicília. Ela conta que resolveu estudar para conhecer a fundo como funcionava essa "coisa": "Foi aí então que eu comecei uma leitura crítica das Relações Públicas."

"O que parecia impossível caiu: Hoje existe uma preocupação das empresas com o público "

Sua tese de mestrado, que recebeu proposta para publicação no mesmo dia em que foi defendida, tratou sobre as Relações Públicas no modo de produção capitalista. "Ao mesmo tempo em que eu fiz, nessa época, um desvendamento dessa questão, comecei a perceber, talvez pelo momento histórico que a gente vivia, que poderia haver outras perspectivas, não apenas comprometidas com o capital. As Relações Públicas na contramão."

Ela acredita que o papel das Relações Públicas é bastante diversificado. "É preciso reconhecer um trabalho na perspectiva de ajudar as empresas e também o terceiro setor". Cicília diz que nos últimos anos houve uma grande mudança: "o que parecia impossível [as classes subalternas serem ouvidas] caiu: hoje existe uma preocupação das empresas com o público".

Cicília também é doutora em Ciências da Comunicação pela USP, formada em 1991. Com relação a sua carreira, ela disse que aconteceu sem muito planejamento. "Foi acontecendo, sabe? [risos], fui estudando e trabalhando". Como seguiu a carreira acadêmica, diz que é sempre necessário estar estudando e se atualizando. "Não dá pra fugir da continuidade".

Para Paulo Ferreira, coordenador do curso de Relações Públicas da Metodista e mestre em comunicação, Cicília é uma profissional muito querida. "A gente abre e fecha o curso com chave de ouro: ela recebe os alunos no primeiro ano, caminha com eles e depois, no último ano, ela orienta os TCCs".

Cicília foi presidente da Intercom - Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação, de 1999 a 2002, e coordenou o Grupo de Trabalho Comunicação e Culturas Populares na mesma entidade. Foi vice-presidente da Lusocom - Federação Lusófona de Ciências da Comunicação (2001 a 2003). Lecionou na Universidade Federal do Espírito Santo e na Associação Educacional de Vitória/FAESA. É a fundadora do Núcleo de Estudos de Comunicação (NEXO) na UFES e coordena o GT Comunicación Popular, Comunitária y Ciudadana da Alaic - Asociación Latinoamericana de Investigadores de la Comunicación. Como membro da Abrapcopr - Associação Brasileira de Pesquisadores de Comunicação Organizacional e Relações Públicas - participa do GT Relações Públicas Comunitárias, comunicação no Terceiro Setor e responsabilidade social.

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